O SENSACIONAL ENCONTRO DE AMANHÃ
INTERNACIONAL X GRÊMIO
O mundo desportivo porto-alegrense terá, amanhã, um dos seus dias de grande entusiasmo.
É que pela primeira vez no corrente ano se encontrarão no campo da liça os velhos e destemidos rivais Sport Club Internacional, o vanguardeiro atual do campeonato, e Grêmio Foot Ball Porto Alegrense, vice-campeão do Estado e campeão da cidade.
As lutas desportivas entre estes dois fortes e leais adversários, que contam em seus seios com grandes legiões de admiradores, são sempre esperadas com entusiasmo.
Assim, a tradicional Chácara dos Eucaliptos, onde se vai ferir o sensacional encontro, tornar-se-á pequena para conter a avalanche de espectadores que certamente ali afluirá, ávida por assistir o desenrolar do esperado prélio.
A expectativa e o entusiasmo que se nota no nosso mundo desportivo, é, sem dúvida, o prenúncio vivo do que será o jogo de amanhã.
Assim mais algumas horas e sorá satisfeita a curiosidade.
Os concorrentes estão em perfeita forma para desenvolverem um jogo de alta técnica.
Provavelmente não atuará no quadro alvi-rubro, o excelente extrema direita Vinhaes, por estar contundido, sendo substituído por Darcy, do segundo quadro.
Salvo modificação ulterior, a esquadra alvi-rubra será a seguinte:
Job
Carlitos e Grant
Ribeiro, Lampinha e Paulo
Darcy, Veiga, Tatu, Clóvis e Barros
Os palpites são desencontrados, opinando cada qual pela vitória do seu favorito.
Os nossos votos são apenas que os degladiantes de amanhã, saibam conduzir-se com a lealdade e o cavalheirismo de verdadeiros desportistas.
Tanto vencedores como vencidos devem receber os mesmos aplausos, porque ambos são dignos no terreno desportivo.
Arbitrará a partida principal o competente juiz Sr. Damião Pavani, pertencente ao Americano.
- A diretoria do Internacioal tomou as seguintes medidas tendentes à regularidade do grande encontro de amanhã:
A entrada para os sócios, delegados, representantes, jogadores, enfim, todos os que tiverem entrada franca, será pelo portão dos sócios, por onde terão ingresso, também, os veículos.
A entrada geral será pelo portão central.
Aos socios será exigido, na entrada, o recibo n. 6.
As comissões nomeadas pelo presidente deverão tudo envidar para que o grande embate seja disputado sob um ambiente de cordialidade, chamando à ordem os assistentes que não se conduzirem com a devida linha de cavalheirismo e educação.
A ação das comissões será prestigiada pela direção das sociedades disputantes e em caso de necessidade, pela polícia.
No recinto do campo só poderão permanecer os presidentes das entidades contendoras e os membros da Apad, devidamente autorizados pelas disposições regulamentares.
Uma comissão de polícia exercerá severa vigilância sobre as pessoas que conduzirem armas de uso proibido, obrigando-as a retirarem-se do campo, sob custódia da força pública.
Para facilitar a aquisição de entradas para a partida, estas se acharão à venda, domingo pela manhã, na porta da sede, à Rua dos Andradas, 418 e no Café Nacional.
As comissões estão assim constituídas:
Direção geral: Antenor Lemos; portões: direção: A. Nilles; portão dos sócios: João P. do Rosário, Willy Teichmnann e Eduardo P. da Costa; portão geral: Raymundo Bechlim, Heitor Martins e J. J. Motta; arquibancadas dos sócios: Henrique Bandeira, João Carlos Cauzzi, Edelberto Mendonça; arquibancada geral: Heron Leite, Ricardo Sanmartin e João Bulcão; veículos: Vicente Cabral Fizlho e Pedro Koeller de Oliveira; vestiário: José Coelho Ramos.
As entradas gerais custarão 3$000. Menores e fardados pagarão 1$000.
As senhoras e senhoritas terão entrada franca.
Além dos bondes A, T e G, corrrerão bondes especiais com o letreiro Foot-ball.
Também correrão autos-caminhões, que sairão da Praça Senador Florêncio, de 15 em 15 minutos.
