O “GRENAL” PODERÁ APONTAR O PROVAVEL CAMPEÃO OFICIAL DA TEMPORADA DE 1940
Na Timbaúva, tricolores e colorados tudo envidarão, amanhã, para obter o triunfo e assegurar a liderança do futebol local
O Grenal se aproxima rapidamente, para gáudio dos fãs. Há um grande interesse para este prélio. Os prognósticos são muito volúveis.
As opiniões estão divididas. Se existem os que defendem o triunfo do Grêmio, há os que encaram o êxito da "baixada" com pessimismo. Argumentam que a famosa intermediária foi desmanchada. Válter não se compara com Laxixa e André sofrerá uma pressão moral medonha, com os últimos acontecimentos, pois a torcida nunca perde vasa, nem perdoa.
A própria ofensiva dos tricolores é criticada. Alexandre aparecerá na meia direita, em lugar de Vanário, há muito afastado dos ensaios, Mario Nidsberg, na ponta direita, também poderá ser molestado pelos colorados. No centro: Cezar Bazílio e na esquerda Fogo e Duarte.
O triângulo final aparece como o setor mais sólido do time de Telêmaco Frazão de Lima.
O PANORAMA COLORADO
Os vaticínios gremistas não destoam muito das "hipóteses" levantadas pelos apreciadores do "rolo compressor".
Servem-se os adeptos dos tricampeões da cidade do último compromisso dos rubros frente ao Cruzeiro. Dizem que o Internacional venceu de modo convincente, no escore... Tecnicamente, porém, a exibição dos pupilos de Dilorenzi merece severos reparos. A intermediária marcou deficientemente, aliás, quase não teve quem marcar, dado o péssimo desempenho dos pontas cruzeiristas. Magno teve um trabalho fácil, considerando-se que os azuis usaram e abusaram do jogo alto. O companheiro de Risada pouco impressionou. Álvaro parece ser um ponto fraco do sexteto colorado.
A ofensiva é respeitada, em parte. Muitos não concordam com a ação de Castillo, atribuem-lhe falta de forma. Nada dizem, entretanto, da eficiência do arqueiro e dos demais atacantes, apontados como os mais perigosos do campeonato de 1940.
As previsões só nos levam à uma conclusão de que teremos um sensacional choque futebolístico, domingo, na Timbaúva.
— Representante da Amgea: Edmundo Lamb. Árbitro: Alfredo Cezaro.
UMA BOA PRELIMINAR
De comum acordo, a Amgea assentou com os interessados realizar a terceira partida da série de melhor de três do "porão". Assim, Renner, e Porto Alegre, também irão à Timbaúva, proporcionando uma boa preliminar, com início às 13,45 horas com 15 minutos de tolerância.
O QUADRO COLORADO
A turma colorada não tem ainda uma escalação definitiva. O ensaio de anteontem, nos "Eucaliptos", satisfez plenamente aos que assistiram.
Do arco, Carlos Dilorenzi e Cavedini só decidirão o titular no próprio campo da luta. Júlio e Marcelo são duas verdadeiras pilhas de nervos, daí a preocupação dos técnicos rubros em só escalar o efetivo no instante derradeiro. A zaga apresentará nova constituição. Alfeu retornará ao lado de Risada, saindo Álvaro.
A intermediária dos colorados será formada por Assis, Magno e Pedrinho. O ponto alto do "rolo compressor" reside na ofensiva. Ela recebeu ligeiros retoques com o reaparecimento de Marques que fez um bom treino anteontem. Carlitos também se exibiu de "center", ocupando igualmente a ponta esquerda. A provável organização da ofensiva da "Chácara dos Eucaliptos": Tesourinha — Russinho — Marques (Carlitos) — Rui — Carlitos ou Castillo.
Fonte: Diário de Notícias (RS), n. 219, 19 out. 1940, p. 8. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/093726_02/3081. Fonte: 16 jun. 2025.
