CHEGOU, HOJE, O SANTOS F. B. C.
A grandiosa recepção que foi feita à embaixada
Arthur Friedenreich foi carregado em triunfo
O GRANDE EMBATE DE AMANHÃ
Antes da hora marcada para a chegada do "Itapé", já notavam-se no cais do porto da capital, além de autoridades civis e militares, grande número de desportistas e comissões de todos os clubes e ligas desportivas de Porto Alegre.
É AVISTADO O "ITAPÉ"
A grande massa de desportistas que se comprimia no Cais do Porto, avista, a seguir, o "Itapé" quando a nave da Costeira fazia volta da Correção.
Na proporção que o "Itapé" ia se aproximando, ouviam-se vivas ao Rio Grande e a São Paulo.
FRED É AVISTADO
O paquete "Itapé" ainda não tinha largado os ferros e já os curiosos tinham avistado a simpática figura de Fiedenreich, que foi vivado pelos presentes.
A BORDO
Logo que o vapor atracou, a delegação do Santos recebeu o abraço de boas-vindas das altas autoridades e elevado número de desportistas.
OS PRESENTES
Entre a massa de pessoas que estava esperando o vapor que conduzia a missão do Santos F. B. C., notamos as seguintes autoridades e desportistas: Major Carlos Guasque de Mesquita, assistente militar do Governador do Estado, representando o General Flores da Cunha; Major Alberto Bins, prefeito da capital; Dr. Oscar Dias Campos, presidente da Federação Rio Grandense de Desportos; Sr. José da Silva Martins, presidente da Amgea; toda a diretoria e membros da Associação dos Cronistas Desportivos; presidentes do Internacional, Grêmio, Força e Luz, Cruzeiro, São José, Porto Alegre, numerosos desportistas, representantes dos clubes náuticos da capital e inúmeras senhoras e senhoritas.
O nosso representante, logo após o desembarque, abraçou em nome desta folha, o Dr. Paulo Moura, chefe da embaixada, fazendo os melhores votos por uma feliz estada entre nós.
FRIEDENREICH CARREGADO EM TRIUNFO
Mal "El Tigre" tinha pisado o solo porto-alegrense e já os presentes, numa demonstração de cordialidade e simpatia o abraçaram, carregando o grande centroavante brasileiro em triunfo.
PARA O MAGESTIC
Em automóveis, amissão rumou para o Magestic Hotel, onde ficou hospedada.
Desde a sua chegada a missão tem recebido numerosas visitas, notadamente da colônia paulista aqui radicada.
O EMBATE DE AMANHÃ
Finalmente o público da metrópole gaúcha apreciará amanhã a primeira exibição do valoroso quadro do Santos F. B. C.
As credenciais com que vem precedido o afamado quadro paulista fazem crer que a partida de amanhã terá um caráter sensacional.
Team composto de elementos de alto valor técnico, muito bem treinado, está em condições de oferecer ao público uma ótima exibição do verdadeiro foot-ball.
Sob o comando do grande Arthur Friedenreich, presenciaremos as manobras táticas, seguras e matemáticas da esquadra bandeirante.
O embate está destinado a marcar mais uma página brilhante no foot-ball nacional.
—
Vai arcar em condições de oferecer [...] de defender o bom nome do foot-ball gaúcho, a valorosa esquadra do Sport Club Internacional.
Toda a vez que os colorados recebem essa incumbência, a sabem cumprir com denodo e galhardia.
Bem raro tem sido o clube nacional ou estrangeiro que nos tem visitado e que tenha conseguido os louros da vitória sobre o "onze" local.
Os rapazes da jaqueta rubra, nessas ocasiões, compenetrados do dever, jogam com dupla vontade e não medem sacrifícios nem esforços para a desimcumbência honrosa da missão lhes foi confiada.
Assim, o público de Porto Alegre, está plenamente convencido de que os valorosos rapazes do Internacional que defenderão as cores do foot-ball gaúcho, saberão lutar com ardor e cavalheirismo para a conquista da vitória.
—
A secretaria do Internacional distribuiu a seguinte nota oficial:
"A direção técnica do Sport Club Internacional dá abaixo o quadro que disputará amanhã com o Santos F. B. C., de Santos, São Paulo:
Penha; Poroto e Risada (capitão); Garnizé, Andrade e Levy; Floriano, Tupan, Mancuso, Darcy e Prestes.
Substitutos: Natal, Marreco e Chagas.
O segundo quadro, que jogará com o segundo do Grêmio Sportivo Força e Luz, em preliminar do match acima, é o seguinte:
Harry; Cabrito e Sady; Zé, Faeco e João; Tijolada, Arteche, Segismundo, Dirceu e Carlos.
Substitutos: Valdo, Turibio, Simão, Álvaro e Villasboas.
— De acordo com a comunicação do Grêmio Sportivo Força e Luz, o seu segundo quadro será formado por: Nininho, Amado, Kessler, João, Paulista, Juca, Ivo, Vanzetto, Faccin, Gilio e Apparicio.
Substitutos: Castro, Zebú e Dinga.
Estes jogadores deverão fardar-se às 13 horas, no campo do Força e Luz, seguindo incorporados para o estádio do Internacional.
— A V. F. R. G. S. terá trens da linha da Tristeza, especialmente até à rua José de Alencar, dispondo-se a fazê-lo correr de 15 e 15 minutos em caso de necessidade.
—
Para o encontro de amanhã, a diretoria do Internacional tomou as seguintes deliberações:
1º) A entrada para o campo será feita pelos portões n. 1 e 2 — Gerais, 3 — Pavilhão, 4 — Pavilhão dos sócios.
À saída serão abertos, os de n. 5 e 6.
2º) No pavilhão dos sócios só será admitida a entrada dos sócios efetivos que possuírem as suas respectivas cadernetas com o recibo definitivo de maio de 1935 e os sócios contribuintes mediante apresentação do recibo de maio de 1935; as exmas. famílias dos sócios — compreendidas — filhos menores de 15 anos, filhas solteiras e esposa; os jogadores inscritos, autoridades, portadores de ingressos com indicação — portão n. 4 e portadores de ingressos com indicação — portão n. 4 e portadores de permanentes.
Importante — Como até a presente data ainda não foram organizados os quadros dos filhores para este ano, não terão direito à entrada grátis os infantis que tenham disputado pelo S. C. Internacional nos anos anteriores.
Pede-se encarecidamente aos srs. sócios munirem-se de suas credenciais e não se fazerem acompanhar por pessoas estranhas.
3º) Os menores quando não acompanhados por pessoas que se destinarem ao pavilhão terão entrada pelos portões das gerais n. 1 e 2.
4º) Dentro do gramado só será permitida a entrada das autoridades da F. R. G. D., AMGEA, jogadores e reservas, diretores técnicos e massagistas dos clubes disputantes e os portadores de distintivos das comissões e da diretoria do clube.
A direção desse serviço está a cargo do Sr. Edelberto Mendonça.
Direção técnica — Tenentes Oscar Parrot e Mario Abreu.
5º) Direção geral — Presidente Sr. Cícero Ahrends.
Representante junto à missão visitante — Sr. Manoel Carriconde.
Fiscais internos — Srs. Torres Balbão, Jarbas D. Costa, Iracy Salgado Freire e Armando Silva.
Comissão para o portão n. 1 (gerais) — Srs. Hoche de Barros e Armando Ditadi.
Comissão para o portão n. 2 (gerais) — Srs. Armando de Gesú e Euridice de Mattos.
Comissão para o portão n. 3 (pavilhão) — Srs. Lino Hoffmann e Léo Birnfeld.
Comissão para o portão n. 4 (pavilhão dos sócios) — Srs. Briareu A. Centeno, Willy Teichmann e Gilberto Lahorgue.
Direção geral dos portões e bilheterias — Srs. Heitor Muller Pereira, Solon Montenegro e Augusto Teixeira.
As comissões acima serão auxiliadas por parte do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, pelos srs. Newton Degrazia, Ernesto Sartori, Manoel Loff Jr., João Daudt, Acélio Antunes Daudt, Aracy Silva, Cecílio Gomes e Reynaldo Mutti.
As pessoas indicadas para as diversas comissões serão reconhecidas pelo distintivo que trarão à lapela e deverão se achar no Estádio dos Eucaliptos às 12 horas.
Convites só serão expedidos às autoridades federais, estaduais e municipais.
Não haverá entrada de favor.
Preços — Pavilhão, 7$000; gerais, 5$000; senhoras e menores, 5$000.
Entradas à venda amanhã, das 9 horas às 11,45, no Café Nacional, rua dos Andradas; Café Colombo, rua dos Andradas; Café Nacional, praça da Alfândega e no próprio estádio (1 bilheteria).
