AS BATALHAS FUTEBOLÍSTICAS DE AMANHÃ
Internacional e Cruzeiro, se não falharem os prognósticos, oferecerão sensacional espetáculo
A atenção do público está voltada para este encontro
[...] Estamos, finalmente, na véspera da grande peleja entre colorados e cruzeiristas, cujo embate tem despertado tanto entusiasmo e controvérsias.
Assim, se não falharem os prognósticos, o público apreciará a mais sensacional partida da temporada.
Ambos os quadros estão com um preparo à altura de oferecer um magnífico espetáculo futebolístico.
O Cruzeiro sempre foi para o Internacional um dos adversários mais sérios, e por vezes o tem feito retroceder.
Esse fato se vem repetindo anualmente. Ainda na temporada passada o Cruzeiro por pouco não pôs m cheque o ambicionado título que ostenta hoje o clube do Estádio.
Hoje, os dois bandos estão mais ou menos parelhos, com ótimo preparo técnico e uma vontade férrea de vencer.
Conquanto não se possa fazer um prognóstico certo, a maioria dos "entendidos" são de opinião que o Internacional, por diversos fatores, será o vencedor.
Entretanto, o mais prudente é esperar pelo resultado.
[...] —
Feita esta ligeira resenha dos jogos que se vão realizar amanhã, resta apenas lembrar aos jogadores e ao público, que para o completo êxito da tarde esportiva, se faz necessário que a disciplina, o cavalheirismo e a lealdade, paire acima das paixões.
O menor movimento de rebeldia, e isto para o bem de todos, será reprimido energicamente pelas autoridades incumbidas de manter a ordem.
É apenas um aviso, por isso que estamos convencidos de que todos saberão se conduzir como verdadeiros desportistas.
[...] S. C. INTERNACIONAL
Nota oficial
A diretoria do Sport Club Internacional tomou as seguintes resoluções em relação à partida de campeonato de amanhã, com o valoroso E. C. Cruzeiro.
Direção geral — Presidente, Sr. Cícero Ahrends; Portões — A cargo dos tesoureiros do clube auxiliados pelos srs. Euridice Matos, Jarbas Delorenzi Costa, Gilberto Lahorgue, Willy Teichmann e Léo Birnfeld, bem como dos representantes designados pelo E. C. Cruzeiro. Assistente junto à diretoria da Amgea, Sr. Armando Silva. Assistente junto à imprensa, Sr. Álvaro Menezes. Assistente junto às autoridades, Sr. Pedro Gomes Pereira.
Os srs. sócios terão entrada pelo portão n. 4 (Pavilhão de sócios) mediante apresentação do recibo de junho de 1935 (n. 6) ou a exibição da carteira de sócio efetivo quite. Os portadores do ingresso terão entrada pelo portão n. 3 (pavilhão). Avisa-se que os locais destinados às diversas autoridades não podem ser ocupados por pessoas estranhas. A entrada no gramado somente será permitida, além dos jogadores disputantes, membros da Amgea, diretores técnicos dos dois clubes à diretoria.
Preços — Pavilhão (entrada pelo portão n. 3), 4$000; geral (entrada pelo portão n. 1), 3$000; senhoras e menores, 3$000.
A direção técnica a cargo dos tenentes Mario de Abreu e Oscar Parrot, escaluo os seguintes jogadores:
2º quadro, às 13,45 horas — Harry (cap.); Antonio e Álvaro; Zé, Piegas e João; Tijolada, Segismundo, Salvador, Dirceu e David.
Substitutos: Vilasboas, Turibio e Simão.
Deixam de ser escalados: Sady, que se acha enfermo, e Arteche que está ausente.
1º quadro — às 15,45 horas — Penha; Natal e Risada (cap.); Garnizé, Poroto e Levy; Floriano, Tupan, Mancuso, Honório e Prestes.
Substitutos: Andrade e Marreco. Deixa de ser escalado o player Darci, que se acha enfermo.
Os jogadores do 2º quadro deverão estar em campo às 13 horas e os do 1º às 15 horas.
Fonte: A Federação (RS), 22/06/1935, ano 1935, n. 017, p. 7. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/77641. Acesso em: 24 mar. 2025.