O VENCEDOR DO GRENAL DE HOJE É O CAMPEÃO VIRTUAL DESTE ANO
Com a intermediaria desarticulada, o Grêmio procurará abater o Internacional
SERÁ NO ESTÁDIO DA TIMBAÚVA O TERCEIRO “GRE-NAL” DO ANO
PORTO ALEGRE E RENNER NA PRELIMINAR, PARA APURAÇÃO DO CAMPEÃO DO “PORÃO”
A FORMAÇÃO DOS QUADROS |
GRÊMIO |
EDMUNDO DARIO — LUIZ LUZ ANDRÉ — NORONHA — WALTER MARIO — ALEXANDRE — CEZAR — FOGUINHO — DUARTE |
Campo da Timbaúva — Início às 15,45 horas |
CASTILLO — RUI — CARLITOS — RUSSINHO — TESOURINHA PEDRINHO — MAGNO — ASSIS RISADA — ALFEU JÚLIO |
INTERNACIONAL |
Preços: 5$, 4$, 3$, 2$ e 10$ — Juiz: Alfredo Cezaro |
Prosseguindo o campeonato oficial da cidade, a AMGEA fará realizar hoje, na Timbaúva, como campo neutro, o encontro mais sensacional para as torcidas do Grêmio e Internacional, fazendo estes clubes se defrontarem pela última vez no atual certame.
Tricolores e colorados anseiam pelo momento supremo. Mais algumas horas e os dois tradicionais rivais estarão frente a frente, talvez para decidirem o título de campeão da metrópole, se não surgir qualquer outro tropeço no meio da jornada.
Se os "diabos rubros" vencerem, terão dado maior passo para a conquista do cetro de campeões de 1940, faltando-lhe apenas os rajados e os Zequinhas.
O Grêmio vai estrear o turno neutro, não tendo se desobrigado de nenhum compromisso na última rodada. Ainda lhe aguardam: Cruzeiro, São José e Força e Luz.
O INTERNACIONAL É FAVORITO
Os prognósticos gerais se inclinam para os pupilos da dupla Dilorenzi-Cavedini, dadas as condições individuais dos componentes do "rolo compressor". Outro fator que contribui para o favoritismo é o poderio da artilharia rubra, integrada por Tesourinha — Russo — Carlitos — Rui e Castillo. A inclusão de Marques é problemática, devendo ser decidida no campo dos Eucaliptos, momentos antes dos jogadores rumarem para o "tapete verde" do Caminho do Meio.
A intermediária poderá apresentar-se com Pedrinho na esquerda, em vez de Assis. Dilorenzi opinou-nos que, por ele, apresentaria o mesmo esquadrão que enfrentou o Cruzeiro.
A zaga que ontem apresentamos com Alfeu e Risada não esta firme. Há muito despiste e desejo de ocultar a verdadeira constituição do quadro, como se isso influísse para a decisão dos 90 minutos. Infelizmente e superstição domina muito dirigente do "soccer" local, dando um triste exemplo. Enfim, seja como quiserem.
Apesar dos pesares, a torcida mostra-se mais propensa a acreditar no êxito dos colorados. Como já divulgamos, os "enragés" argumentam com a desarticulação da intermediária dos tricolores a pouca eficiência da ofensiva comandada por Cezar Bazílio.
SURPRESA É MUITO DO FUTEBOL
Se o panorama colorado é de franco otimismo, nota-se certa apreensão e reserva na "baixada". Mas, existem os convictos da combatividade e energia dos tricampeões da cidade. Lembram-se de que "o Grêmio sempre ganha, quando é preciso". Repetir-se-á a sentença?
Telêmaco Frazão de Lima não se descuidou do preparo de sua turma e se mostra confiante. Vamos ver e luta dos dois líderes e candidatos ao título máximo da cidade.
JUIZ
De comum acondo dirigirá o clássico nº 1 da cidade o conhecido árbitro Alfredo Cezaro, o que, por si só, constitui uma garantia do êxito desse embate.
AUTORIDADES
Representará a AMGEA nesse grande encontro o desportista Edmundo Lamb, 2º vice-presidente da entidade metropolitana. Gera representante do Departamento Técnico o desportista Benjamin Simões. Para auxiliarem o árbitro foram escalados os seguintes bandeirinhas: Antônio Estima de Castro e Guilherme Sroka.
HORÁRIO
A partida preliminar entre os quadros do Renner e Porto Alegre será iniciada às 13,45 horas, com 15 minutos de tolerância. O jogo entre os dois tradicionais rivais Grêmio e Internacional começará às 15,45 horas, com 15 minutos de tolerância.
