Como era de se prever, a grande partida de domingo último, promovida pela Associação Porto Alegrense de Desportos atraiu ao campo do Caminho do Meio uma verdadeira multidão, pois o Internacioal e o Cruzeiro, os dois laureados clubes iam medir as suas forças.
A luta não obedeceu a uma técnica esperada em vista do nome dos dois valorosos contendores, em consequência do violento jogo registrado, quer no o primeiro, quer no segundo tempo. Além disso, um incidente entre dois players veio empanar um pouco a prova esportiva, não tendo este ato assumido felizmente maiores proporções devido à pronta intervenão dos dirigentes da Apad.
Todos reconhecem os pungentes esforços dos que se acham à testa da antiga entidade local, no [...] de moralizar o foot-ball e justiça seja feita, muito já se tem conseguido. E, se se apela para o público para auxiliar o reerguimento do foot-ball, entre nós, justo que também os jogadores e espctadores se compelirem de seus deveres, é preciso que atuem sempre com calma, não se deixando apaixonar quando não conseguem desde logo uma feliz representação. Esforcemo-nos, também para que o programa da Apad seja cumprido à risca e verão quantos benefícios terão prestado à causa deste esporte.
E, quanto ao resultado do jogo principal, o Internacional conquistou mais uma vitória sobre o vice-campeão de 1924. O Cruzeiro, por sua vez, soube sair com honra do campo da luta, não sendo levado infortúnio idêntico ao registrado semanas atrás, quando pela primeira vez, neste ano, enfrentou o Internacional. Um leve descuido da sua defesa, dois minutos antes de finalizar o meeting esportivo, foi o suficiente para que o seu adsersário conquistasse o gol da vitória, gol que deu margem a manfestações entusiásticas por parte dos alvi-rubros, que levaram em triunfo o player Barros, o marcador do ponto a favor do clube da Chácara dos Eucaliptos.
MATCH DOS 3ºS TEAMS — EMPATE, TRÊS CONTRA TRÊS
[...] Internacional — Cabral; De Lorenzi e Rangel; Palhares, Lopes e Medina; Dias, Koch, Herrera, Dinis da Silva e João Azevedo.
Cruzeiro — Farias; Floriano e Prudêncio; Justino, Plínio e Aramy; Heitor, Ruy, Caggiano, Ary e Franco.
Este torneio correu regularmente, terminando com o seguinte empate:
Internacional — 3 gols
Cruzeiro — 3 gols [...]
MATCH DOS 2ºS TEAMS — VENCEDOR CRUZEIRO
Antes das 14 horas, os portões do vice-campeão foram franqueados ao público, afluindo logo numerosas pessoas, principalmente famílias, a fim de assistirem ao jogo de segundos teams que tinha também a sua importância, principalmente porque nele sempre se destacam os alvi-rubros. As equipes entraram em campo obedecendo a seguinte organização:
Internacional — Roberto; Natal e Tito; Brunelli, Moacyr e Paulo; Oliveira, Átila, Silva, João Manoel e Guimarães.
Cruzeiro — Prunes; Nélson e Faillace; Louzada, Celso e Pacheco; Graef, Adema, Marroni, Paquito e Caminha.
Iniciada a pugna, momentos depois o Cruzeiro marcou o primeiro e único gol do dia, por intermédio de Adema, seguindo-se depois ótimas cargas do Internacional que não deram bom resultado, porque a defesa do Cruzeiro, otimamente [...] Faillace, anulou-as uma a uma.
Depois do descanso regulamentar, os teams contendores voltaram ao campo, notando-se sempre a superioridade dos alvi-rubros [...]. No início, Oliveira atirou um corner, contra o Cruzeiro, mas oi infeliz ao bater esta penalidade. Quase a seguir os alvi-rubros voltam a demonstrar a sua supremacia, mantendo-se por espaço de 15 minutos nos domínios dos cruzeiristas, cuja defesa sempre vigilante não dá motivo a que os rapazes do Internacional transponham a cidadela de Prunes.
