S. José e Internacional encerraram ontem o campeonato da cidade.
O certame deste ano, devido a múltiplos fatores, foi um dos mais fracos, violentos e cheios de incidências lamentáveis.
As primeiras jogadas, quando ainda o título de campeão estava indeciso, foram boas e arrastavam aos campos numerosos amantes do futebol.
Mas, depois que a turma gremista, em arrancadas sucessivas, conseguiu se distanciar dos outros concorrentes, o certame perdeu todo o interesse, tanto para o público como para os jogadores.
Daí as péssimas jogadas que se apreciaram.
O próprio Grêmio, que sempre primou em manter um quadro em condições de preparo técnico, descurou no final da jornada, e por isso se deixou arrebatar o título de campeão do Estado por um time individualmente inferior, mas com um estudo de treino impecável.
Não querendo menosprezar o triunfo gremista no certame citadino, diremos com a franqueza que sempre usamos que ele venceu por que os outros concorrentes pouco se incomodaram com o preparo das equipes, nas condicões em que é exigido para a prática do futebol.
Não raro presenciamos pelejas em que os contendores, ainda nem terminado o primeiro tempo, já se mostravam quase completamente exaustos.
Assim, na falta de outros recursos, os jogadores apelavam para a brutalidade, para a deslealdade, desvirtuando as mais comezinhas regras que regem o futebol, que exigem do jogador mais inteligência, mais tino e mais arrojo do que músculos.
Para esses fatos, manda a verdade dizer, contribuíram em grande parte os péssimos juízes que atuaram durante a temporada.
Com raras e honrosas exceções, a maioria dos árbitros que julgavam as partidas desconheciam as regras e contemplavam resignadamente, sem um gesto de energia para coibir as incidências perigosas do jogo bruto desenvolvido.
Felizmente acabou o campeonato e não teremos, pelo menos este ano, mais exibições de “touradas” com o rótulo de futebol.
Se, para o ano a Amgea e os diretores dos clubes não tomarem providências enérgicas, nosso mais popular desporto enveredará, de vez, para o esquecimento.
É preciso, é necessário e mesmo imperioso, que venha uma reação para afastar este estado de coisas.
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O leitor, naturalmente com a nota acima, já ficou sabendo que no último encontro do campeonato da cidade, nada ficou a dever aos demais.
Jogo desinteressante, bastante violento e que culminou com a retirada de campo de Tupan, centro atacante colorado.
Se o árbitro desse jogo, o Sr. Celso, do Cruzeiro, não permitisse desde o início, as jogadas brutas de Alfredo, médio. Zequinha, e Venenoso, atacante rubro, talvez o reduzido público que compareceu ao campo de Bela Vista tivesse oportunidade de apreciar uma jogada mais ou menos regular.
Mas as incidências repetidas de momento a momento, a desvirtuaram completamente, tornando-a quase indesejável.
Desta forma, o encerramento do certame amgeano, constituiu mais um espetáculo de terceira classe...
Pouco depois das 16,30 horas, alinhavam-se os dois quadros na ordem seguinte:
S. José — Harri; Berto e Ireno; Botona, Bavú e Alfredo; Ivan, Odorico, Maneca (depois Dahne), Zanini e Sanger.
internacional — Penha; Risada e Vanderlino; Alfredo, Miro (depois Zé) e Garnizé; Chatinho, Venenoso, Tupan (depois Miro), Alves e Javel.
A partida teve começo às 16,40 horas, com a saída dos colorados. Estes fazem o primeiro ataque, mas nada resulta. Os locais avançam, regislrando-se o primeiro canto, de nulo efeito.
Aos poucos, os colorados vão tomando terreno para manter em seguida pressão, com raras reações por parte dos zéquinhas.
Embora os colorados mantenham supremacia, nada alcançam de positivo, já pelo mau remate dos atacantes, já pelo vigor da defesa local.
Assim, nem os colorados nem os zequinhas conseguiram abrir a contagem no primeiro período da luta.
A segunda fase se iniciou às 17,35 horas.
Os colorados continuam a manter superioridade nas jogadas, mas nada conseguem. Um corner contra o S. José, batido por Javel e emendado pelo médio Garnizé, vai de encontro à trave superior.
Em seguida, Tupan, só diante de Harri, atira alto.
Aos 12 minutos, Berto ao fazer uma defesa comete penal, que o juiz cobra.
Miro é destacado para cobrar a falta e quando a bola chegava ao fundo da rede, o juiz apita para anular o feito, por se haver Harri adiantado, para a defesa.
Batido novamente a falta, o couro vai de encontro à trave lateral e volta ao campo.
Aos 26 minutos, Chatinho, recebendo a bola, foge pela direita e centra. Harri defende fraco e Alves aproveita para marcar o 1º gol do Internacional.
Pouco depois, surge um incidente entre Tupan e Alfredo, devido a um foul violento. O jogo é paralisado por 4 minutos, pois o árbitro exigiu a retirada do player colorado, enquanto o capitão Risada protestava contra essa decisão. O árbitro se mantém firme e Risada, para não complicar o caso, num gesto que muito o eleva, mandou que Tupan se retirasse de campo, entrando Zé para centro médio e Miro foi para o ataque.
Aos 34 minutos da peleja, Miro, demonstrando grande calma, em tiro fraco e rasteiro consegue o 2º tento para os colorados.
Daí até o final, nada mais se registrou, terminando a peleja com o resultado abaixo:
Internacional - 2
S. José - 0
Arbitrou o embate o Sr. Celso, do Cruzeiro.
Não nos agradou a sua atuação. Foi fraquíssimo nas punições, e por isso, quando quis fazer prevalocer a sua autoridade, já era tarde...
— Nos segundos quadros venceu, também, o Internacional por 3 a 2.
Terceiros quadros
Os terceiros quadros não jogaram, em vista do S. José ter feito a entrega dos pontos.
Por esse motivo os quadros dessa categoria do Grêmio e do Internacional chegaram ao fim do campeonato em igualdade de condições, fazendo-se necessário um novo encontro para o desempate.
Fonte: A Federação (RS), 11/12/1933, ano 1933, n. 284, p. 6. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/74343. Acesso em: 23 dez. 2024.