PREÇO DAS LOCALIDADES
De comum acordo foram fixadas as seguintes tabelas de preços para o Grenal de hoje:
Pavilhao, 5$000 — Meio pavilhão, 3$000; Geral, 4$000 — Meia geral, 2$000; Cadeiras numeradas, 10$.
As localidades continuarão à venda hoje até às 12 horas, no Café Nacional da rua dos Andradas e dessa hora em diante nas bilheterias do estádio do Caminho do Meio.
UM BILHETE DE 500 CONTOS AO VENCEDOR
A conhecida Agência Vitória oferecerá ao quadro que vencer o grande prélio de hoje um bilhete inteiro da Loteria do Estado, a extrair-se no próximo dia 7 de novembro.
FLÂMULAS COLORADAS
Durante o grenal de hoje o Departamento de Propaganda e Cooperação do Internacional fará a distribuição de flâmulas coloradas, mandadas confecionar no Rio pela Pirostampa S. A.
NOTAS DOS CONTENDORES
INTERNACIONAL - Para o match de turno neutro, a realizar-se hoje, no campo do G. S. Força e Luz, com o nosso valoroso coirmão Grêmio Futebol Porto Alegrense, foram tomadas de nossa parte as seguintes resoluções:
Direção geral — a cargo do presidente sr. Hoche de Almeida Barros, auxiliado pelos demais diretores.
Portões — a cargo dos tesoureiros do Internacional e Grêmio, auxiliados pelas pessoas por eles indicadas.
Jogadores — a cargo dos diretores de campo — srs. Carlos De Lorenzi e Orlando Cavedini, que determinaram que os seguintes jogadores estejam no campo do Internacional, às 14,30 horas em ponto, para seguirem fardados para o campo do jogo:
Alfeu — Júlio — Marcelo — Risada — Pedrinho — Magno — Assis — Carlitos — Castillo - Tesourinha — Russinho e Rui.
GRÊMIO - Para o grande jogo de hoje entre o Grêmio Porto Alegrense e o Sport Club Internacional, o campeão da cidade nomeou os seguintes consócios, que, com os do Internacional, fiscalizarão os portões de entrada: direção geral, tesoureiro Armando Ciaglia; auxiliares, Ramiro Bernd, Mario Issler, Frederico R. Ferreira, Joaquim R. de Almeida e Saturnino Vanzelotti. Esta comissão deverá achar-se no campo do Força e Luz, às 12 horas, quando serão abertos os portões.
Estão escalados para às 11 horas, na Baixada, os jogadores seguintes: Edmundo — Enobar — Dario — Luiz Luz — André — Noronha — Valter — Mario — Alexandre — Cezar — Fogo e Duarte.
A PRELIMINAR DO GRENAL
Os clubes Porto Alegre e Renner disputarão, hoje, no Estádio da Timbaúva, como preliminar do Grenal, e terceira partida da série da "melhor de três", para apurar o campeão da série B e consequentemente o clube do porão que terá acesso à serie A. No primeiro jogo dessa série o Porto Alegre venceu por 3 a 1 e no segundo verificou-se o empate de 3 a 3. Se os caturritas vencerem ou empatarem a rodada de hoje serão os campeões do "porão" e se pelo contrário, os vencedores forem os renistas, terá que ser jogada uma quarta partida. É grande a expectativa para esse jogo, dada a importância de que o mesmo se reveste.
JUIZ E AUTORIDADES
Para dirigir esse encontro foi sorteado, sexta-feira pelo presidente da Amgea na presença dos clubes interessados, o juiz Agostinho Guglieri, do Departamento Desportivo da Viação Férrea. Servirão de bandeirinhas: Fidélis Mastracusa e Aristeu dos Santos. Representante da Amgea, dr. Benjamin Borges, 3º vice-presidente e representante do Departamento técnico, Benjamin Simões.
HORÁRIO
Esse embate será iniciado às 13,45 horas, com 15 minutos de tolerância. [...]
Fonte: Diário de Notícias (RS), n. 220, 20 out. 1940, p. 14. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/093726_02/3097. Acesso em: 17 jun. 2025.
CITADINO 1940 - 3º TURNO - INTERNACIONAL 4 X 3 GRÊMIO
Data: 20/10/1940
Local: Timbaúva - Porto Alegre (RS)
Renda: 31:540$000
Juiz: Alfredo Cesaro, auxiliado por Antônio Estima de Castro e Guilherme Sroka.
