Decidindo o campeonato do Estado, encontraram-se na segunda partida da "melhor de três" o Grêmio Bagé e o Internacional, no estádio da Timbaúva. Numa partida como há muito não assistíamos, os dois valorosos rivais lutaram equilibradamente.
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A partida foi favorável aos locais, como o poderia ter sido para os visitantes, principalmente na segunda fase, quando estes procuraram reagir, para empatar o prélio, o que não conseguiram dada a falta de chance e devido à má pontaria de seus artilheiros; em outras ocasiões encontraram obstáculo firme na defesa rubra, num grande dia.
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O Bagé apresentou-se, por vezes, superior ao seu antagonista, mas falhando nos arremessos decisivos. Suas investidas eram preferencialmente feitas entre os dois meias, Rubilar e Fierro, que se entendem e têm dominio sobre a bola. Seu ponto fraco foi justamente os extremas, onde se fez sentir a falta de Sapiran, veloz e goleador, que atualmente está num dos clubes de Buenos Aires. Os que serviram de substituto não agradaram. No centro do ataque, somente no segundo tempo, apareceu Tupan, que antes estava na ponta esquerda sem grande destaque. Este nosso conhecido apresentou-se em perfeita forma, como centrovante. Já em outros jogos os técnicos da missão visitante incidiram na mesma falta: deslocação do "bailarino" para as alas, quando no centro sua produção é muito maior e mais rendosa.
Na defesa, com excepção de Ripalda, num plano secundário, todos estiveram bons, principalmente Cabeça D'Água, que demonstrou suas verdadeiras qualidades de centro-médio. Atuou a contento, defendendo e auxiliando o ataque sempre que possível, como se fosse um sexto atacante. Laerte secundou-o brilhantemente, dando conta da tarefa de marcar a ala esquerda, que não apareceu muito... Os zagueiros, se bem que despejando em ocasiões que poderiam travar e passar a bola, suportaram o asédio local, conseguindo a paralisação do marcador somente nos dois pontos.
Veliz, o arqueiro, apagou a impressão do "frango" que engoliu na última partida, mas deixou outra; ele mostrou-se muito irritado contra as observações que o árbitro lhe fazia. Sua atuação foi perfeita, defendendo bolas difíceis. Os dois gols que entraram eram indefensáveis.
Em conjunto, os visitantes apresentaram melhor jogo, mas falharam no arremate, o que lhes ocasionou a derrota e consequente perda do título de campeão do Estado, obtido no ano de 1938 (em 1939 ficou com o Rio Grandense).
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O team campeão não esteve muito à altura do título, em conjunto. Seus componentes atiraram-se individualmente com disposição impossível de ser contida facilmente e obtiveram o triunfo porque aproveitaram todo o esforço dispendido. Esse aproveitamento resumiu-se em tiros à meta, transformados em gols duas vezes.
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Destacou-se do bando rubro, como a primeira figura dos 22 homens em campo, o jovem Tesourinha, que fez uma de suas melhores partidas nos gramados da cidade. Sempre perigoso, invadindo a área constantemente, esse jogador foi um espectáculo.
Castillo, no outro lado, não esteve num dia muito feliz, enquanto Carlitos, que o substituiu, surgiu um pouco fora de forma, mas ameaçador. Marques no centro, com especialidade no segundo período, ficou isolado, não podendo aparecer, uma vez que os meias baixaram para auxiliar a defesa assoberbada pelo assédio visitante, que no tempo final se mostrou mais constante.
Ruy e Russinho fizeram uma ligação não muita perfeita, mas agradaram, preferindo o jogo aberto, para a direita.
O trio médio não desmereceu, marcando com precisão, principalmente Magno, que fez boa partida. Assis e Pedrinho colaboraram nisso.
O triângulo final, constituído por Júlio, Álvaro e Alfeu, agiu bem, primando este por um destaque dos seus companheiros, pela forma excelente de atuar, com raros senões. Álvaro continua se firmando, de jogo para jogo, justificando sempre sua escalação para o posto no primeiro quadro. Júlio, no arco, praticou defesas de vulto, nos parecendo mais seguro e menos nervoso do que outras vezes.
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A contagem foi aberta pelos vencedores, por intermádio de Ruy, ao receber lindo centro de Tesourinha, logo no primeiro minuto de luta. A seguir, aos 35', os visitantes, que assediavam o arco confiado à pericia de Júlio, empatam o prélio, numa técnica cabeçada de Tupan, o "bailarino", que encaixou no cantinho, indefensavelmente, uma centrada de Ballejo. A alegria, porém, não dura muito, pois 60 segundos depois, numa investida pela esquerda, Pedrinho avança e cede a Marques, pelo ar. Este de cabeça dá a Russinho, que desvia para as redes, tambem de "coco". 2x1! Delírio da torcida internacionalista!
No segundo tempo a contagem não foi medificada, ficando favorável assim aos representantes da capital, que obtiveram com esta vitória a decisão do Campeonato Estadual.
Findo o tempo regulamentar, a torcida invadiu o gramado, enquanto lenços, flâmulas e serpentinas davam um aspecto festivo ao ambiente. Os jogadores foram levados em triunfo, numa justa demonstração dos "fans".
Atuou perfeitamente o sr. Otto Pedro Bumbel, de Novo Hamburgo, que mereceu elogios de todos. A renda atingiu a casa dos 25 contos de réis.
OS QUADROS
BAGÉ — Veliz; Jorge e Ganchinho; Laerte, Cabeça D'água e Ripalda; Ballejo (Tupan, posteriormente Rosa), Fierro, Tupan (Sant'Anna), Rubilar e Rodrigues.
INTERNACIONAL — Júlio; Álvaro e Alfeu; Assis, Magno e Pedrinho; Tesourinha, Russinho, Marques, Ruy e Castillo. Levy entrou no lugar de Assis, passando este para o centro da linha média, por ter Magno se lesionado, em seguida o "chave" retornou, tendo o quadro a mesma constituição inicial.