Os portões e demais bilheterias do estádio abrir-se-ão às 12 horas em ponto.
—
O horário dos jogos de amanhã, será o seguinte:
2º do S. C. Internacional x 2º do Grêmio Sportivo Força e Luz — às 13,45 horas.
S. C. Internacional x Santos F. B. C. (Santos-S. Paulo) — às 15,45 horas.
— A Casa Foernges (joalheria à rua dos Andradas) oferecerá uma taça para o vencedor do jogo — Internacional x Santos F. B. C.
O quadro do Santos para amanhã
É o seguinte o quadro do Santos F. B. C. que vai enfrentar amanhã o "onze" colorado:
Cyro
Badú-Meira
Martelette-Ferreira-Jango
Sacy-Morão-Fred-Seixas-Junqueirinha
Biografia dos jogadores do Santos F. B. C.
CYRO — goleiro efetivo. 20 anos, paulista, joga no Santos desde 1934. Iniciou no segundo quadro, substituindo Atié no final da temporada de 1934. É reserva da seleção paulista.
NEVES — zagueiro direito, 26 anos, paulista, jogava pela Portuguesa. Este é o primeiro ano que joga pelo Santos F. C., é campeão brasileiro de 33.
BADÚ — zagueiro esquerdo, 27 anos, carioca, ex-defensor do Botafogo F. B. C. Atua no Santos desde 33.
MARTELETTI — médio direito. 25 anos, paulista, integrante do selecionado paulista de 1935.
FERREIRA — centro-médio, 19 anos, paranaense. É o primeiro ano que joga pelo Santos. Ex-integrante da seleção do Paraná.
JANGO — 20 anos, médio esquerdo, paranaense. Jogaor da seleção do Paraná. É o primeiro ano que joga no Santos F. B. C.
SACY — Extrema direita, 20 anos, paulista, ex-jogador da Portuguesa. Já atuou no selecionado paulista.
MORAN — 21 anos, meia direita, paulista, há quatro anos que joga no Santos F. B. C.
RAUL — centro, 24 anos, paulista. Há três anos que joga no Santos.
FRIED. — A maior glória do foot-ball brasileiro. Jogador internacional. 26 anos de vida footballística.
MARIO SEIXAS — meia esquerda, fluminense, 28 anos. Veterano crack da seleção baiana e paulista. Jogador internacional e capitão do quadro do Santos há 5 anos.
PAULINHO — extrema esquerda, paulista, 22 anos, é novo.
JUNQUEIRINHA — extrema esquerda, crack da seleção paulista. O melhor extrema do Estado bandeirante.
IRACINO — zagueiro reserva, 26 anos, paulista. Faz parte da seleção paulista, vice-campeão do Brasil em 35.
FIGUEIRA — 19 anos, médio direito reserva. Jogador do Santos desde filhote.
ZÉ CARLOS — meia esquerda, 19 anos, reserva, também joga desde filhote no Santos.
VICTOR — goleiro reserva. Joga há três anos no Santos.
TICO — extrema direita, reserva, 19 anos. Joga desde filhote no Santos.
TÉCNICO — Caetano Domenico, instrutor de cultura física.
DIRETOR — Bidú.
CHEFE DA EMBAIXADA — Dr. Paulo Moura, comerciante em Santos e secretário geral do Santos F. B. C.
A maioria dos jogadores são funcionários do comércio, alguns dos bancos santistas.
"ACHO QUE VENCEREMOS"
A fim de transmitir ao mundo desportivo a palavra autorizada de um player de real valor e que várias vezes jogou em São Paulo como representante do Rio Grande do Sul, no campeonado brasileiro de foot-ball, ouvimos hoje Guilherme Schroeder (Risada), capitão da turma colorada, que falou durante longo tempo com o repórter.
Inquerido pelo nosso companheiro, Risada disse o seguinte:
"Acho que venceremos a partida de amanhã. Porto Alegre apreciará o jogo do grande Fred., homem perigoso dentro de uma área. O grande atacante tem um jogo inteligente e rápido. É de fato um player extraordinário. A última vez que atuei contra "El Tigre", em 1933, tive ainda ocasião de admirar as suas brilhantes jogadas.
Pode ficar certo que Friedenreich vai impressionar vivamente".
Mais adiante, Risada disse: "Por motivo de luto recente, pois faleceu há pouco em Cruz Alta a minha progenitora, não fiz essa semana nenhum treino em conjunto.
Em minha residência, exercitei os músculos e pode dizer aos leitores do seu jornal que corresponderei à confiança em mim depositada.
É o que de momento eu lhe posso dizer".
Longe de sua gente
Chegou, hoje, a esta capital, a valorosa missão do Santos F. B. C., de Santos.
Veremos, amanhã, numa fraternal luta desportiva, gaúchos e paulistas baterem-se pela palma da vitória. Para essa luta gigantesca, reina, como é natural, grande entusiasmo entre os desportistas locais.
Todos os porto-alegrenses, com um só pensamento — ver vitorioso o pavilhão colorado — acorrerão ao Estádio dos Eucaliptos para olhar com os seus próprios olhos, o valor dos rubros e a inteligência dos paulistas.
Há alguém, no entanto, mais colorado que o próprio sangue, que não assistirá a peleja de amanhã: Ildo Meneghetti.
Ironia da sorte? Não. Ildo Meneghetti, atendendo aos serviços da firma que é sócio, encontra-se atualmente no Rio de Janeiro. Parece incrível!... Ildo Meneghetti não assistirá o "onze" colorado jogar. Mas o Dr. Ildo estará aqui. O seu pensamento está nos pés e na inteligência dos "diabos rubros".
E estes, estejam certos, tudo envidarão para a conquista da vitória, pois eles sabem que dessa forma Ildo Meneghetti sentir-se-á à vontade longe de sua gente e de sua terra.
J. D. V.
Fonte: A Federação (RS), 11/05/1935, ano 1935, n. 110, p. 6. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/388653/77388. Acesso em: 21 mar. 2025.
Antes do jogo com o Internacional — A popularidade de Friedenreich
PORTO ALEGRE, 12 (via aérea) — A cidade amanheceu em meio de vivo entusiasmo pelo jogo desta tarde entre o Santos e o Internacional, campeão da cidade e do Estado.
Fried passa os dias assediado por cumprimentos, fornecendo autógrafos, chamado por inúmeros telefonemas de admiradores e admiradoras.
Todos querem ver Fried, e por todos os lugares em que ele passa todos o cumprimentam.
No Centro Paulista, onde a delegação esteve, ontem, uma calorosa salva de palmas anunciou a entrada do veterano futebolística.
Há casos até muito interessantes com Fried, que a estas horas deve estar um tanto aborrecido com os percalços da popularidade. Não tem ele um momento de descanso. Nas ruas o apontam a dedo. O barbeiro oferece-lhe os serviços profissionais gratuitamente. A manicure também. No bonde não lhe cobram a passagem. Há sempre um mundo de amigos de momento que querem ter a primazia de lhe serem gratos. Há sessões cinematográficas em sua homenagem. Casas comerciais lhe pedem atestados para os seus produtos. E Fried anda numa dobadoura atroz, daqui para ali, às pressas, correndo sempre, mas sempre com um sorriso para todos e todas...
No hotel chovem visitas de conterrâneos e todos querem abraçar Fried.
Um velhote dos seus 70 anos também apareceu no "Majestic Hotel" para avisar que não compreendia nada de futebol. Jamais assistira a uma partida do esporte bretão. Porém, já havia adquirido a sua entrada para o jogo, somente para ver Fried atuar.
Fonte: A Tribuna (SP), 15/05/1935, ano 1935, n. 050, p. 4. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/153931_01/25931. Acesso em: 21 mar. 2025.
AMISTOSO - INTERNACIONAL 1 X 1 SANTOS
Data: 12/05/1935
Local: Eucaliptos - Porto Alegre (RS)
Renda: aprox. 45$000:000
Juiz: Walter Leal
Gols: Mancuso 14’/2 (I); Friedenreich 8’/2 (S).
INTERNACIONAL:
Penha; Poroto e Risada; Garnizé, Andrade e Levi; Floriano, Tupan, Mancuso, Darci Encarnação e Prestes. Técnico: Mário de Abreu.
SANTOS:
Cyro; Neves e Badu (Iracino); Marteletti, Ferreira e Jango; Sacy, Moran, Mário
Seixas, Friedenreich, Junqueira (Paulinho). Técnico: Bidú.