Gols: Mário 9'/1 (G); Tesourinha 10'/1 (I);
Tesourinha 25'/1 (I); César Basílio 45'/1 (G); Russinho 3'/2 (I); Mário 11'/2
(G); Russinho 23'/2 (I).
INTERNACIONAL:
Marcelo; Álvaro e Risada; Alfeu, Felix Magno e Assis; Tesourinha, Russinho,
Carlitos, Ruy Motorzinho e Castillo. Técnico: Orlando Cavedini.
GRÊMIO:
Edmundo; Dario e Luiz Luz; André, Noronha e Válter; Mário, Alexandre, César
Basílio, Foguinho e Duarte. Técnico: Telêmaco Frazão de Lima.
Em pé: Assis, Felix Magno, Alfeu, Risada, Álvaro e Marcelo. Agachados: Tesourinha, Russinho, Carlitos, Ruy Motorzinho e Castillo. Fonte: 1909 em cores |
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"Uma oportunidade perdida: empatada a partida em três tentos, Cezar junto ao arco chuta violentamente e Marcelo defende de punhos, afastando o perigo". Fonte: Sport Illustrado (RJ) |
"Alexandre, avante tricolor, salta com os zagueiros parecendo mostrar com os dedos: 'Já tomamos 4 gols... Vou ver se desconto'". Fonte: Sport Illustrado |
"Edmundo “encaixa” firme, enquanto Carlitos se detém, olhando o juiz, que apitara uma faita de Tesourinha (impedimento?). Dario e Luiz auxiliam o arqueiro". Fonte: Sport Illustrado |
Álvaro é carregado após a a vitória no clássico. Fonte: 1909 em cores |
RUBROS NA LIDERANÇA ABSOLUTA DO CAMPEONATO
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A OFENSIVA COLORADA APROVEITOU MELHOR AS OPORTUNIDADES E ABATEU AO GRÊMIO: 4 X 3
O panorama geral do Grenal não apresentou as caracteristicas desejadas. Ardor em lugar da tática. Russinho, o goleador
O "clássico" nem sempre justifica o nome e as honrarias...
Internacional e Grêmio conseguiram arrastar milhares e milhares de torcedores, que assinalaram um recorde de bilheteria no certame oficial de 1940, mas ofereceram pouquíssimos lances emocionantes.
Por sete vezes, o público teve a sensação máxima que lhe é proporcionada pelo futebol. A contagem alarmante, antes de tudo, depõe contra a qualidade do prélio. Realmente, a pugna, sob o aspeto tático, teve contornos paupérrimos decepcionantes mesmo.
Convenhamos que sete gols em nada recomendam as defesas.
O COMPORTAMENTO DOS COLORADOS
Numa de nossas crônicas analisamos as possibilidades dos dois "sextetos".
O cotejo da Timbaúva veiu confirmar a crítica. Embora vencendo o "derby" metropolitano, os rubros apresentaram falhas e falhas grosseiras, sobretudo na defesa, onde três homens podem isentar-se da classificação "sofrível". Risada, Magno e Marcelo. Álvaro com suas entradas oscilantes e indecisas, a chutar, no lado direito, sistematicamente, com o pé esquerdo, causou diversos "pânicos". Alfeu se apresentou numa tarde negra. Correspondeu ao dia fosco. Findou na ponta direita, baixando Tesourinha. Assis, na esquerda, não convence, assim mesmo manteve-se ativo.
O ataque já se firmou como o melhor da cidade. Russinho é o grande animador e construtor. Segue-se-lhe em méritos Tesourinha. Rui, o "municiador". Carlitos veloz, pouco empreendedor, perigoso, sempre atento aos momentos propícios. Castillo em plano inferior.
TRIUNFO MERECIDO
A ação em conjunto dos dois adversários, incontestavelmente, não nos agradou. Entretanto, é lícito declarar que o Internacional mereceu o triunfo. Agiu com superioridade, com sangue e vontade contínua. Onde a tática falhava, o ardor excedia. E isso ocorreu nos dois quadros. A centelha colorada, todavia, ultrapassou a dos tricolores, que cedo bruxoleava.
Apesar dos pesares, os "diabos rubros" estiveram melhores e... ganharam.
A AÇÃO DOS TRICOLORES
Os pupilos de Telêmaco fizeram um primeiro tempo apreciável. Jogadas concenciosas, sobressaindo certo entendimento, em que pesem as falhas de Alexandre, Walter e André, na intermediária, também claudicavam.
