INTERNACIONAL X GRÊMIO
Aproxima-se o dia da realização da mais sensacional partida disputada em Porto Alegre. Serão adversários as duas maiores potências do foot-ball local, Internacional e Grêmio, ambos possuidores de um colossal acervo de glórias e tradições nunca desmentidas.
Os amantes do favorito desporto bretão só têm duas oportunidades por ano de assistir encontros dessa categoria, e toda vez que no campo da luta se defrontam tais, adversários, temos o prazer de assistir lances de verdadeiros conhecedores do segredo da pelota.
Os adversários de domingo são velhos e tradicionais rivais. Há mais de 20 anos que estes dois galhardos clubes, glória e honra do desporto riograndense, disputam com verdadeiro ardor a palma da vitória, dentro da arena das competições desportivas.
O vencedor da pugna de domingo será o mais cotado para carregar o bastão da liderança no atual turno.
Por todos estes motivos, temos quase que certeza que o magnífico Estádio dos Eucaliptos se tornará pequeno para conter a grande avalanche de torcedores que lá afluirão para apreciar o desenrolar desse memorável prélio.
Amanhã publicaremos mais alguns pormenores sobre este importante encontro, que tanto interesse vem despertando em nosso mundo desportivo.
O Internacional treinará amanhã
O diretor do campo do Sport Club Internacional pede o comparecimento de todos os jogadores abaixo, amanhã, às 15 horas, no campo, a fim de realizarem um puxado treino.
Quadro A — Hugo, Cintura, Álvaro; Homero, Abbadé, Índio, Armando, Mario, Mancuso, Marroni, Ricardo, Jean e Ramão.
Quadro B — Penha, Miro, Risada, Ribeiro, Magno, Moreno, Alfredo, Nenê, Javel, Ross, Honório e Marreco.
Após o treino, serão formados os quadros que deverão enfrentar o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em disputa do campeonato da Amgea, no próximo domingo.
Fonte: A Federação (RS), 22/04/1931, ano 1931, n. 094, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/68928. Acesso em: 01 nov. 2024.
CITADINO 1931 - 1º TURNO - INTERNACIONAL 1 X 0 GRÊMIO
Data: 26/04/1931
Local: Eucaliptos - Porto Alegre (RS)
Juiz: Heitor Deste
Gol: Donaldo Ross 15’/2 (I).
INTERNACIONAL: Penha; Miro Vasques e Risada; Ribeiro, Felix Magno e Moreno; Nenê, Javel, Donaldo Ross, Honório e Marreco.
GRÊMIO: Lara; Dario e Eurides Sardinha; Mabília, Poroto e Russinho; Artigas, Amâncio, Luiz Carvalho, Foguinho e Nenê.
Obs.: a partida foi suspensa faltando 4 minutos para o encerramento, após uma briga envolvendo Donaldo Ross e Poroto.
O GRANDE JOGO INTERNACIONAL X GRÊMIO NÃO TERMINOU
FALTANDO 4 MINUTOS PARA O FINAL, REGISTROU-SE UMA DESORDEM
A DECISÃO DO FISCAL SUSPENDENDO A PARTIDA CAUSOU DESCONTENTAMENTO
A grande peleja entre colorados e gremistas, marcada para ontem teve um desfecho desagradável e que muito depõe contra a educação esportiva.
Certos elementos, tanto jogadores como torcedores, não sabem guardar a linha que deviam manter.
O desporto foi criado para desenvolver a cultura física, dentro da lealdade, da cortesia, da camaradagem. Porém, esses elementos entendem ao contrário, e por isso não se pejam de provocar desordens, desrespeitando milhares de pessoas.
O que assistimos ontem, aliás, com grande tristeza, no Estádio dos Eucaliptos, foi um desses condenáveis atos de pouca educação.
Dois jogadores se empenham em luta no campo, generalizando-se o conflito entre os dois quadros, com algumas exceções.
Serenado este e quando ia prosseguir a peleja, eis que surgem os “valientes”.
Novo conflito se arma e se não fosse a intervenção enérgica da polícia e de outras pessoas, talvez a estas horas tivéssemos a lamentar graves consequências.
Não podemos deixar de condenar atos como os que se registraram ontem, pois elles em nada recomendam o nosso desporto e só podem contribuir para o seu desprestígio.
Muitíssimas vezes, para evitar fatos da natureza de que comentamos, a imprensa tem publicado apelos no sentido de que pessoas nervosas e que não possam sopilar seus ímpetos, antes ficar em casa ou procurar outra diversão, mas nunca procurar ingressar num campo de foot-ball.
Já é tempo de acabarmos com essas desordens.
O público que tão generosamente contribui com o seu dinheiro para assistir uma partida do seu desporto favorito, não pode tolerar esses abusos.