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"O quadro do Santos e seus elementos de reservas, fotografados pouco antes do jogo estreia em Porto Alegre". Fonte: A Tribuna (SP) |
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"Aspecto parcial da grande assistência que esteve presente ao jogo estreia do Santos na capital gaúcha". Fonte: A Tribuna (SP) |
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"O forte conjunto do Internacional, campeão gaúcho, que empatou com o alvi-negro". Fonte: A Tribuna (SP) |
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As lendas Friedenreich e Risada, na véspera do primeiro amistoso colorado contra time paulista na história. Fonte: 1909 em cores |
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"Poroto desfaz uma investida de Friedenreich e Mario Seixas, enquanto Moran e Andrade estão com atenção no lance". Fonte: A Federação (RS) |
A EXCURSÃO DO SANTOS AO RIO GRANDE DO SUL
A DELEGAÇÃO SANTISTA NA CAPITAL GAÚCHA ESTÁ RECEBENDO EXPRESSIVAS HOMENAGENS
O que foi o jogo de domingo — A atuação do Santos e dos gaúchos — Cyro em grande destaque — A popularidade de "El Tigre" — As apreciações e comentários da imprensa de Porto Alegre — Um verdadeiro acontecimento esportivo e social
[...] Segundo tínhamos previsto, o quadro do Santos, de maneira bem eloquente, soube honrar as tradições do futebol bandeirante e santista, representando-o digna e brilhantemente em Porto Alegre.
O jogo de domingo constituiu verdadeiro acontecimento esportivo e social, registrando-se aspectos jamais notados em Porto Alegre, cuja imprensa, unanimente, ressalta o valor técnico do Santos e enaltece sua atitude correta e cavalheiresca em campo.
Os santistas, desde que chegaram no Rio Grande do Sul, têm recebido demonstrações de simpatia, sendo alvo de significativas homenagens.
Do nosso companheiro de trabalho, Antonio Guenaga, que seguiu com a delegação do Santos, recebemos, ontem, copiosa documentação da estadia do Santos em Porto Alegre. Pelo que nos manda dizer, os gaúchos têm sido de grande gentileza para com os santistas, culminando-os de gentilezas, o que se verificou desde a chegada.
Publicamos, hoje, uma das partes mais interessantes da correspondência que nos enviou o nosso representante, assim como o especial para a "A Tribuna", do primeiro jogo do Santos na capital gaúcha.
[...] PORTO ALEGRE, 14 — (Do nosso enviado especial) — (Via Western) — O General Flores da Cunha, governador do Estado, recebeu, hoje, em palácio, a delegação do Santos, tendo felicitado, pessoalmente, todos seus componentes pelo brilhantismo do primeiro jogo e desejando-lhes feliz permanência nesta capital.
[...] O "Correio do Povo", em sua edição de hoje, ressalta o valor do futebol paulista, considerando o Santos superior aos times que aqui têm atuado, como o Botafogo, selecionado do Paraná e alguns estrangeiros, como o Wanderers do Uruguai. [...] A delegação do Santos continua sendo alvo de repetidas homenagens.
As grandes homenagens que os santistas estão recebendo
PORTO ALEGRE, 13 (Via aérea) — A delegação do Santos F. Clube continua recebendo da parte do público porto-alegrense, dos esportistas em geral e ainda de toda a imprensa, as mais cativantes homenagens.
Várias festas estão sendo projetadas para esta semana, nos intervalos dos jogos que o alvi-negro aqui realizará.
Tem acompanhado a delegação, diariamente, mostrando-lhe os pontos mais pitorescos da cidade, e prestando-lhe toda a assistência, o Dr. José de Moraes Barros, membro da tradicional família paulista, e que aqui ocupa elevado cargo no comércio e no Centro Paulista, do qual é diretor.
OS JOGADORES DO SANTOS
Começaremos nossa apreciação pelos integrantes do valoroso quadro da terra de Brás Cubas:
Cyro — O arqueiro do Santos é um jogador extraordinário. É, talvez, o goleiro mais impressionante que Porto Alegre já viu atuar. Entra seguro e com rara elegância em todas as bolas. Cyro fez, na tarde de domingo, a pegada mais empolgante destes últimos anos: Darcy, depois de driblar dois adversários e a 12 metros do gol, desfere o mais violento "canhão" de sua vida. Quando todos julgavam certa a queda do reduto santista, Cyro dá eletrizante salto e afasta o perigo. Foi o momento mais sensacional da tarde. Por seu estupendo feito, Cyro recebeu a maior manifestação feita até hoje em Porto Alegre, em campos de futebol.
Badú — O zagueiro direto do Santos possui um jogo firme, seguro, possui um jogo firme, seguro, todo ele dirigido aos médios. Seu jogo não é para a assistência, é para o time. Por isso, sua atuação foi mais eficiente que a do seu companheiro de zaga.
Neves — Não contando com os mesmos recursos de Badú, Neves é, mesmo assim, um bom zagueiro. Teve trabalho insano, principalmente na primeira fase, com as jogadas desconsertantes de Tupan.
No meio do segundo tempo, Neves foi substituído por Iracino.
Iracino, que por várias vezes atuou no combinado paulista, abusa do jogo violento, mas mostrou ser um grande zagueiro.
Martelete — É um médio direito. Sabe marcar uma ala e servir seus companheiros de frente com verdadeira maestria. Dos médios em campo, foi o melhor. Martelete é um dos grandes "cracks" do futebol paulista, cujo selecionado já integrou por várias vezes, a última das quais no encontro decisivo com os cariocas, no final do campeonato deste ano.
Ferreira — Um dos bons jogadores do time. O centro médio do clube da Vila Belmiro possui bastantes recursos. Auxilia mais o ataque que a defesa. No final do segundo tempo, seu jogo decaiu um pouco.
Jango — Melhor que Ferreira, porém, inferior a Martelete. O médio esquerdo santista tem um fôlego notável. Marca bem e auxilia com eficiência o ataque. Aqui, deve-se ressaltar, mais uma vez, que a eficiência da linha média visitante reside no entendimento entre seus componentes.
Sacy — É um ponta ligeiro e perigoso. Se mais não fez, foi devido à atuação incansável de Levy, que não o deixou um momento. Sacy possui grande entendimento com seu companheiro de ala.
Moran — Foi o melhor dianteiro paulista em campo. Moran é quem organiza os ataques. Além de possuir ótimo "dribling", o meia direita visitante possui bom passe e bom jogo de cabeça. Falta-lhe só uma coisa: arremesso ao gol. Moran, nos momentos decisivos, ou atira fora ou finaliza fraco.
Friedenreich — O grande centro-atacante brasileiro, apesar dos 40 anos e pico que lhe pesam nas costas, deu mostras do seu valor como distribuidor oportuno e passador incomparável. Só lhe falta... mocidade. Teve uma ocasião em que Fried mostrou sua classe: "El Tigre" se desviou de Risada e adiantou um pouco a bola; Penha sai do gol e, quando vai fechar as mãos para segurar o couro, vê este fugir-lhe entre o ombro e a cabeça: era o pé de Fried que tinha feito a jogada, que redundaria num gol se não fosse a oportuna intervenção de Poroto. O lance de que resultou o ponto paulista foi organizado por Fried, que se cruzou no meio de Risada e Poroto e atirou de perto, não dando tempo a Penha de segurar o couro com firmeza, originando-se, então, o entrevero, de que se aproveita Sacy.
Mario Seixas — Embora muito pesado, o capitão da turma santista é um bom atacante e distribui bem o jogo. Falta-he agilidade e desembaraço. Mario Seixas pareceu não estar acostumado a jogar ao lado de Fried, pois seu jogo era quase sempre dirigido pela meia-direita, ao passo que Fried, por sua vez, enviava o seu para o ponta esquerda, seu antigo companheiro de quadro.
Junqueirinha — Foi o melhor ponta em campo. Junqueirinha corre, dribla e centra como um grande "crack". Deu um trabalho insano a Garnizé e a Poroto. Junqueirinha é um elemento que pode figurar com destaque em qualquer equipe do país.
Uma "churrascada" oferecida pelo Centro Paulista
PORTO ALEGRE, 13 (Via aérea) — O Centro Paulista, que vem homenageado a cada passo a embaixada do Santos, oferecerá, amanhã, um churrasco à rapaziada do alvi-negro.
O jogo estreia do Santos — Os santistas recebidos com grandes manifestações de simpatia — Verdadeiro acontecimento esportivo e social — O jogo apreciado pelo enviado especial de "A Tribuna"
PORTO ALEGRE, 13 (Via aérea) — O Santos F. Clube disputou, ontem, a sua primeira partida, nesta capital, sob a mais intensa expectativa. As perspectivas da estreia não favoreciam muito o time santista. Chegado na véspera do jogo e tendo por adversário o clube campeão da cidade e do Estado, e que atualmente se encontra em perfeita forma, ninguém lhe poderia prever um sucesso igual ao que registrou, se assim se pode classificar o empate que resultou do jogo.