Noronha exibiu-se neste período de modo soberbo. Fogo, na linha, foi o "super-homem". Alfeu, destacado para "policiar" o vigoroso entre-ala canhoto levou um "passeio". Acontece que o veterano não resistiu à fadiga. Esmorecendo Fogo, a linha da "baixada" desapareceu por completo dando intenso trabalho a Noronha e à zaga.
A situação se agravou nos últimos dez minutos. Luiz Luz, contundido, saiu alguns instantes e depois permutou com Válter. Ao Grêmio nada adiantaram as condições precárias de Alfeu, pois ele padecia de mal idêntico, agravado pela deficiência do meia-direita, sempre a inutilizar as investidas com maus passes ou abuso de jogo individual.
OS GOLS
O Grêmio abriu a contagem. A ofensiva tramou com rapidez, aos 9 minutos e meio, evoluindo pela esquerda. Fogo cedeu a Cezar e este derivou logo a Alexandre, que habilitou Nidsberg. O ponta "acomodou" o couro com facilidade.
Pouco durou a vantagem. Uma entrada espetacular de Tesourinha neutralizou a conquista tricolor, aos 11 minutos. Um gol em lindo estilo.
O mesmo Tesourinha, aproveitando-se de um foul batido por Magno, registra o 2º gol. Um "frango" de Edmundo.
No derradeiro minuto, Risada, Assis e Álvaro se confundem com Nidsberg e este atrasa a Cezar Bazílio que faz estremecer as redes de Marcelo, equilibrando o escore.
No período complementar, Magno apoia a Russinho (48) que obteve o terceiro ponto. Aos 59, Nidsberg fogo pela direita e estabelece novo equilíbrio. Oito minutos mais tarde Russinho consigna o ponto de honra (4 x 3). A luta se inclina francamente para os rubros até soar o apito do cronometrista.
Internacional: 4
Grêmio: 3
Árbitro: Alfredo Cezaro: bom
Renda: 31:540$000
Os quadros:
INTERNACIONAL:
Marcelo — Álvaro — Risada — Alfeu (Tesoura) — Magno — Assis — Tesoura (Alfeu) — Russinho — Carlitos — Rui e Castillo.
GRÊMIO:
Edmundo — Dario — Luiz (Walter) — André — Noronha — Walter (Luiz) — Nidsberg — Alexandre — Cezar — Fogo e Duarte.
Os melhores: Russinho, Fogo, Noronha e Risada.
Fonte: Diário de Notícias (RS), n. 221, 21 out. 1940, p. 6. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/093726_02/3125. Acesso em: 17 jun. 2025.
O MELHOR JOGO DE PORTO ALEGRE
O CLÁSSICO DA CIDADE
INTERNACIONAL, 4 X GRÊMIO, 3
Não satisfez amplamente o combate tradicional entre os dois mais fortes quadros da cidade. Aliás, isto é de se esperar, numa partida em que unicamente o ardor tem o papel principal, sobrepondo-se à technica. No Rio ou em São Paulo, quando se batem o Flamengo e o Fluminense, e o Corinthias contra o Palestra, a característica predominante é quase sempre a falta de técnica e o excesso de ardor. Porto Alegre não poderia fugir à regra, pondo em campo seus mais credenciados representantes.
Não agradou de um modo geral, porque no que diz respeito a tentos, houve bastante (7!), numa demonstração de bons ataques e defesas falhas. A não ser o equilíbrio do marcador, oscilando entre um e outro contendor, nada mais apresentou digno de menção o prélio decisivo para o campeonato citadino.
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O Internacional apresentou-se em campo como franco favorito, dada a ausência de alguns titulares do seu rival, como Laxixa, ora atuando no Botafogo e que bastante falta fez, e Vanário, meia-direita, substituído por Alexandre, um futuroso jogador, mas que não preencheu satisfatoriamente, o lugar do veterano "índio".
Tendo atualmente a melhor artilharia da cidade, composta por Tesourinha, Russinho (várias vezes integrante do combinado gaúcho e aquele requisitado por Pimenta para integrar o team brasileiro), Carlitos, Ruy e Castillo, o Internacional encontrou alguma dificuldade para abater o adversário, em vista da defecção da intermediária, onde unicamente se salientou Magno, outro veterano, e a falha sensível do zagueiro direito, Álvaro, da equipe secundária, elevado à principal. Mesmo assim, conseguiu o trinfo, bastante merecido porque soube tirar partido das situações apresentadas, transformando-as em gols, objetivo essencial para se ganhar um prélio.