Dos [...] aos [...] minutos o jogo volta a se equilibrar, havendo um corner a favor do Cruzeiro, que bem atirado é defendido pelo keeper Roberto. Este demonstra, nesta e em outras defesas, excelentes qualidades de jogador desta posição.
Os dez minutos restantes de pugna voltaram a ser com maioria de ataques por parte dos alvi-rubros, os quais favorecidos com três corners não fazem o necessário proveito. Um dos tiros desferidos por João Manoel foi bater em um dos postes da cidadela de Prunes.
Com este resultado finalizou o match dos segundos teams:
Internacional — 0 gol
Cruzeiro — 1 gol
MATCH DOS 1ºS TEAMS — VENCEDOR INTERNACIONAL
À medida que se aproximava a hora do início da prova principal recrudesceu a expectativa entre a grande assistência que as encontrava ao redor do campo. Eram 16,00 quando os teams fizeram a entrada em campo.
O primeiro dos teams a aparecer foi o do Internacional, que todos receberam com aplausos e vivas, [...] quando depois entrou no campo o team do vice-campeão de
1924. Tomadas as posições, obedeceram estes a seguinte organização:
Internacional — Bard; Meneghetti e Honorino; Ribeiro, Bitú e Moreno; Rosário, Veiga, Augusto, Clóvis e Barros.
Cruzeiro — Gaspar; Darcy e Espir; Moraes, Almo e Bopp; Zica, Telêmaco, Eduardo, Araújo e Marques da Rocha.
Sorteado o toss, coube ao player Augusto, do Internacional, dar o kick inicial, levando logo a esfera para os domínios do Cruzeiro, sendo, porém, rebatida devido à pronta intervenção de Bopp. Quase a seguir, os alvi-rubros voltam ao ataque, sendo agora rechaçado pelo back Espir, que se mostra seguro de sua posição. Registram-se um foul de Moreno e uma contra-ofensiva de Marques da Rocha, que passa a esfera ao extrema Zica, o qual laz boa emenda, mas no tiro final envia a bola por cima da cidadela de Bard.
O INTERNACIONAL NOS DOMÍNIOS DO CRUZEIRO
O que acima narramos foram as primeiras peripécias da luta Cruzeiro versus Internacional, que com a sua continuação mostra não se revestir da grande técnica esperada... Muitas e várias razões cooperam para se dizer isto, mas um dos seus maiores fatores foi o jogo violentíssimo que houve durante a luta, afirmação esta que poderá se confirmar pelo movimenio técnico que abaixo publicamos.
Voltando a se tratar do jogo, pode-se dizer que dos cinco minutos em diante, a supremacia nos ataques esteve sempre do lado do quinteto alvi-rubro, que se mantém assim francamente nos domínios do Cruzeiro, cuja defesa dirigida por Almo, sabe responder com eficiência a cada um dos ataques, não permitindo que seja vazada a cidadela de Gaspar.
Há 8 minutos que a esfera se encontrara em jogo, quando se registrou a melhor carga dos alvi-rubros, havendo então dois tiros que morrem na trave.
Esta ofensiva foi dirigida pelo extrema Barros, que passando a bola a Veiga, coopera para que este de violento tiro, que vai de encontro a um dos postes da trave. Nova carga se registra, mandando então Veiga outro tiro violentíssimo, que morre na trave. A superioridade do Internacional sobre o Cruzeiro está demasiadamente reconhecida, lamentando-se que alguns players alvl-rubros atuem com certa violência, prejdicando enormemente seus ataques nas ocasiões melhores para a conquista de um gol.
Se bem que os alvi-rubros se mostrem mais resolutos nos ataques, os cruzeiristas não deixam também de fazer as suas escapadas, a ponto de obrigar a Bard a conceder corner. Batido por Zica, a esfera vai muito alto. Quase a seguir, temos um corner a favor do Internacional, que batido em excelentes condições por Barros, Almo defende entre aplausos da assistência.