A cidade se movimentou desde cedo para o campo. Às 14 horas as dependências do estádio do Internacional estavam literalmente tomadas. Logo depois se fechavam as bilheterias, apresentando o campo um aspecto imponente, como jamais Porto Alegre teve ocasião de assistir. O número de espectadores representava um recorde, e nem mesmo por ocasião do jogo com o Botafogo, que aqui veio precedido de grande fama, se verificou assistência tão numerosa. A renda atingiu 45 contos, e por aí se pode avaliar o acontecimento.
Na tribuna de honra encontravam-se o General Flores da Cunha, o seu secretariado, ajudantes de ordens, personalidades políticas e grande número de famílias. Içadas, viam-se as bandeiras de São Paulo, do Rio Grande do Sul e do Brasil, abrilhantando o espetáculo uma banda de música da Brigada Militar.
Um verdadeiro acontecimento social e esportivo o jogo estreia do Santos em Porto Alegre. Dir-se-ia que o clube santista já havia conquistado de há muito o coração de todos os esportistas e de toda a bondosa gente dos pampas.
Antes do jogo, subiu ao pavilhão de honra, para agradecer a gentileza do governador do Estado, que havia enviado um seu representante à recepção da embaixada santista, o Sr. Paulo H. de Moura. O governador do Estado recebeu carinhosamente o chefe da delegação e, abraçando-o, exclamou: "Tenho imensa satisfação em abraçar um filho do glorioso Estado de S. Paulo".
Logo após, sob uma onda de geral expectativa, deram entrada em campo os dois times.
O Santos foi recebido com indescritível entusiasmo, o mesmo se dando com o Internacional, que vestia camisetas encarnadas, como as do América, do Rio.
***
O Santos saudou a assistência, as pessoas que se encontravam no pavilhão de honra e, minutos após, começava o grande prélio.
Os primeiros instantes foram algo desfavoráveis aos santistas, que estranharam bastante o campo, de piso duro, recalcado. O Internacional atacou, assim, subitamente, e Cyro operou as primeiras defesas, defesas seguras, que principiaram a entusiasmar a formidável assistência.
Os visitantes, passado esse primeiro ímpeto dos adversários, se reorganizaram e fizeram as primeiras investidas, todas incentivadas pelo público. Mario Seixas atirou pela primeira vez em gol, mas o arqueiro Penha encaixou bem. Seguiram-se outros chutes dos atacantes locais, porém, em geral, com certa dificuldade, dada a forma como atuavam os zagueiros Poroto e Risada.
Reagiu o Internacional. Houve um centro do extrema direita e Mancuso, de cabeça, abriu o score. Um gol bonito, indefensável. Cyro ainda se estendeu, mas debalde.
Mais tarde, melhor adaptado ao terreno, o Santos reproduziu as primeiras avançadas.
Aos 32 minutos, Sacy adianta uma bola a Fried. Este carrega e o arqueiro Penha vai ao seu encontro, chocando-se os dois jogadores. A pelota, porém, habilmente chutada por Fried, correu, sozinha, para o gol. Eis, porém, que aparece Poroto e, no instante preciso, consegue rebater a pelota. Foi um momento de rara emoção. Demorasse o zagueiro colorado um segundo mais, e estaria assinalado o empate.
Logo depois, o mesmo Poroto evita mais um gol, tirando a pelota dos pés de Sacy, que corria, livre, para a meta.
Tendo o jogo começado um pouco tarde, somente às 17,10 teve início a segunda fase.
Os locais insistiram de novo nos ataques e Cyro teve ocasião de se evidenciar mais uma vez, defendendo um possante chute do atacante Darcy, um dos melhores do Internacional.
Essa defesa do arqueiro santista consagrou-o. A assistência premiou-o com demorados aplausos.
***
Não se arreceou o Santos com essa entusiástica atuação dos gaúchos, e, a contar dos 10 minutos, começou a fazer certa pressão, pondo em frequente sobressalto a defesa antagonista.
Aos 14 minutos, houve um formidável bate-bola na área gaúcha. Penha rebateu duas ou três vezes, Mario Seixas chutou contra a trave. Fried tornou a chutar e Penha voltou a defender. Uma confusão séria, entrando até em cena o zagueiro Poroto, que, aproveitando-se do "barulho", rebateu, de soco, violenta bola. O juiz não percebeu, a confusão continuou e Sacy, intervindo também na jogada, entrou para a rede com a bola nos pés.
Estava conquistado o empate de forma esperada, mas emocionante. A assistência, que se mostrou muito educada e simpática aos santistas, voltou a manifestar-se com entusiasmo.
Daí por diante, os santistas melhoraram sempre, mas o jogo veio a terminar com o empate de 1 a 1.
Serviu de árbitro o Sr. Walter Leal, do Grêmio Porto Alegrense, que procurou acertar, tendo também uma atuação muito feliz pela ótima conduta dos jogadores em campo.
Foi realmente uma bela partida, e o público desta capital, comentando-a, diz que há muito não vê outra igual.
Terminado o encontro, a assistência invadiu o campo, vivando os jogadores santistas e carregando Cyro em triunfo até fora do gramado. Cyro, com os saltos a que estamos habituados a ver em Santos, impressionou fortemente o grande público.
Um assistente, emocionado, chegou-se a ele, apertou-o de encontro ao peito e exclamou: Sim, sr., nunca vi um arqueiro igual. O senhor é o maior arqueiro da América do Sul.
E Cyro, sorridente: não tanto assim, caro amigo...
Durante o prélio, Cyro fez 15 defesas e Penha 11.
Dos jogadores santistas, Marteletti, Cyro, Mario Seixas, Junqueirinha, Ferreira e os zagueiros atuaram bem. Na opinião dos "torcedores" gaúchos, Moran é um grande jogador. De fato, também pode ser incluído entre os elementos que atuaram bem. Junqueirinha foi bastante marcado. Os médios e os zagueiros do Internacional chegaram até a segurá-lo pela camisa...
Jango estreou, deixando boa impressão. É pena ser baixo. No jogo rasteiro desenvolve-se bem.
Sacy não destoou. Ao contrário, agiu em forma. Esteve um tanto abandonado no primeiro tempo.
Em conjunto, a linha atacante do Santos atuou discretamente. De per si, entretanto, todos os seus componentes trabalharam bastante.
O pontapé inicial foi dado pelo campeão sul-americano de "skiff", Fritz Richter.
A imprensa gaúcha enaltece o valor do Santos e tem palavras entusiásticas sobre os santistas
Referindo-se ao jogo estreia do Santos, a imprensa gaúcha, em peso, teve gerais louvores ao quadro do Santos, ressaltando alguns de seus valores.
Toda a imprensa, porém, se refere elogiosa e carinhosamente à delegação do Santos, que está recebendo expressivas manifestações de simpatia.
Comentando o jogo com o Internacional, o "Jornal da Noite", de Porto Alegre, entre outras coisas, diz o seguinte:
"Comentário — Não é difícil ao cronista relatar uma peleja quando se desenrolam "teams" parelhos, quadros de classe e homens orientados.
A peleja de ontem foi na sua essência máxima excelente, quer pela disciplina nos quadros, quer pelas táticas empregadas.
Os quadros se bateram com ardor, e a todo o instante procuravam empregar-se a fundo, denotando força técnica, sem desperdício de ação, antes cada qual se media entre si mesmo.
Só no início da peleja, quando já eram decorridos apenas 15 minutos é que se registrou um leve domínio dos colorados e no final do segundo tempo, quando coube ao Santos exercer franca ação combativa sobre o campo adversário. No decorrer da luta, sim, verificaram-se alternativas, de modo que a ela transcorresse num ambiente de absoluto equilíbrio. Para o fim, porém, a supremacia do jogo, como acima relatamos, coube à equipe visitante, que ainda nos derradeiros minutos assediava a cidadela colorada.
O movimento técnico da luta, o seu desenrolar minucioso, tudo são elementos concludentes de que ela foi uma verdadeira consagração ao futebol.
Por vezes os quadros se atiravam ao campo um do outro de par com uma combatividade que eletrizava, que deixava aquela massa humana suspensa, sem que ela pudesse, mesmo de leve, até o último momento, afirmar, qual seria o vitorioso da tarde.
Foi assim, na sua aparência máxima, o encontro a que nos estamos referindo.
Passando agora ao lado técnico da pugna, estamos que conosco concordarão todos quantos conheçam o futebol em todas suas modalidades.
O quadro da terra bandeirante, conquanto não seja o expoente máximo dali, é, todavia, um conjunto que logo se impõe e logo desperta a atenção do espectador que não guarda o proveito de uma vitória, ou o desejo de uma derrota. Este onze sabe atuar como um "team" de classe que é. Não sabe desperdiçar uma avançada, nem se preocupa com o jogo do antagonista. Tem ação própria.