***
O tricampeão da cidade, o Grêmio, teve, ao contrário, seu ponto alto na defesa, isto é, nos dois zagueiros, que sustentaram com galhardia o assédio rubro, e no "eixo", sob a responsabilidade de Noronha, que mais uma vez confirmou suas qualidades de excelente jogador, frente ao seu mestre e "inimigo", o "chave" contrário, Magno. Naqueles três homens residiu a possibilidade dos tricolores surpreenderem a perícia de Marcelo, conquistando três tentos e dando um aspecto de equilíbrio para a partida, que durou quase todo o primeiro tempo e um pouco do segundo.
A linha dianteira gremista desapareceu por completo, salientando-se unicamente Foguinho, também veterano (até parece que era o dia dos veteranos... ), que trouxe em polvorosa a defesa encarnada, dando um insano trabalho ao médio colorado.
***
Em linhas gerais, este foi o panorama que se pôde apreciar na contenda de domingo, com algumas jogadas de sensação e técnica... pouca. Até o tempo esteve ruim, sombrio, pressagiando qualquer coisa, que felizmente não surgiu.
Investigando individualmente os quadros, podemos salientar no Internacional o trabalho de Risada (mais outro veterano...), que foi o sustentáculo do triângulo final, Magno de centro médio, Russinho e Tesourinha, avantes, que garantiram o sucesso do prélio com boas jogadas, merecedoras de aplausos. Marcelo, o guardião, muito nervoso, permitiu um gol que nos pareceu defensável, entretanto não comprometeu. Álvaro, o outro zagueiro, falhou por diversas vezes, comprometendo o quadro, mas salvando também algumas oportunidades do adversário, o que equilibrou seu modo de atuar. Na intermediária, Alfeu não pôde aparecer, levando um "passeio" de Foguinho e terminou lesionado, passando a atuar na ponta, quase no final do jogo, cedendo seu lugar ao extrema Tesourinha, que desempenhou bem o seu novo papel. Assis, mais conhecido por "Nenê", também visado por Pimenta quando aqui esteve, como o melhor médio direito, atuando na esquerda não se exibiu a contento, mas fez uma boa partida. No ponto alto da equipe, isto é, a linha dianteira, Ruy, Carlitos e Castillo mereceram a classificação "muito bom", "bom" e "regular", respectivamente, sendo que Castillo, extrema esquerda, não teve muita oportunidade de demonstrar suas qualidades, uma vez que o jogo foi quase todo ele feito pela direita, quando, se insistissem pela esquerda, talvez desse lugar ao aumento do marcador, pois o ponta estava muito desmarcado.
Sem um desempenho perfeito, o Internacional mereceu ganhar, porque atuou com superioridade em determinadas ocasiões e soube tirar partido da situação obtendo gols, que lhe garantiram o triunfo e foram o reflexo da vontade férrea de vencer que possuíam seus jogadores.