Depois de Gaspar haver rebatido a tiro de Moreno, há uma escapada de Telêmaco, que passa mal a Marques da Rocha, quando este se achava bem colocado.
Batidos dois corners contra o Cruzeiro. Espir, num magistral golpe de cabeça, anulla perigoa carga dos alvi-rubros, só que a luta nos últimos dez minutos se tornava parelha, correndo ela debaixo de franca torcida.
Fatos dignos de nota são um tiro de Marques de Rocha, que passe rente da trave, uma nova escapada do trio central do Cruzeiro, que redunda num corner concedido por Bard. Bem atirado por Marques da Rocha, não é porém aproveitado por Telêmaco. E, com uma escapada de Almo, que envia um tiro contra um dos paus da trave, finaliza a primeira fase do match sem que nenhum dos contendores haja marcado gol.
O SEGUNDO TEMPO
A impressão geral recebida do jogo, é que este decorreu violentíssimo, perdendo portanto muito do seu brilho e que o juiz não é enérgico para reprimir esses abusos atuando sempre indeciso.
Às 17,20 horas, o Cruzeiro deu o sinal de jogo, e avançando o seu quinteto obriga a Bard a praticar uma boa defesa. Os ataques se sucedem de ambos os lados, sendo que num deles Meneghetti anula boa centrada de Zica. A seguir, Gaspar rebate um tiro de Veiga, correndo sempre o jogo parelho até os 20 minutos. Não obstante isso, os cruzeiristas se mostram mais inteligentes nas suas avançadas, cooperando isso para se ter outra impressão sobre o seu jogo, que no decorrer do primeiro tempo não correspondeu a expectactiva dos seus admiradores.
Da metade do segundo tempo em diante a luta volta a se tornar violenta. Meneghetti ao fazer uma defesa comete corner, que bem atacado por Zica, dá margem a que os cruzeiristas façam boas investidas.
Diante da violência em que está correndo a luta, o sr. Heraclydes Cezimbra, presidente da Apad, acompanhado de membros da diretoria da mesma, entra no campo, com o fim de que seja observada a técnica deste esporte, chamando a atenção do juiz e de players. Mas não demora muito que os players Espir e Augusto quase se engalfinhem, sendo separados, havendo nas arquibancadas alguns murros entre espectadores, sendo digno de nota a atitude de um dos agentes municipais em impedir a invasão do campo.
Volta a calma. O jogo continua. Os alvi-rubros estão agora novamente, em franca ofensiva não querendo deixar o campo sem conquistar um ponto.
O GOL DA VITÓRIA
Os esforços dos alvi-rubros para a conquista de um ponto são grandiosos. E não demora muito, que eles atacam pela ala direita, indo a esfera nos pés de Barros, o qual dá um tiro enviesado. O keeper Gaspar quer rebater esse tiro, mas a bola, escapando-lhe das mãos, com a força que vinha, entra ns sua rede, estando assim marcado o goal da vitória para o Internacional, quando faltavam dois minutos para terminar a luta.
De todos os pontos do ground onde há torcedores alvi-rubros explodem aplausos em saudação ao feito do player Barros, que é carregado em triunfo quando pouco depois o juiz deu por terminado o match com este resultado:
Internacional — 1 gol
Cruzeiro — 0 gol
As manifestações de regozijo dos alvi-rubros se prolongarara ainda por alguns minutos, isto é, até que os seus players tomaram os automóveis em demanda do seu campo e satisfeitos, por haverem pela segunda vez obtido nova vitória sobre o vice-campeão de 1924.
MOVIMENTO TÉCNICO
Em resumo, o movimento técnico do match principal da tarde de anteontem foi o seguinte:
Fonte: Correio do Povo (RS), 07 abr. 1925.