Dos zagueiros aos atacantes existe um entendimento seguro e rápido. A linha média não só defende como impulsiona o ataque. Formando um só bloco, reunindo em todas as emergências a ação conjunta, ele ataca e defende com galhardia e com inteligência.
Tem controle próprio. Não mistifica o avanço como não brinca na defesa. Os zagueiros não têm preocupação de devolverem a esfera quando estão sós; travam-na e olham para onde passam, e tal ação foi muitas vezes entre eles e os médios, e estes com os atacantes. Só, como recurso máximo, circunstâncias periclitantes é que os obrigavam a devolver a bola em tiros de altos e fortes.
Os médios não agem por si, são controlados no seu todo pelos zagueiros. O ataque forçava a defesa colorada por todos os setores, não tinha propriedade especial; para ele, as forças estavam bem divididas, e daí a formação do conjunto. É, em suma, o conjunto santista uma força viva do futebol bandeirante.
O que podemos, para terminar este comentário, dizer do S. C. Internacional?
Apenas que ele foi um herói, que honrou as gloriosas tradições de seu povo, que o venera.
Não esmorecendo um só momento mesmo com um eixo fraco (Andrade), ainda assim o valoroso onze alvi-rubro foi um destemido competidor. Não foi vencedor nem se deixou vencer. Foi leal e bravo.
De fibra inquebrantável, de ação eficaz, ele procurou sem interrupção forçar todos os pontos da defesa santista até vê-la caída por um feito de bela classe de Mancuso. Os zagueiros atuaram com uma energia admirável. Os médios de asa estiveram resistentes. O quinteto atacante foi sem interrupção uma força viva, inteligentemente comandada por Mancuso e Darci. A atuação do onze colorado, a nosso ver, foi ótima, apenas diferenciou do seu antagonist, no que diz respeito à técnica. Aquele é possuidor de uma técnica moderada, enquanto os colorados empregam sempre jogadas impetuosas, disto tudo resultando o equilíbrio da partida.
Essa, em linhas gerais, é a nossa opinião sobre a partida de ontem. Para nos referirmos mais exclusivamente sobre o quadro do Santos F. Clube, preferimos aguardar as demais partidas, ressaltando, entretanto, desde já, que o quadro em apreço é bom e digno de ver jogar, tal a cristalização de suas arremetidas, cujos truques ele quase nunca emprega. É um jogo limpo".
O enviado especial da "A Tribuna", em Porto Alegre, dá à imprensa gaúcha as suas impressões sobre o jogo Santos-Internacional
O nosso companheiro de trabalho, Antônio Guenaga, que seguiu com a delegação do Santos, deu à imprensa de Porto Alegre as suas impressões sobre o jogo-estreia do alvi-negro.
Essas impressões que vão a seguir, foram publicadas pelo "Jornal da Noite", daquela capital:
"Apreciei deveras o encontro de ontem, entre o Internacional e o Santos. Quer na parte técnica, quer na parte disciplinar. Muito entusiasmo, excelentes jogadas, mas... nem o mais leve arranhão na parte disciplinar. Valeu a pena a partida de ontem e penso que o público desta bela capital deve estar, a estas horas, muito satisfeito.
No primeiro tempo os santistas estranharam algo o gramado, o que é natural, porém, logo depois se adaptaram a ele, passando a desenvolver atuação mais firme e homogênea, tanto assim que igualaram a contagem.
O segundo período do jogo foi o mais interessante. Apresentou aspectos mais viris, é verdade, mas ganhou em beleza técnica, lutando arduamente os dois conjuntos pelo aumento da contagem.
O empate representa um junto prêmio à atuação dos contendores, muito embora o Internacional tivesse demonstrado maior pujança na sua linha de ataque, realizando, por isso, maior número de avanços. O Santos, porém, sustentou-os bem, muito sobressaindo a linha média e a zaga, que procuraram por todos os meios permitidos afastar os avantes da camisa encarnada.
Sobre a atuação dos jogadores em campo, devo destacar, em primeiro lugar, os dois trios finais. O Internacional possui, realmente, uma formidável parelha de zagueiros, aparecendo em alto nível Poroto, que me parece superior a qualquer dos elementos da posição que formam atualmente na seleção paulista. É um zagueiro de recursos extraordinários, destacando-se, ainda, pela sua invejável colocação. Não fosse ele e certamente, a estas horas, o Santos teria assinalado significativa vitória.
No Santos também vi em atuação apreciável Neves, Badú e Iracino. Todos se empregaram bem, reafirmando os seus precedentes.
Badú, que há muito não atuava, por se ter contundido, apresentou um jogo bastante seguro, agradando à assistência.
Os dois arqueiros, principalmente Cyro, constituíram a atração da tarde. O guardião santista, com os seus saltos espetaculares, que o público porto-alegrense ainda não conhecia, consagrou-se. No campo, ontem, havia monopolizado todas as atenções. Vi chegar-se a ele um torcedor possuído de muito entusiasmo, que lhe disse:
— "Bravos! Dê-me cá um abraço. Sim, sr.; gostei. Um leão no gol"!
E cingindo-o ao peito: "O sr. é o maior goleiro da América do Sul!..."
As linhas médias acompanharam essa atuação dos dois trios finais. Marteletti foi o melhor dos seis. A estreia de Jango no Santos não foi má, cabendo-lhe marcar a ala em que pontificava Tupan, que reputo um jogador de alta classe.
Por fim, quanto às linhas avançadas, devo destacar a do Internacional, que se apresentou bem mais uniforme que a do Santos, apesar deste contar com elementos de renome. Ainda assim, os santistas, em todos os minutos, procuraram romper a defesa contrária, utilizando-se de recursos inteligentes e sutis. Mario Seixas, Fried, Moran, Junqueirinha e Sacy trabalharam bastante. A despeito do jogo ter sido feito mais pela ala de Junqueirinha, a ala direita do Santos realizou poucos ataques, mas perigosos.
São estas, pois, as minhas impressões sobre o embate de ontem e, por último, quero ressaltar a maneira gentil e educada como se portou a assistência, uma das mais educadas que eu já vi".
A apreciação técnica dos santistas e gaúchos, pelo "Correio do Povo"
O "Correio do Povo", de Porto Alegre, de resto como toda a imprensa gaúcha, fez uma grande e verdadeira reportagem esportiva sobre todos os aspectos, do jogo Santos-Internacional.
O referido jornal, apreciando os valores que contenderam, assim se refere a cada um dos jogadores do Santos e do Internacional.
DO INTERNACIONAL
O "onze" colorado, campeão estadual, teve figuras que se destacaram durante toda a partida, teve figuras que só apareceram de vez em quando e teve, também, figuras que não apareceram nunca.
Penha — Fez uma boa partida, segurando com grande firmeza quase todas as bolas enviadas à sua cidadela. E dizemos "quase todas" porque da única vez que não firmou a bola, resultou o ponto de empate. Penha teve poucas oportunidades para aparecer, pois, como já dissemos, os dianteiros paulistas se ressentiram e se viram impossibilitados de arremesso a gol.
Poroto — Foi o primeiro homem do Internacional, e do campo, ao lado de Cyro. Poroto jogou de zagueiro e de centro-médio, cobrindo as falhas de Andrade, que se achava num dia infeliz. Poroto salvou um ponto certo, ao qual já nos referimos e, por várias vezes, tirou o balão dos pés dos santistas, quando estes se dispunham a finalizar suas cargas. Poroto foi, domingo, por assim dizer, o "dono" do jogo.
Risada — O capitão da equipe colorada fez a melhor partida destes últimos tempos. Tirou bolas de todo jeito. Junto com Poroto constitui uma barreira difícil de ser transposta; daí, o pouco trabalho que teve Penha. É "amarga a vida" no triângulo final do Internacional...
Garnizé — Foi um esforçado durante os noventa minutos da peleja. Supre com ardor o que lhe falta em técnica. Além disso, é incansável.
Andrade — Teve uma atuação regular. Defendeu mais ou menos, mas não auxiliou o ataque. Andrade não esteve num dos seus dias felizes.
Lewy — Dos médios colorados foi o melhor. Defendeu bastante e auxiliou muito a vanguarda. Lewy atua sempre com muito ardor e inteligência, o que torna seu jogo muito produtivo. Foi um dos elementos de destaque da turma da camiseta rubra.
Floriano — Atuou poucos minutos, durante os quais pouco fez de aproveitáel; não sabe tirar "corners".
Marreco, que entrou no lugar do estreante do quadro, fez uma jogada fraca.