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O Grêmio não esteve num de seus melhores dias, salientando-se unicamente, como já referimos, o trabalho do trio final e o centro médio, dignos de todo o aplauso. Edmundo, arqueiro, aparou pelotaços difíceis, mas teve a infelicidade de ser vencido por um gol que pareceu "frango". Dario e Luiz Luz, ambos integrantes do combinado gaúcho por diversas vezes, reeditaram suas brilhantes atuações de outros tempos, demonstrando estarem em forma, ainda. Noronha, de centro médio, viu-se sozinho diante da artilharia colorada, conseguindo neutralizá-la enquanto teve fôlego, depois... a partida terminou e o adversário ganhou! Deve o Grêmio a Noronha o assédio que conseguiu manter durante algum tempo, ao arco inimigo, dando insano trabalho ao triângulo final rubro, que se viu vencido por três vezes. Não só defendeu o valoroso center-half, como também auxiliou bastante a Foguinho, cérebro do ataque tricolor, equilibrando a contenda por largo tempo. O meia esquerda salientou-se por sua combatividade e energia, alimentando seus companheiros enquanto não cansou e dando vida ao ataque gremista que por diversas vezes esmorecia, na falta de construtores capazes, para auxiliar o trabalho de Foguinho. Com este, o arco adversário passou por um verdadeiro "carrinho de fogo"... Dos médios, André superior a Walter, que não pôde prender eficientemente a ala direita rubra, deixando-se envolver com muita facilidade. Laxixa fez muita e muita falta. Na dianteira, Mario, na ponta direita, fez uma ótima partida, conquistando dois gols, em boas condições, que o credenciam para efetivo na posição. Malaquias na esquerda, apesar de "solto" não apareceu muito... Temos, finalmente, Alexandre, meia direita improvisado (pois sua posição verdadeira é centro-avante), que demonstrou muito sangue, combatividade, mas não conseguiu convencer na meia. Ora fazia jogadas pessoais, inutilizando uma avançada, ora fazia passes atrasados, permitindo o alívio da defesa adversária. Gostamos mais de vê-lo atuar no centro do ataque, onde seu cérebro produz mais do que o demonstrado domingo último. É jovem e promete, faltando-lhe apenas, para tornar-se um crack, uma boa orientação individual e mais traquejo, que se obtém, justamente... jogando.
MARCHA DO MARCADOR
1º (Grêmio) — Noronha dá a Foguinho, que estende a Bazílio e este a Alexandre. O meia corre, atrai um contrário e cede ao ponta. Mario entra corrido e não tem dificuldade em abrir a contagem da tarde, aos 9 minutos.
2º (Internacional) — Tesourinha, segundos após, entra fulminantemente, numa centrada, desarmando Edmundo e empatando o prélio. 1x1!
3º (Internacional) — Magno bate uma falta, a bola cai sobre a área e Tesourinha aproveita para obter o segundo ponto. (Teria sido "frango" do arqueiro?). 2x1.
4º (Grêmio) — Alexandre controla a pelota e estende para Niedesberg, que corre até o canto direito do arco. Risada, Álvaro e Assis vão ao seu encontro, deixando a área vazia. Há um entrevero e Mario leva a melhor, dando atrasado para Bazílio, que defronte ao arco esperava calmamente o que "sobrasse" da luta. Este, sem ser incomodado, atira inapelavelmente, empatando de novo: 2x2!
Quer nos parecer que foi uma falha da zaga, deixando os contrários completamente sozinhos.
5º (Internacional) — Mais uma vez os rubros tomam a dianteira, por intermédio de Russinho, o goleador, que aproveitando um passe de Magno, desempata o jogo, já no segundo tempo, isto é, aos 48 minutos. 3x2!
6º (Grêmio) — Dominam os tricampeões, até que o Internacional vai à carga, descendo toda a defesa para apoiar o ataque. Luiz Luz rebate e Noronha passa a Niedesberg, que foge, perseguido por Nenê. Ao aproximar-se do arco, Mario aplica uma finta "de criança" em Assis e frente ao gol chuta com o pé esquerdo, sem dar oportunidade a Marcelo de defender: 3x3! Delírio da torcida!
7º (Internacional) — Estava escrito, porém, que os rubros não perderiam a jornada porque estavam atuando melhor e mereciam ganhar. Assim, depois do empate derradeiro, os vermelhos atiraram-se com vontade e viram coroados seus desejos e esforços aos 67 minutos de jogo: Há uma carga pela direita, Tesourinha corre na pelota, que ia sair, controla de cabeça e passa para o centro. Carlitos atira em gol, Luiz defende fracamente, ficando a bola dentro da área. Russinho ajeita o couro com o peito e... estava decretada a vitória!
Apitou a contenda o conhecido árbitro Alfredo Cesaro, que atuou bem. A renda foi a maior na capital, ultimamente: 31:540$000! Recorde do clássico.
Os teams estavam assim constituídos:
GRÊMIO — Edmundo; Dario e Luiz Luz; André, Noronha e Walter; Mario Niedesberg, Alexandre, Cezar Bazílio, Foguinho e Duarte.
INTERNACIONAL — Marcelo; Álvaro e Risada; Alfeu, Magno e Assis; Tesourinha, Russinho, Carlitos, Ruy e Castillo. [...]
Fonte: RABELLO, Pythagoras. Sport Illustrado (RJ), n. 134, 31 out. 1940, p. 14. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/182664/5452. Acesso em: 17 jun. 2025.