Fonte: A Federação (RS), 26/06/1926, ano 1926, n. 144, p. 4. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/58936. Acesso em: 14 ago. 2024
CITADINO 1926 - 1º TURNO - INTERNACIONAL 1 X 4 GRÊMIO
Data: 27/06/1926
Local: Chácara dos Eucaliptos - Porto Alegre (RS)
Juiz: Manoel Ruiz (Zapp)
Gols: Luiz Carvalho 15’/1 (G); Barros 25’/2 (I); Coró 5’/2 (G); Esperança, pênalti 23’/2 (G); Coró 29’/2 (G).
INTERNACIONAL: Orestes; Carlitos e Grant; Ribeiro, Lampinha e Paulo Annes; Vinhaes, Barros, Veiga, Washington e Clóvis.
GRÊMIO: Lara; Gobbato e Eurides Sardinha; Adão, Telêmaco e Meneghini; Domingos, Coró, Luiz Carvalho, Esperança e Nenê.
Obs: a partida foi terminada 10 minutos antes, em virtude da violência dos torcedores. Também foi o primeiro clássico conhecido por Gre-Nal.
NO SENSACIONAL ENCONTRO DE ONTEM, O GRÊMIO VENCEU O INTERNACIONAL POR 4 PONTOS A 1
DURANTE O JOGO FORAM REGISTRADAS VÁRIAS CORRERIAS
A enorme massa popular, que ontem acorreu à Chácara dos Eucaliptos, a fim de apreciar a sensacional partida do campeonato entre as fortes turmas do Internacional e do Grêmio, sofreu uma triste decepção, diante da falta de educação desportiva de certos elementos.
Cenas como as que foram ontem registradas no campo do Internacional só podem contribuir para a completa desmoralização do tão popular desporto e o consequente afastamento de nossos campos do público e das famílias.
Sim, porque aquele paga para assistir uma partida de foot-ball, e não para ter o desprazer de verificar demonstrações de socos e bengaladas.
A primeira correria de,ontem, a qual deu motivo a outras tantas, foi motivada por um popular que, por não concordar com uma decisão do árbitro, marcando uma pena máxima contra o quadro local, pulou para o campo, agredindo aquele a bengaladas.
A seguir, originaram-se vários “charivaris”, que felizmente não tiveram maiores consequências.
Já se tem cansado de repetir, de quem não tiver a devida educação ou não puder, refrear os seus ímpetos, ao fazer a sua “torcida”, deve antes procurar outro divertimento que não seja o football, a fim de não comprometer o bom nome do clube a que pertence.
As diretorias dos nossos clubes devem procurar conhecer esses
maus desportistas, a fim de vedar-lhes a entrada, poupando assim aos apreciadores do salutar desporto, cenas degradantes como as que se verificaram ontem.
Feitos estes ligeiros reparos, fazendo votos pela sua não repeticão, a bem do decoro do nosso desporto, passamos a dar uma rápida apreciação do que foi o jogo.
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Desde há dias que o desfecho da importante prova de ontem era assunto, obrigatório das nossas rodas desportivas.
Assim é que, desde cedo, era grande o movimento de pessoas que se dirigiam ao campo da Rua José de Alencar.
Quando se iniciou o jogo das turmas secundárias, estavam tomadas, completamente, todas as dependências da vasta praça de desportos, notando-se a presença de numerosas famílias.
Este encontro, que foi disputado com muito ardor, terminou com a vitória do Internacional por 3 pontos a 0.
Após, entre aclamações, deram entrada em campo as turmas principais.
Apesar do preparo e do esforço dos contendores, o jogo não foi dos melhores.
A vitória obtida pelo Grêmio bem poderia tambem ser pelo Internacional. Não queremos com estas palavras empanar a vitória do campeão da cidade; não, queremos apenas dizer que houve falhas de ambos os lados e por vezes foi empregado o jogo violento.
Os locais, tiveram ensejo de exercer, por vários minutos, pressão sobre o campo de Lara, mas o nervosismo de que estavam possuídos, fazia com que os seus arremessos fossem quase sempre frustrados, ora pela precipitação, ora pela indecisão dos seus dianteiros, dando lugar à intervenção da defesa contrária.
Orestes, o arqueiro estreante, demonstrou falta de treino, e além disso, atuou, debaixo de forte depressão nervosa.
Os pontos conquistados pelo Grêmio, na verdade, foram feitos de muito, e por isso, quase indefensáveis.
A parelha Carlitos-Grant, atuou muito bem.
A linha média, com exceção de Paulo, fracassou, principalmente Lampinha, que esteve ontem num dia infeliz, commetendo faltas seguidamente. Ribeiro, no final do primeiro tempo, melhorou.