CITADINO 1935 - 1º TURNO - INTERNACIONAL 3 X 2 CRUZEIRO-RS
Data: 23/06/1935
Local: Eucaliptos - Porto Alegre (RS)
Juiz: Cantílio de Oliveira
Gols: Mancuso 15’/1 (I); Cauduro 28’/1 (C); Mancuso ?’/2 (I); Fernando ?’/2 (C); Poroto 35’/2 (I).
INTERNACIONAL: Penha; Natal e Risada; Garnizé, Poroto e Levi; Floriano, Tupan, Mancuso, Honório e Prestes.
CRUZEIRO-RS: Edmundo; Espir e Cauduro; De Lorenzi, Nestor e Russo; Hermínio, Vanário, Fernando (Marzola), Souza e Cascão.
Realizaram-se ontem nesta capital os encontros entre os clubes que disputam o campeonato rio-grandene de football, com os seguintes resultados: Internacional 3 x Cruzeiro 2; Porto Alegre 2 x Americano 1.
Fonte: O Imparcial (RJ), 25/06/1935, p. 10. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/107670_03/334. Acesso em: 07 ago. 2023.
O GRANDE EMBATE DE ONTEM
Em movimentada peleja, o Internacional, por 3 a 2, venceu o Cruzeiro
Na primeira fase os azuis tiveram ascendência nas jogadas, para esmorecerem no final
Nestor, do Cruzeiro, e Natal, dos colorados, foram as figuras de mais evidência
[...] A importante peleja futebolística travada ontem no Estádio dos Eucaliptos, entre as fortes esquadras do Sport Club Internacional, campeão de 1934, e do Esporte Clube Cruzeiro, vice-campeão, alcançou o sucesso esperado. Este embate que vinha sendo aguardado com o mais vivo interesse, levou ao gramado da rua Silveiro, uma assistência regular.
A luta teve duas fases distintas: a primeira, em que o Cruzeiro, agindo com mais coesão e mais entusiasmo, pondo em sério embaraço a defesa colorada, que se multiplicou para conter os formidáveis arremessos da linha comandada pelo jovem Fernando, destacando-se naquela o zagueiro Natal, que foi um dos seus baluartes; a segunda fase, os cruzeiristas afrouxando um pouco o ardor e a resistência, deram lugar ao adversário para refazer as suas linhas e daí a predominância que estes mantiveram no final.
A vitória periclitou até os últimos minutos, pois o Internacional obteve o ponto que a garantiu, quando faltavam apenas 6 para o término da luta.
Desta forma a batalha entre colorados e cruzeiristas agradou plenamente, não só pelas jogadas, como principalmente pelo cavalheirismo e lealdade que reinou durante o embate. Nada se registrou de anormal.
O público, bem compreendendo o apelo que lhe foi feito, manteve uma linha impecável de educação.
OS QUADROS
Feito o sorteio dos campos, o Internacional escolheu o lado de baixo, ficando o Cruzeiro ao lado da cancha de cestobol.
Internacional: — Penha; Natal e Risada; Garnizé, Poroto e Levi; Floriano, Tupan, Mancuso, Honório e Prestes.
Cruzeiro: — Edmundo; Espir e Cauduro; Delorenzi, Nestor e Russo; Hermínio, Vanário, Fernando (depois Marzola), Souza e Cascão.
O Cruzeiro inicia a partida e os locais logo avançam, praticando Edmundo a primeira defesa.
Os cruzeiristas escapam pela esquerda e Cascão atira forte, intervindo Penha. Fernando anula uma investida, por se achar em impedimento.
Falta de Poroto. Bate Delorenzi. Os colorados cruzam passes na frente do retângulo visitante.
Souza atira para Cascão e este perde para Natal. Mão de Poroto. Cobra Espir, entregando para Fernando, sendo inutilizado o ataque por impedimento de Hermínio.
Hermínio atrapalha-se e deixa que Risada rechace o avanço. Falta de Delorenzi. Jogo no centro do campo. Mão de Garnizé. Penha, apurado, obriga-se a escantear. Hermínio bate sem resultado. Falta de Vanário. Impedimento de Fernando. Souza defende uma entrada violentíssima de Garnizé.
Risada titubeia diante de uma avançada dos alvi-celestes. Souza e Cascão abusam do jogo pessoal.
Outro ataque cruzeirista é anulado por se achar impedido Hermínio. Ataque colorado que não surte efeito. Souza finta três vezes seguidas Poroto. Cascão recebe de Souza e manda fora.