Faz-se mister enérgicas providencias para sanear o nosso foot-ball dos elementos indesejáveis que o vêm prejudicando.
Não nos foi possivel, doante da balbúrdia que se estabeleceu, tomar o nome dos iniciadores do último conflito.
Toda a vez que podermos anotar o nome dos turbulentos os
publicaremos, a fim de que sejam tomadas as devidas providências.
Agora, quanto ao caso dos jogadores, a diretoria da Amgea deve agir com o maior rigor, a fim de evitar reproduções.
A expectativa para o jogo
Para a grande peleja reinava extraordinária expectativa entre o nosso mundo desportivo e foi o assunto predileto da semana finda.
Os palpites fervilhavam e a ânsia para o desfecho da pugna era indescritível. Há muito não se notava tão grande entusiasmo para uma partida de foot-ball.
O tempo se mostra contrário
Amanheceu um dia nublado, incerto. Aos poucos foi se carreando, ameaçando torrencial chuva.
Às 13,30, mais ou menos, começou a cair um chuvisqueiro impertinente.
O povo não esmorece
O público, na ânsia de assistir à sensacional pugna, não se amedronta diante da chuva e se dirige ao Estádium dos Eucaliptos, enchendo todos os veículos que iam para o arrabalde do Menino Deus.
Muito antes do inicio do jogo dos teams secundários, já o pavilhão estava completamente tomado.
Todos esperavam impaciente a hora para o início do jogo.
Os segundos teams
A tarde desportiva foi iniciada com a partida dos quadros secundários.
Constituídos de elementos de certo valor, a partida decorreu muito movimentada, havendo forte “torcida”.
O primeiro tempo terminou pelo empate de zero contra zero.
No segundo período, Mancuso, aproveitando um corner, de cabeça, abre a contagem dos colorados.
Pouco depois, Berlo “chargeou” Marroni na área e o juiz cobra pênalti.
Rothfuchs transforma a penalidade no segundo ponto dos colorados.
Os gremistas reagem fortemente, porém, nada conseguem diante da defesa contrária.
Esse embate terminou com a vitória do Internacional por 2 contra zero.
A partida principal
Pouco antes das 16 horas, começaram a entrar no campo os jogadores. Os primeiros a entrar foram os gremistas.
O Sr. Heitor Deste, do Americano, chama os concorrentes.
Feito o sorteio dos campos, este foi favorável ao Grêmio, escolhendo o seus capitão, o gol de baixo.
A seguir os dois quadros tomam posição, assim, organizados:
Internacional:
Penha
Miro - Risada
Ribeiro - Magno - Moreno
Nenê - Javel - Ross - Honório - Marreco
Grêmio:
Lara
Dario - Sardinha
Mabília - Poroto - Russo
Artigas - Amâncio - Luiz - Fogo - Nenê
Precisamente às 15,50 horas, o cronometrista dá o sinal para o início da partida.
O centro colorado Ross movimenta a esfera passando a Javel que a perde para os contrários.
O Grêmio, tenta o primeiro ataque pela esquerda, desfeito por uma intervenção de Ribeiro.
Os primeiros mínulos são de indecisão, conservando-se a pelota no centro do campo.
Aos poucos os gremistas se firmam e levam fortes ataques ao reduto colorado, fazendo o trio final trabalhar bastante.
Amâncio, o “mignon” meia direita gremista, esforça-se muito e quase todas as cargas são feitas por seu intermédio.
Insistindo no ataque, os visitantes põem em cheque o retângulo colorado. Nenê dá violento balaço e Penha faz difícil defesa.
Os colorados reagem e levam alguns ataques ao campo contrário, porém, seus avanços são mal rematados.
A partida torna-se equilibrada, registrando-se cargas de lado a lado.
Numa avançada dos colorados, Lara pratica o primeiro corner da tarde, o ponteiro esquerdo Marreco cobra, e Ross escora de cabeça, passando a esfera por cima.
A seguir, Ross anula uma boa carga de seus companheiros, devido a um foul.
O Gremio avança pela esquerda sem resultado.
A linha gremistas volta a atacar com grande denodo o campo contrário, onde se mantém por alguns minutos.
Nenê escapa dando ótimo centro rasteiro, que seus companheiros não sabem aproveitar.
Agora são os colorados que põem em perigo o arco de Lara.
Registram-se dois corners contra o Grêmio, que não são aproveitados.
Amâncio escapa e passa a Foguinho, perdendo este boa ocasião de marcar gol.
Os colorados voltam ao ataque e Sardinha faz corner.
Marreco cobra e Ross apara de cabeça, indo a esfera ao fundo da rede gremista.
Este ponto foi anulado pelo árbitro, que cobrou bola fora.