Na linha atacante só dois homens se destacaram: Barros e Veiga. Clóvis esteve fraco, Tatu, o centroavante, também estreante, nada fez. Vinhaes, visivelmente molestado de um pé, pouco produziu.
O Grêmio, em conjunto, esteve melhor do que seu adversário.
A sua defesa esteve boa, destacando-se o arqueiro Lara, que fez difíceis defesas.
A linha atacante, muito bem comandada por Luiz, agiu bem.
Sorteados os campos, que foi favorável ao Grêmio, os contendores tomaram suas posições, assim organizados:
Internacional - Orestes; Carlitos e Grant; Ribeiro, Lampinha e Paulo; Vinhaes, Veiga, Tatu, Clóvis e Barros.
Grêmio - Lara; Zeca e Sardinha; Adão, Telêmaco e Meneghini; Domingos, Coró, Luiz, Esperança e Nenê.
Dá a saída Tatú, que logo perde a esfera para os visitantes, indo estes ao campo de Orestes, intervindo Carlitos, que envia a bola para a frente.
O ágil Barros, de posse da bola corre pela esquerda e faz bom passe a Tatu, que perde para
Zeca.
O jogo movimenta-se, registrando cargas de lado a lado.
O Grêmio carrega pelo centro e Luiz, em bela virada, atira contra o arco de Orestes, que concedo escanteio, atirado sem resultado.
Tatu segura a esfera e passa a Veiga e este a Vinhaes, que perde para Meneghini.
Lara faz três defesas seguidas.
Os visitantes atacam e Luiz atira. Carlitos defende fracamente de cabeça, e novamente Luiz, aparando a esfera e em linda cabeçada, consegue o primeiro ponto do Grêmio, debaixo de ovações.
O Internacional não esmorece, carregando fortemente contra o arco de Lara, registrando-se um escanteio.
Muito bem ativada, a bola vai cair no centro do arco, originando-se um entrevero de que se aproveita Barros, para conquistar o ponto de empate.
Prosseguindo o jogo, o Internacional conserva-se por alguns minutos no campo adversário, mas a sua linha atuando mal, não tira proveito de sua passageira pressão.
O Gremio reage, levando boas cargas, mas Carlitos, Grant e Paulo anulam seus intuitos, e assim termina o primeiro tempo com o empate de 1 a 1.
De início, no segundo tempo, o Internacional ataca com vigor e Veiga remata mal, mandando por cima da trave.
O Gremio pela direita reage e Coró, aproveitando bom passe, conquista o segundo ponto.
O Internacional não desanima, voltando à carga, perdendo Clóvis ótima ocaasião de empatar novamente a partida.
Daí por diante o jogo equilibra-se, registrando-se cargas e defesas de lado a lado.
O Grêmio faz cerrada carga ao arco de Orestes, e o árbitro marca uma penalidade dentro da área do Internacional.
Barros, como capitão da equipe alvi-rubra, protesta, mas conformando-se com a decisão do árbitro, permite que a falta fosse cobrada.
Foi neste momento que se originou o conflito a que nos referimos acima.
Depois de várias "demarches", prosseguiu o jogo, porém, com outro árbitro.
Esperança atira o tiro livre, que Orestes não defende, virando as costas para a pelota.
Estava feito o terceiro ponto do Grêmio.
Sai a bola do centro e o Internacional carrega, sem resultado.
Coró e Domingos escapam pela ala direita, fazendo aquele o quarto ponto.
Faltando dez minutos para o final do jogo, foram registradas
novas partidas de boxe entre os espectadores e o novo juiz.
Afinal, o Sr. Antenor Lemos, presidente do Internacional, num gesto de alto descortino desportivo, a fim de evitar novas cenas de pugilatos, resolveu dar o encontro como terminado, com a vitória do Grêmio por 4 pontos a 1.
O árbitro, Sr. Manoel Ruiz, do Americano, e que foi brutalmente agredido por um popular, vinha atuando com acerto, não permitindo o jogo bruto.
Quanto à penalidade que cobrou contra o Internacional, não podemos assegurar com absoluta cerdeza se foi ou não pênalti, dado o lugar em que estávamos colocados, que não permitiu que víssemos.
Mas, o arbitro marcando a penalidade máxima contra o quadro local, certamente agiu com a su consciência livre, e por isso não merecia a agressão de que foi vítima, mormente depois de ter o capitão Barros consentido no tiro livro.
Fonte: A Federação (RS), 28/06/1926, ano 1926, n. 145, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/58946. Acesso em: 15 ago. 2024.