Registra-se uma ligeira escapada dos colorados. Delorenzi desvia o couro para a direita, que é apanhado por Floriano, devolvendo-o imediatamente para o centro. Mancuso acompanha a trajetória da esfera, em oportuno golpe, consegue a enviar ao fundo da rede, apesar do esforço de Edmundo para a deter. Estava feito, assim, aos 15 minutos de jogo, o primeiro tento do Internacional.
O público aplaude o feito do centro colorado.
O balão vai ao centro do campo e os colorados investem e Cauduro intervém com firmeza. Sola de Cascão. Falta de Honório. Mão de Cauduro. Impedimento de Prestes, inutilizando a carga dos colorados. Boa defesa de Edmundo. Falta de Prestes. Falta de Nestor. Periga o reduto de Penha.
Delorenzi, após fazer magnífica finta, perde para Tupan. Cascão atira com violência e o balão bate na trave. Magistral defesa de Edmundo de um pelotaço de Tupan.
Vanário, em impedimento, evita boa oportunidade para os cruzeiristas igualarem o score.
Canto de Natal. A defesa colorada está em apuro, devido a insistência dos arremessos contrários. Poroto concede escanteio. Boa defesa de Penha. Honório alonga e Prestes não consegue apoderar-se do couro. Difícil tirada de Penha. Mão de Honório. Mão de Natal junto à área perigosa. O zagueiro Cauduro foi o destacado para cobrar a falta e o faz com violentíssimo tiro que, apesar do couro ter batido na mão de Penha, foi à rede, assinalando o primeiro tento do Cruzeiro aos 28 minutos.
A assistência aplaude com entusiasmo o empate do jogo.
O conjunto cruzeirista animado com este feito, atira-se para a frente resoluto, dando insano trabalho aos defensores colorados. O arco de Penha periga constantemente.
Penha está jogando afobado com as investidas da linha visitante. A bola é substituída.
Os cruzeiristas avançam e Risada salva o posto de Penha. Falta de Mancuso, legítimo "rabo de arraia". Falta de Vanário. Falta de Poroto. Nestor e Honório disputam a bola. Impedimento. Mão de Natal. Sola de Nestor, por engano do juiz, pois, Risada é quem faz a falta. Canto de Espir motivado por avanço colorado. Mão de Hermínio. Prestes está "pescando" e o juiz não percebe.
Com avançadas de lado a lado, termina a primeira fase com o seguinte resultado:
Internacional — 1
Cruzeiro — 1
Durante o descanso, faziam-se os mais desencontrados comentários. Os partidários do clube do Caminho do Meio, diante da magnífica performance demonstrada pelos seus representantes, confiavam plenamente num grande triunfo.
Enquanto isso, os colorados aguardavam a célebre "virada" e com ela a consequente vitória.
E foi assim mesmo. Os cruzeiristas afrouxaram um pouco e os contrários se impuseram, não tão facilmente, mas após ingentíssimos esforços.
O SEGUNDO TEMPO
Reinicia-se o embate. O Internacional dá a saída e não conseguem atravessar a linha média cruzeirista. Uma investida internacionalista é interceptada por Espir. Falta de Poroto. Perigoso ataque dos locais. Floriano escapa pela ala e desfere forte tiro que Edmundo apara com firmeza. Falta de Poroto. Falta de Tupan. Outra falta de Mancuso perto da área.
Assistência reclama que Cauduro deve cobrar. Este tirando manda o couro pelo lado da meta.
Honório serve a Floriano que atira alto. Souza dá um passe largo e Cascão segura enviando a Fernando, que não alcança o balão. Hermínio centra bem e Cascão põe fora.
Mancuso escapa pelo centro e iludindo a vigilância de Cauduro e Espir, emenda no arco conquistando o segundo tento do Internacional.
Vanário segura o Honório pela camisa. Avançada impetuosa dos colorados e Russo salva brilhantemente, quando a bola ia penetrar na rede.
Os azuis organizam um forte avanço. Natal, na frente do arco, tenta passar a Penha, porém, o trio daqueles entra oportunamente, conseguindo Fernando empurrar a bola para a rede. Está consignado o segundo tento do Cruzeiro.
Diante do perigo que os ameaçava, os colorados conjugam espaços e carregam com impetuosidade, porém, encontram pela frente forte barreira.
Edmundo apara um tiro de Prestes, mas não pôde deter o couro, salvando novamente Russo.