Mais algumas cargas de lado a lado findava o primeiro período da luta com o seguinte resultado:
Internacional - 0
Grêmio - 0
A segunda fase da peleja foi iniciada debaixo de chuva.
Os alvi-rubros, neste período, desenvolveram melhor jogo de combinação, o que lhes valeu pôr em constante risco o arco contrário.
O Grêmio ataca pela esquerda e Nenê centra fora.
A "torcida" faz uma algazarra ensurdecedora.
Novo ataque gremista e Foguinho, a poucos metros do gol de Penha, atira por fora.
Lara intervém várias vezes para salvar situações.
Aos 15 minutos de jogo, o perigoso atacante Ross, aproveitando um passe da direita, em forte entrada, consegue o gol do Internacional.
A conquista desse ponto deu azo a uma ovação extraordinária.
Agora, os dois contrários fazem esforços, um para aumentar a contagem e outro para desfazer a vantagem.
O Grêmio ataca com vigor e Penha pratica difícil defesa de um forte tiro de Luiz. A seguir, o goleiro colorado faz nova defesa de uma virada do mesmo jogador.
Os colorados avançam e Ross, de posse da pelota, procura passar. Aquele shoota e Poroto opõe a cabeça, resultado o primeiro dar com o pé na testa do centro-half gremista.
A testa de Poroto começou a sangrar, pois se pisara no mesmo lugar em que recebera um ferimento por ocasião do jogo contra o Pelotas.
Desse fato começou a rusga entre os dois jogadores e que pouco depois terminava num atracamento.
O juiz marcou foul contra o Internacional. O Grêmio avança e Risada defende.
Os dois adversários fazem ingentes esforços para a conquista de pontos, porém, as defesas se multiplicam para evitar a queda dos respectivos arcos.
Parecia que a partida iria ao final sem mais novidade.
Faltavam 4 minutos para o fim do jogo, quando Poroto, após algumas palavras com Ross, o agride a socos e pontapés. Os demais jogadores intervêm, alguns para apaziguar e outros para brigar.
A Guarda Civil, tendo à frente o seu comandante, procura apaziguar os ânimos, o que consegue um poucos minutos.
Serenado o conflito, o juiz apita para continuar o jogo.
Parecia tudo sanado, quando de súbito, irrompe novo conflito embaixo do pavilhão. Correria e gritos se ouvem. A polícia intervém energicamente e consegue restabelecer a ordem, mandando alguns dos “valientes” para a “Viúva Alegre”.
O numeroso público espera impaciente para o final do jogo.
Porém, qual não foi a sua surpresa, quando se anunciou, que a mesma não continuaria, por ter o fiscal a suspendido.
Tal decisão causou espécie, pois não se registrando invasão de campo e estando a ordem garantida, não havia motivo para suspensão do jogo.
E assim o pobre publico não teve a satisfação de apreciar o final de uma partida que fanto o interessou.
Falando com Ross
Depois de serenados os ânimos, procuramos ouvir um dos protagonistas da cena o player colorado Ross.
Disse ele que não fizera o foul voluntariamente e que por tal motivo havia pedido desculpas a Poroto.
Disse-nos mais que Poroto o ameaçara de aplicar uma “patada” na primeira oportunidade; ao que objetou que não fizesse isso pois havia feito involuntariamente o foul.
Ross recebeu vários ferimentos no pescoço e no peito.
Quanto ao player Poroto não conseguimos, falar-lhe a respeito.
Este player tambem saiu ferido na testa.
O juiz
Arbitrou a pugna o Sr. Heitor Deste, do Americano.
Embora procurasse agir com acerto, teve sensíveis falhas. Às vezes demonstrava severidade e por vezes deixou passar faltas que deveria cobrar.
Mas, manda a justiça dizer, agiu com honestidade.
Os melhores
Do quadro do Internacional poucos nomes há para destacar. Todos atuaram com esforço, porém, com pouco conjunto.
Toda a defesa agiu bem, principalmente Penha, Miro, Risada e Ribeiro; Magno não desenvolveu a sua acostumada atuação; Moreno, regular; a linha de ataque não esteve boa; Honório, muito bem marcado, pouco produziu; os demais, regularmente.
Do Grêmio, podemos salientar a atuaçao dos backs, de Russo e Mabília; Poroto não esteve nos seus dias; o ataque esforçou-se muito, mas pouco produziu. O melhor foi Amâncio, seguido de Luiz e Artigas.
Os terceiros teams
Na partida dos terceiros quadros, jogada pela manhã, venceu o Internacional por 2 a 1.
Fonte: A Federação (RS), 27/04/1931, ano 1931, n. 098, p. 6. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/68955. Acesso em: 01 nov. 2024.