Tupan — O "negro bailarino" fez uma grande partida. Deu trabalho a quase toda a defesa adversária, com seu jogo desconsertante e seus passes extraordinários. Seus arremessos a gol foram violentos, inesperados. Uma de suas mais belas jogadas finalizou na trave, causando sensação. Tupan é um "crack" autêntico. Apenas nos últimos vinte minutos, seu jogo decaiu um pouco.
Mancuso — Fez uma boa partida. O centro-atacante colorado pertence à classe de jogadores que não joga para a assistência, mas sim para seus companheiros. A atuação de Mancuso foi uniforme de princípio ao fim. Mancuso, se tivesse tido um pouco mais de calma, teria conquistado a vitória para o Internacional. Foi um minuto após o gol de empate. Marreco recebeu um passe de Tupan e cortou por cima de Iracino. Mancuso, colocado num grande claro entre os dois zagueiros, em vez de parar a bola e avançar para o gol, emendou-a no ar, atirando fora. Foi esta a melhor oportunidade que o Internacional teve para desempatar a partida. Mancuso foi o autor do único ponto dos locais, em belo estilo, finalizando de cabeça uma extraordinária jogada pessoal de Tupan e deixando sem chance o notável goleiro visitante.
Darcy — Dia a dia, o impetuoso e incansável Darcy vem firmando seu jogo. Ainda domingo, Darcy foi um animador constante dos colorado e o artilheiro mais destacado em campo. Quando os santistas conseguiram o empate, foi pela ala de Darcy que se desenvolveu todo o jogo dos "diabos rubros". Foi numa dessas cargas que Darcy desferiu seu formidável "canhão", do qual resultou uma verdadeira consagração de palmas ao extraordinário arqueiro do Santos.
Prestes — Outro elemento que começa a se destacar no quadro do Internacional. Prestes, embora tivesse nas costas um médio do calor de Martelette, fez uma boa partida, constituindo com Darcy uma ala perigosa; é um bom chutador. Prestes destacou-se mais na parte final que na primeira fase. Está "prestes" a ser um "crack"...
O jogo Santos-Internacional apreciado, em suas linhas gerais, pelo "Correio do Povo"
O "Correio do Povo", fazendo uma apreciação geral do jogo do Santos com o Internacional, assim se manifestou, em sua edição de segunda-feira, ontem aqui recebida, por via aérea:
"Ao Rio Grande do Sul e ao glorioso Estado de São Paulo cabem as glórias da jornada desportiva de domingo.
Por seus legítimos representantes — o Santos F. Clube, campeão da técnica e da disciplina, em sua terra, e o nosso querido S. C. Internacional — bandeirantes e gaúchos se portaram bravamente, num prélio formidável, que logrou agradar plenamente à grande multidão que se apinhava em todos os recantos do pitoresco Estádio dos Eucaliptos.
Não erraremos na afirmativa de que jamais Porto Alegre teve oportunidade de presenciar um jogo de futebol tão parelho e emocionante como o que se feriu domingo.
Até o último minuto de jogo, havia probabilidade de qualquer dos dois times desempatar a seu favor.
Depois que o resultado se transformou num honroso empate, milhares de corações entraram a pulsar aceleradamente.
De toda parte partiam gritos de incitamento e prolongados aplausos aos feitos mais interessantes.
E — nota digna de registro especial — aquelas 12 ou 15 mil pessoas que ali se acotovelavam repartiam palmas e os vivas entre paulistas e gaúchos, tal a impressionante técnica e o ardor combativo dos dois valororos adversários.
Desde o momento em que pisaram o gramado, os paulistas caíram na simpatia do público.
Palmas demoradas saudaram os expoentes do futebol paulista de há muito conhecimdos, no mundo, como os reis do futebol.
E, daí por diante, foi uma verdadeira chuva de aplausos sobre os bravos representantes da terra histórica de Piratininga.
Entretanto, os valorosos rapazes da camiseta vermelha representaram condignamente o desporto gaúcho.
Cônscios da tremenda responsabilidade que lhe caía sobre os ombros, como campeões da cidade e do Estado — os moços dos Eucaliptos atiraram-se à luta com indizível ardor e incomparável bravura.
Era titânico o esforço, mas era necessário sair com honra do campo.
E os comandados de Risada tudo deram pela bandeira que defendiam.
Sem temer a técnica admirável dos seus leais antagonistas, os diabos-rubros de Porto Alegre escreveram, talvez, a mais bela página de sua brilhante carreira desportiva.
Afirmamos — e conosco pensa a cidade toda — que o quadro do Santos F. Clube é superior, individualmente e em conjunto, aos últimos quadros que nos visitaram — Botafogo, do Rio, do Wanderers de Montevidéu e do combinado do Estado do Paraná.
Daí o maior valor da surpreendente resistência que os colorados opuseram ao adversário.
O quinteto de camisa branca, bem dirigido pelo mestre dos mestres, o incomparável Arthur Friedenreich, teve de fazer verdadeiros prodígios de técnica e agilidade para poder acercar-se do último reduto internacionalista.
É que os colorados não lhes davam quartel, não esmoreciam, antes, multiplicavam de esforços a cada passo.
O público soube compreender os esforços dos dois bandos, que receberam os mais calorosos e justos aplausos.
Apreciação técnica
Foi bem distinta a atuação dos dois valorosos adversários do interestadual de domingo.
Ao passo que o "onze" do Santos desenvolveu um futebol mais aprimorado, mais técnico, o Internacional se bateu com mais ardor, mais entusiasmo, o que tornou equilibrada a jogada.
As linhas dos Santos atuaram com grande harmonia, especialmente a linha média, que é o ponto forte do time. Os três homens da camiseta branca se entendem às mil maravilhas; sabem deter os avanços dos adversários com muita calma e auxiliam o ataque de uma maneira assaz eficiente; além disso, possuem uma colocação perfeita. Do triângulo final, deve-se destacar o goleiro, que é simplesmente assombroso. Os zagueiros se entendem muito bem, tanto entre si como a linha média, o que empresta grande harmonia à toda a defesa. A linha atacante do Santos, embora desenvolva um jogo bonito, ressente-se de um grande fator: arremesso a gol. Os dianteiros do Santos ou arremessam fraco ou erram o quadrilátero final. Foi este, aliás, o único senão do quadro paulista".
"O Fried que eu vi"
Com a assinatura de "Free Kick", o "Correio do Povo", de Porto Alegre, segunda-feira, publicou o seguinte sobre "El Tigre":
"Sábado, à noite, quando me aproximava da redação (se não para trabalhar, ao menos para justificar os "vales" no sr. gerente...), Foguinho, o artilheiro gremista, tomou-me o braço:
— Vamos até o Majestic ver de perto as "feras"?
— Boa ideia, vamos...
E, pouco depois, Pery, o "attaché" da embaixada, fazia as apresentações:
— Friedenreich, apresento-te Free Kick...
("Muito prazer" de parte a parte, um "criado às ordens", "já o conhecia de nome", "o prazer é meu", e outras banalidades do estilo).
A seguir, encarei Friedenreich bem de frente. Tive uma desilusão. O desportista mais célebre do mundo não era o que eu imaginava — alto, forte, espadaúdo, que, num aperto de mão, fizesse estremecer céus e terras e que, com um espirro, fosse capaz de pôr à prova os alicerces do Cinema Imperial.
Muito ao contrário: era um homem como eu. Vestido à nossa moda. Usando calças, paletó, camisa, colarinho e gravata.
Tomava, no momento, como qualquer burguês, dois ovos quentes.
Um homem banal: mais baixo do que eu; mais velho do que eu; mais magro do que eu; mais moreno do que eu.
Olhei bem a El Tigre e inquiri:
— Você usa bengala?
— Uso. Gosto, muito até, de andar de bengala...
— Nem nisso você é diferente dos outros...
— !?
— Todos os tigres que eu tenho visto, são tigres de... Bengala...
*
Esse o Friedenreich que eu conheci no salão de refeições do Majestic.
Gostei, imensamente, das suas maneiras. É tão desportista no campo, como um perfeito cavalheiro na rua. Um "gentleman" para os ingleses. Um "gentiluomo" para os italianos. Um "sans peur et sans reproche" para os franceses.
Arthur Friedenreich confirmou, integralmente, a fama de ser um esportista completo, na mais ampla acepção do vocábulo.
*
Falta-me dizer como vi Friedenreich no campo.
Mas... é melhor silenciar: os 30 mil olhos que compareceram, anteontem, aos Eucaliptos, viram muito mais do que com os meus quatro, inclusive os óculos, é claro".