Os colorados estão jogando com mais precisão, porém, todos os esforços são inúteis, pois, a defesa cruzeirista está agindo com desassombro. Penha "cochila" e quase que os visitantes conseguem outro ponto. Edmundo apara um tiro de Prestes, mas não pôde deter o couro.
Está em perigo o seu reduto e Russo salva milagrosamente. Mão de Floriano. Falta de Garnizé. Marzola substitui Fernando. O Internacional domina algum tempo. Uma carga cruzeirista é fracassada, pois Cascão atira por cima. Falta de Vanário. Defesa regular de Edmundo. Levi atira de longe. Mão de Vanário. Falta fora da área máxima do Cruzeiro que batida por Risada não surte efeito. Falta de Honório. Machuca-se Nestor. O jogo é paralisado. Canto de Delorenzi, bate Prestes e o couro vem à cabeça de Poroto, que aninha na rede visitante.
Era o tento da vitória do Internacional aos 35 minutos de jogo.
Falta de Tupan. Cargas coloradas de nulo efeito. Defesa espetacular de Edmundo. Cascão passa a Marzola e este emenda no canto direito do retângulo e Penha segura.
Nova defesa de Penha e pouco depois findava a partida com o resultado abaixo:
Internacional — 3
Cruzeiro — 2
Apreciações
O bando colorado mereceu a vitória, embora no primeiro tempo jogasse displicentemente, sem ardor e sem conjunto. Porém, na fase final, os seus componentes se entregaram a um trabalho profícuo, com mais homogeneidade e daí o resultado da partida.
Penha — Esteve bem. Fez algumas defesas difíceis. As duas bolas que deixou entrar eram inevitáveis.
Risada — Um pouco nervoso, mas se desempenhou a contento.
Natal — O jovem zagueiro, apesar de ter sido o causante dos dois pontos do Cruzeiro, foi a primeira figura da defesa colorada. Inteligente e oportuno.
Garnizé — Teve imenso trabalho para conter a ágil ala Souza-Cascão.
Poroto — Falhou quase completamente na primeira fase. No período final, porém, conseguiu se reabilitar, marcando com proficiência o trio central adversário.
Levy — Pela pouca eficiência do extrema Hermínio, teve um trabalho fácil, sobrando-lhe tempo para ajudar o centro.
Floriano — Ainda não conseguiu impressionar. É lerdo e não sabe se aproveitar dos ensejos que lhes proporcionam os companheiros.
Tupan — a "maravilha negra" não apareceu. Fez uma jogada medíocre.
Mancuso — Jogou bem. Distribuiu com acerto e foi um oportunista.
Honório — Desenvolveu muito esforço, porém, improdutivo. É ainda bastante impetuoso.
Prestes — Bem marcado, pouco fez.
—
O conjunto cruzeirista agiu perfeitamente. No primeiro tempo foi senhor do terreno, mas para o fim, esmoreceu bastante, dando lugar à "virada" contrária e à sua consequente derrota. Se não fosse isso, talvez o resultado teria sido outro.
Edmundo — Esteve nos seus dias. Fez algumas defesas de sensação. Os três gols que entrou em sua rede eram indefensáveis.
Espir — Jogou regularmente.
Cauduro — Abandonando o jogo "pesado", se transformou num zagueiro firme e resoluto.
Delorenzi — Foi um bom médio. Anulou completamente a ação de Prestes.
Nestor — Foi o "pivot" da defesa. Jogou muito e com inteligência. Tupan nada fez devido a marcação daquele.
Fernando — Agiu a contento. É muito novo, mas não arreceia do adversário.
Souza — Esteve bem. Esforçou-se bastante e combinou perfeitamente com os companheiros.
Cascão — O veloz extrema foi um constante perigo para o adversário.
Marzola — Que substituiu Fernando, nos últimos minutos, não comprometeu.
O juiz
Dirigiu a partida o Sr. Cantílio de Oliveira, do Americano.
A atuação de s. s., apesar de pequenas falhas, principalmente na marcação dos impedimentos, agradou. Puniu com rigor o jogo bruto.
A preliminar
Disputaram a preliminar as equipes secundárias vencendo o Cruzeiro por dois tentos a zero.
Fonte: A Federação (RS), 24/06/1935, ano 1935, n. 018, p. 7. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/77649. Acesso em: 25 mar. 2025.