Cedida a escolha de campo pelo capitão dos locais ao capitão do R. Grande, este preferiu o gol de cima, isto é, do lado da rua, pertencendo o kick off ao Internacional, convidou este para dá-lo o digno intendente do Rio Grande, Dr. Alfredo S. do Nascimento, que acedeu prontamente ao convite.
Dado, por tal forma começo ao jogo, foi ele desde principio movimentado por cargas enérgicas de um lado e outro, sendo que as duas primeiras, as mais perigosas, foram levadas pelos visitantes que ambas as vezes não foram felizes no arremate, pois uma terminou por um shoot de Cecil muito alto
e a outra por um outro de Corrêa bem dirigido ao canto do goal, tendo Silla porém conseguido desviar a bola com as pontas dos dedos, indo ela bater na trave vertical do quadrilátero. Reposta a linha atacante dos locais da emoção do primeiro momento, começou ela a apertar e apertar bem, pois aos 5 minutos Vares, recebendo um centro de Túlio, enfia pela primeira vez na tarde a pelota na rede.
Desistimos, por acharmos impossível, de descrever o entusiasmo com que a assistência aclamou este feito. Tinha Vares ganho a fina cigarreira de prata oferecida pelo Sr. Alpheu Paranhos a quem abrisse o score do dia.
Mais nove minutos e outra vez a linha do Internacional, em uma combinação esplêndida, marca o 2º gol por intermédio do seu direita Túlio; nova chuva de palmas por parte da assistência. Mas os rio-grandenses não esmoreceram por isso e carregavam com insistência sobre o gol adversário, permitindo assim o triângulo local fazer algumas defesas boas, apesar da má condição do terreno que estava na parte de baixo muito escorregadiço, tirando toda a firmeza dos jogadores.
Em umas das investidas do Internacional a bola é rebatida fracamente do gol, Ribas dá um vigoroso salto para tomá-la ao mesmo tempo que Patinho saía da área do gol com o mesmo fim, resultando uma forte colisão entre estes dois jogadores. Dela resultou um ferimento na perna do centro
local e a perda de sentidos do keeper rio-grandense, que ficou impossibilitado de reentrar em campo.
Com permissão do capitão local, foi posto o Sr. Ashlin no gol, que se achava desempenhando as funções de juiz no gol contrário ao Rio Grande. Recomeçado o jogo, aos 32 minutos o Rio Grande marca o seu primeiro e único gol em jogo confuso na área adversária, recebendo os jogadores do R. Grande, por isso um estrondoso aplauso da assistência. Apesar dos esforços de ambas as partes, terminou assim o primeiro half:
Internacional 2
S. C. Rio Grande 1
Depois de refrescados os jogadores principiou o 2º time, no qual conforme a opinião de muitos o Rio Grande dominaria e melhoraria o score como é de seus costumes, nos parece que desta vez houve exceção, pois que o Internacional nesse tempo só jogou em campo contrário, apesar de não aumentar o score até aos 28 minutos.
Ao cabo deste tempo foi que o half back Darsis do Internacional, de um tiro a 30 metros vazou o gol inimigo pela 3ª vez; foi indescritível a ovação com que foi recebida esta proeza. Com diferença de poucos minutos fez o Internacional mais dois gols, por intermédio do Miller e Ribas. Quanto ao Rio Grande, apesar das suas enérgicas investidas não conseguiu melhorar o seu score, terminando este interessante match com o seguinte resultado:
Internacional - 5
Rio Grande - 1
Este foi o melhor resultado conseguido sobre o Rio Grande até hoje por sociedades do Estado, pelo que se atribuiu o campeão local o prêmio oferecido pelo jornal "O Rio Grande", da cidade do mesmo nome. Além deste, com a vitória sobre o S. C. Rio Grande ganhou mais o Internacional os seguintes prêmios:
Um fino bronze representando o foot ball oferecido pelos estudantes de engenharia; a Historia, em bronze, pelo Batalhão do Tiro Brazileiro; um relevo em prata representando o Association, pelo S. C. Cruzeiro; um bronze, A. Victoria, por um grupo de partidárias do elub alvi-rubro; onze medalhas de prata, pelo sr. Jorge M. da Rocha; a detenção da taça instituida pelo Dr. Montaury, que será disputada em 2 matches; e onze custosas medalhas de prata offertadas pelo Tamandaré, as quais por entredelirantes aclamações da assistência, foram colocadas no peito dos vencedores por onze senhoritas da nossa elite social.
O lunch - à noite, no palacete Rocco, foi servido um farto lunch a todos os excursionistas rio-grandenses e sócios do Internacional.
Em uma sala particular do mesmo palacete foi posta uma mesa de finos doces e champagne, na qual sentaram-se os chefes da missão esportiva rio-grandense, a diretoria do Internacional, a do Cruzeiro, representantes do Tiro Brazileiro, do Tamandaré e dos estudantes de, engenharia e alguns jogadores de ambos os teams.
Foram dados, nessa ocasião, pelo S. C. Internacional, pêsames ao S. C. Rio Grande pela perda do seu vice-presidente, cujo passamento deu-se na segunda-feira, o que privou que se realizassem as festas que o campeão local ofereceria ao S. C. Rio Grande.
Foi tambem feita a entrega do esplêndido bronze com que o Internacional presenteou o club rio-grandense.
E terminou esta íntima reunião às 2 1/2 horas, por entre vivas e hurras de ambos os clubes.
A despedida e partida - A bordo do Oyapock, que levantou ferros às 14 horas, foram comissões de todas as sociedades desta capital levar às despedidas nos distintos players sulinos.
Poucos momentos antes de partir o vapor a comissão do S. C. Internacional colocou no peito do valente back riograndense Cunha uma finíssima medalha de ouro com os dizeres seguintes:
Ao bravo Cunha o Internacional - 14-7-914
E por entre vivas e o agitar de lenços afastou-se majestosamente o Oyapock levando este grupo, punhado de sportmen sulinos, que tão gratas recordações deixam no nosso meio esportivo. Que boa estrela os guie.
Fonte: A Federação (RS), 16/07/1914, p. 4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/388653/30005. Acesso em: 11 ago. 2023.
Tem causado uma desagradabilíssima impressão nas nossas rodas esportivas a crônica d' "O Tempo", do Rio Grande, relativa ao match que aqui se realizou no dia 14 do corrente entre o S. C. Internacional e o S. C. Rio Grande.
O cronista daquele jornal acusa, em termos ásperos, de brutal e incivil ao team local, além de muitas outras injustiças que temos certeza receberão a censura dos players rio grandenses, que tomaram parte no referido encontro.
Fonte: A Federação (RS), 28/07/1914, p. 5. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/388653/30094. Acesso em: 15 ago. 2023.