O Sr. Paulo Moura, chefe da delegação do Santos, dá suas impressões
PORTO ALEGRE, 14 — Após o encontro futebolístico de domingo, em que tomou parte a delegação do Santos, ouvimos o Sr. Paulo Moura, chefe da mesma delegação, que declarou o seguinte:
"As minhas impressões sobre o embate foram magníficas. Várias vezes chefiei embaixadas esportivas do Santos F. C., por ocasião das excursões a Minas, Bahia e Rio. Sou um velho "habitué" dos nossos campos de futebol, mas jamais estive em contato com um público tão seleto e cavalheiro como o que enchia as dependências do estádio do S. C. Internacional.
Fiquei muito impressionado com a atuação de Walter, que dirigiu a partida com critério superior. A partida entre o Internacional e o Santos decorreu com boa técnica e perfeito cavalheirismo, constituindo um verdadeiro acontecimento social e esportivo. Dou minhas felicitações aos dirigentes do futebol gaúcho e mando minha saudação cordial ao público riograndense, que considero os cavalheiros mais disciplinados de todos quantos enchem os campos esportivos brasileiros" — H.
Fonte: A Tribuna (SP), 15/05/1935, ano 1935, n. 050, p. 4. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/153931_01/25931. Acesso em: 22 mar. 2025.
A PRIMEIRA EXIBIÇÃO DO SANTOS FOOT-BALL CLUB
Constituiu um grandioso espetáculo desportivo
Após uma luta repleta de lances emocionantes, gaúchos e bandeirantes dividiram os louros
Contra o ardor dos nossos, os paulistas opuseram a técnica
Cyro, o goleiro visitante, foi a grande figura da tarde
Nos primeiros minutos da peleja, os colorados, empregando um grande esforço, conseguiram manter-se no campo contrário, porém, estes, pondo à prova a sua magnífica defesa, evitaram o tremendo bombardeio, desdobrando-se em atividade.
Depois, pouco a pouco, a partida foi se equilibrando até ao final, para terminar com o honroso empate de 1 a 1.
—
Ninguém poderá negar que os nossos jogaram com mais ardor, dispendendo extraordinário esforço, contra o qual os visitantes opuseram a técnica.
Assim, se pôde apreciar perfeitamente nosso estilo de jogar, mais assemelhado ao argentino e uruguaio, com cortes largos para as extremas, ao passo que os paulistas, atuam quase sempre pelo centro do campo e quando entregam o couro aos pontas é para as corridas velozes, enquanto os centrais esperam, sempre bem colocados, na área adversária. Ali eles fazem um rápido jogo de passes, de modo a desnortear e deslocar os defesas contrários, para rematar fraco, mas certeiro.
A primeira exibição do Santos agradou plenamente, por isso que o quadro está composto de ótimos elementos, destacando-se a defesa e os dois ponteiros.
O trio central do ataque não esteve à altura, talvez por falta de conhecimento entre Fred e os dois companheiros. Mario Seixas foi o animador. Todos os avanços dos santistas foram executados sob o seu comando. Apesar de muito gordo, desdobra-se com agilidade e distribui o jogo com perícia, seguro nos passes e sempre bem colocado.
—
O team do Internacional esteve num dos seus grandes dias. Todos os seus componentes, com exceção dos pontas, jogaram com precisão. Corresponderam assim à confiança que o público lhes depositava.
O aspecto do estádio
Pouco depois das 14,30 horas, penetramos no Estádio dos Eucaliptos.
Belo panorama se nos deparou diante dos olhos. Os dois pavilhoes completamente cheios e as gerais acomodava uma vultosa assistência. De momento a momento os bondes, trens, caminhões e autos, despejavam nas cercanias, grupos enormes de pessoas.
De forma que, quando se iniciou o interestadual, todas as dependências da sede internacionalista estavam completamente tomadas.
No camarote oficial
No camarote oficial, notamos a presença de S. Exa., o General Flores da Cunha, governador do Estado, acompanhado de seu secretário, Sr. João Antunes da Cunha; Dr. Vieira Pires, procurador geral do Estado; deputado Fay de Azevedo; Dr. Carlos Heitor de Azevedo, secretário da Fazenda; Coronel Antero Marcellino da Silva, Dr. Germano Petersen Filho, representando o Major Alberto Bins, prefeito da capital, além de outras pessoas gradas.
A preliminar do grande embate
Defrontaram-se na preliminar as simpáticas equipes secundárias do Grêmio Sportivo Força e Luz e Sport Club Internacional.
Este encontro iniciou-se às 13,50.
Os quadros pisaram ao gramado sob as ordens do juiz, Sr. Salatino, pertencente ao Sport Club Cruzeiro.
Os mesmos estavam assim organizados:
Força e Luz: Castro; Kessler e Amado; João, Paulista e Juca; Ivo, Vanzetti, Faccin, Giglio e Apparicio.
Internacional: Harri; Cabrito e Sady; João, Oswaldo e Zé; Tijolada, Arteche, Segismundo, Dirceu e Carlos.
Às 14,19, o Internacional abre a contagem por intermédio de Segismundo.
O primeiro findou com o seguinte resultado:
Internacional — 1.
Força e Luz — 0.
No segundo tempo da luta, o Força e Luz empata, conquistando o tento de empate Vanzetto, e logo a seguir Apparicio aumenta para dois o número de pontos do seu clube.
O juiz anulou um ponto lícito do Força e Luz, obtido por Vanzetto.
Às 15,14, Giglio marca o terceiro e último ponto da tarde.
O técnico e o presidente do Internacional protestam a validade do tento.
O juiz indignado retira-se de campo, sendo substituído por Emílio Bello (Vederio), do Foot Ball Club Porto Alegre.
Após mais alguns ataques, o juiz dá por finda a partida favorável ao Força e Luz por 3 a 1.
A ansiedade para o jogo principal
O público volta agora a sua atenção para o jogo principal. Há discussões e os palpites quanto ao resultado da luta divergem.
Aí vêm os paulistas! Há um movimento geral de curiosidade. Todos querem ver os bandeirantes. Finalmente chegam ao campo, sendo conduzidos ao apartamento que lhes foi reservado.
A entrada em campo
Entre calorosos aplausos da multidão, os santistas fazem a entrada no gramado. Mario Seixas vai na frente e Friedenreich é o último. Após saúdam o General Flores da Cunha e o público porto-alegrense, sendo aclamadíssimos.
Os colorados!
Em seguida o quadro colorado ingressa no gramado. De todos os recantos do estágio estrugem os aplausos.
Trocam-se saudações entre os degladiantes e, após, os rubros saúdam as autoridades e o público.
O juiz apita e os quadros tomam posição, ficando o Santos no gol ao lado da cancha de cestobol, na seguinte ordem:
Santos: Cyro; Badu e Neves (depois Iracino); Marteletti, Ferreira e Jango; Sacy, Moran, Friedenreich, Mario Seixas e Junqueirinha (depois Paulino).
Internacional: Penha; Poroto e Risada; Garnizé, Andrade e Levi; Floriano (depois Marreco), Tupan, Mancuso, Darcy e Prestes.
Homenagem ao campeão sul-americano Fritz Richter
O Santos e o Internacional prestaram ao campeão internacional sul-americano de "skiff", Fritz Richter uma significativa homenagem, batendo-se chapas fotográficas do valoroso "rower" ladeado de famosos atacantes bandeirantes Arthur Friedenreich e Mario Seixas.
Após isso, Fritz dá o pontapé inicial.
O início da importante batalha
Mancuso movimenta a esfera, passando-a a Tupan e este a Darcy, que avança, porém, Jango conjura.
Os colorados insistem. Darcy, de posse da pelota a arremessa com violência, obrigando Cyro a uma bela defesa.
O juiz pune um toque de Fried, que, atirado, nada resulta.
Os dois bandos lutam com certa vivacidade, porém, não produzindo nada que possa impressionar.
Foul do Internacional e Penha defende um tiro de Mario Seixas.
O Internacional ataca com ardor. Mancuso cabeceia, registrando-se corner que, batido, resulta novo corner, sem efeito. Os colorados mantêm-se no ataque e a pressão sobre o retângulo santista é forte. Novo corner contra os visitantes não surte efeito.
Junqueira escapa e dá um magnífico centro que é anulado pelo zagueiro Risada.
O jogo está favorável ao Internacional.
Aos 9 minutos de jogo, Tupan desloca-se para a esquerda e centra. Mancuso acompanha a trajetória da bola e num golpe feliz de cabeça, conquista o tento do Internacional.
Aplausos unânimes coroam o feito do centro-atacante local.
Reiniciada a partida, Poroto comete falta, nada resultando.
Toque de Darcy e centro da esquerda santista, resultando corner que Penha defende.
Os colorados voltam a atacar, resultando corner, de nulo efeito.
Os santistas avançam pelo centro. Fried, de posse da esfera, dribla Andrade e Poroto, mas perde para Risada. Foi um momento de emoção para o público.
O veloz extrema direita Sacy faz um centro que não é aproveitado por Mario Seixas.
O Santos começa a fazer jogo pela direita e Moran atira por cima.
Os colorados vão ao ataque e Neves, que se acha bem colocado, anula a carga.
Devido um impedimento de Fried é anulada uma carga dos Santos.
O Santos atua com mais atividade.
O Internacional faz jogo pela direita.
Novo avanço colorado e Tupan recebendo o couro, dá possante tiro, indo o couro de encontro a trave superior.
Falta de Junqueirinha em Penha.
Fried segura o balão e dá um magistral passe que Moran não aproveita.
Mancuso escapa pelo centro e Badú escanteia.
O médio santista Jango produz jogadas ótimas e faz uma marcação agradável.
Os dois guarda-valas fazem boas pegadas, sendo ovacionados pela assistência.
Marteletti atua assombrosamente anulando todas as investidas de Darcy e Prestes.
As duas equipes empregam-se com bravura na pugna, mas mesmo assim, a contagem continua de 1 a 0 favorável à turma local.
O trio e a linha de médios santista proporciona jogadas estupenas, evitando que a meta defendida magistralmente por Cyro venha sofrer outra queda.
O árbitro pune diversas faltas de ambos os lados, nada resultando de satisfatório.
A assistência reclama que o juiz não puniu uma falta na área de penalidade santista.
Tirada de Risada
O zagueiro Risada faz boa tirada.
Darcy e Prestes combinam bem, mas aquele não tira proveito, pois atira quase sempre a esmo.
Surge o momento mais emocionante da pugna. O trio central santista avança. Penha abandona o arco e Fried, numa jogada altamente técnica, impulsionafracamente o bolão para o arco. Poroto, como um relâmpago, surge para evitar a queda do triângulo local, quando todos julgavam inevitável o ponto.
O Santos organiza um ataque e Mario Seixas, livre, perde boa ocasião de empatar o jogo.
Mais algumas investidas de lado a lado e nada, porém, de produtivo se nota, dando o juiz por terminado o primeiro tempo, com o seguinte resultado:
Internacional — 1
Santos — 0
Os comentários
Durante o intervalo faziam-se comentários de toda a sorte.
A maioria estava crente que o quadro santista não tinha desenvolvido toda a sua potência, resguardando-se para a fase final. Outros achavam que a turma local venceria por um score significativo.
De fato, os primeiros estavam mais acertados. O Santos, na fase final, desenvolveu uma atuação superior, jogando com grande ardor e uma técnica magnífica, dando insano trabalho à defesa colorada.
Falando com Fried e Seixas
Nos vestiários falamos com Fried e Mario Seixas.
Perguntamos a Fried sobre a sua impressão do público e do quadro local. O grande player assim respondeu:
— Ótima, magnífica mesmo. O team local é bom. Aliás, já conhecíamos alguns dos seus componentes. Quanto ao público, é bem educado e sua torcida elevada nos encanta. Assim, meu amigo, a minha impressão é, como já disse, ótima. O que estranhamos foi o campo. Muito pequeno. Os nossos gramados têm 120 e 115 metros. Assim, a nossa esquadra não pôde desenvolver a sua costumeira ação.
Mario Seixas teve a mesma opinião.
A SEGUNDA FASE
O jogo reinicia-se às 17,10. O Internacional consegue dar o primeiro avanço e Badú escanteia.
O ágil arqueiro visitante empolga a assistência com suas magistrais e empolgantes defesas.
Falta de Andrade.
Risada rechaça uma entrada de Mario Seixas.
Falta de Mancuso.
O jogo passa a ser feito por alguns minutos pela ala direita, não dando isso proveito aos contendores.
Os colorados jogam com vontade e Darcy chuta violentamente para Cyro produzir formidável pegada. Após alguns minutos do reinício do embate vê-se desde de logo que a equipe visitante faz um jogo mais controlado do que os seus adversários e com assiduidade avançam contra a cidadela de Penha.
O trio final dos camisetas rubras tem grande trabalho.
São punidos diversas faltas, toques e escanteios de ambos os lados, sem que os mesmos resultam aumentara contagem do prélio.
Nota-se que as duas equipes se batem com bravura.
As investidas dos santistas fazem o arco de Penha estar na iminência de queda.
Os visitantes continuam a assediar com mais constância o campo adverso, passando a dominar consideravelmente.
No campo, os jogadpres aplicam jogo violento, mas o juiz deixa passar em brancas nuvens.
À pouca distância da área perigosa, Levi é punido. Marteletti é encarregado de cobrar a falta e Penha pratica uma defesa regular.
O Santos ataca com grande vontade. Forma-se um entrevero na área perigosa do Internacional. A bola anda de pé em pé. Por último bate no joelho de Levy e vai aos pés de Fried, que consegue o tento de empate.
Grandes aplausos cobrem o feito de "El Tigre".
Daí em diante os dois conjuntos se esforçavam cada vez mais com intuito de desempatar o prélio.
O jogo, tomando proporções fantásticas, pois, os vinte e dois jogadores estão sempre atentos em suas posições, dando ao embate um brilhantismo invulgar que é aplaudido pela assistência.
São passados mais uns minutos do encontro e o juiz dá por findo, acusando o placar o seguinte resultado:
Internacional — 1
Santos — 1
O juiz da pugna
Apitou a pugna o Sr. Walter Leal.
A sua atuação agradou plenamente, por isso que se desempenhou de uma missão tão espinhosa como essa de dirigir o encontro de ontem.
O entusiasmo do público
Findo o encontro, o público invadiu o campo, carregando em triunfo Friedenreich e Cyro, bem como alguns dos nossos.
Apreciações
O quadro santista confirmou a fama de que veio precedido. Nele se destaca Cyro, um goleiro de grandes recursos, ótimo golpe de vista e bastante corajogo; Badú, Neves e Iracino são ótimos zagueiros. Os médios atuam perfeitamente. Bons marcadores e sempre bem colocados. Jango e Martelette foram os melhores. Ferreira marca perfeitamente; no ataque Sacy e Junqueirinha são dois ótimos pontas. Mario Seixas, apesar do seu volume, foi o controlador dos companheiros. Moran também é um bom passador, porém, pouco remata. Friedenreich pareceu-nos desambientado. Mas fez jogadas que confirmaram plenamente a sua fama.
O quadro local agiu perfeitamente. Apenas Prestes, Floriano e Marreco, os pontas, não estiveram à altura do trio central.
Fonte: A Federação (RS), 13/05/1935, ano 1935, n. 111, p. 6. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/77396. Acesso em: 22 mar. 2025.
O SANTOS EMPATOU EM PORTO ALEGRE
Notável atuação de Cyro, o jovem guardião santista — Friedenreich e Mancuso, autores dos pontos
PORTO ALEGRE, 13 (A. M.) — Com uma assistência jamais vista em campos locais, realizou-se ontem, no estádio do S. C. Internacional, o encontro entre as equipes do clube local e do Santos F. C., da importante cidade paulista.
A partida transcorreu de início a fim rica em jogadas que eletrizaram a assistência, notando-se a maior cordialidade entre os litigantes.
Cyro, o guardião paulista, empolgou a assistência, praticando defesas assombrosas e salvando situações de extremo perigo.
As duas equipes apresentaram-se assim organizadas:
SANTOS — Cyro; Badú e Neves (depois Iracino); Martelette, Ferreira e Jango; Sacy, Moran, Friedenreich, M. Seixas e Junqueirinha (depois Paulino).
INTERNACIONAL — Penha; Poroto e Risada; Garnizé, Andrade e Levy; Floriano, Tupan, Mancuso, Darcy e Prestes.
O primeiro tempo terminou 1 x 0 favorável à equipe campeã gaúcha, ponto feito por Mancuso, em uma magistral cabeçada.
Na segunda fase os paulistas reagem energicamente, dando um trabalho insano à defesa do Internacional. Destacam-se Risada, Poroto e Andrade, que, em tiradas espetaculares, evitam a queda de sua cidadela. Registra-se, no entanto, uma escaramuça na porta do gol de Penha e Friedenreich, com violento e indefensável tiro, assinala o ponto do empate.
Num ambiente de fraternal cordialidade prossegue o match até o fim, sem que o score seja alterado.
A delegação santista tem sifo alvo de extraordinárias manifestações de simpatia por parte dos desportistas gaúchos. Disputará sua próxima partida contra o Grêmio Portoalegrense, quarta-feira próxima.
A atuação do juiz foi honesta e imparcial, motivo por que o jogo transcorreu sem nenhum incidente.
Fonte: Diário da Noite (RJ), 13/05/1935, ano 1935, n. 2336, p. 14. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/221961_01/21752. Acesso em: 23 mar. 2025.