Salve, coloradagem! Esse é o primeiro post da série "Os Anônimos".
Nesse espaço, você conta sua história de colorado, suas maiores emoções com o clube, decepções, expectativas, perspectivas... Enfim, é a sua voz ganhando uma amplitude bem maior.
O primeiro dos nossos anônimos é o canoense Diego Londero. Conselheiro do clube desde 2015, Diego faz parte do movimento "O Povo do Clube" e deixa aqui a sua história. Boa leitura!
Krig-ha, Bandolo!
Nascer numa família humilde no final da década de 80 tendo um pai louco por futebol e não ser colorado é quase que descabível, absurdo, inimaginável. E comigo não foi diferente. E tinha como ser? Num bairro cheio de piá de joelho ralado jogando bola em campo de urtiga e rua de pedras, e com um pai dentro de casa corneteiro, xingão, bobo e apaixonado pelo Inter tornar-se colorado fica fácil por demais.
E assim foi, e assim é. Aprendi a amar o Inter numa época desgraçada, muquirana e sofrível, onde qualquer adjetivo que expresse descontentamento com o futebol alvi-rubro é justo e entendível. Apenas nós, colorados dessa “estação” sabíamos o que era ir para o colégio e ter mais um, dois, às vezes três colorados pra dividir as cornetas azuis contigo. Na rua era a mesma coisa, tu contava nos dedos os vermelhos. E eram os mais cascudos, os mais chatos, os mais orgulhosos. Aquele bando de gremistas jamais nos entenderiam.
Tenho uma certa convicção que quanto mais sofrida é a fase de um time de futebol mais fanática, espontânea e verdadeira será sua torcida. Talvez porque seja na doença que surgem os grandes amores. E nisso tenho que agradecer ao meu pai, mesmo hoje ele estando afastado.
Meu pai nunca foi de ir ao Beira-Rio, talvez nunca tenha ido. Ele era o “torcedor de radinho” mesmo, e meu Senhor, como aquele véio se grudava com o radinho. Até quando éramos premiados com o jogo na TV lá estava ele com a orelha colada no alto-falante do radio só pra ouvir o Haroldo de Souza gritar "adivinheee"... Tá, ok, a narração do Haroldo era inigualável mesmo. Eu vendo e ouvindo tudo aquilo somado às camisas que ele me dava do Inter (tudo camelô) ia ficando mais louco, mais vermelho, mais apaixonado ainda. E era uma época maravilhosa, mesmo o Inter não ganhando quase nada, eu me sentia feliz acompanhando o Inter com meu pai no rádio, e entre um jogo e outro, sempre tocava o disco Krig-ha, Bandolo! do Raulzito, outra paixão que meu coroa deixou.
Como o velho Orion não ia a jogos eu demorei pra ir ao gigante da Beira-Rio. Só fui conhecer ele em 2003 num Inter x "curinthia" no qual ganhamos de virada de 2 a 1, público 18.665 e eu é claro fui de coreia. Lembro que fui com 17 pilas pro jogo. Comi, bebi e ainda cheguei com troco em casa. Que tarde, *uta que pariu! Lembro como se fosse ontem, desde a entrada por aquele túnel baixo do antigo Beira-Rio até a festa que presenciei no setor mais punk e democrático que esse gigante de concreto já teve.
Conforme os anos iam passando e eu conseguia catar um pouco de dinheiro com a mãe eu sempre dava um jeito de ir aos jogos, até o dia que comecei a trabalhar e ter meu próprio dinheiro, aí meu velho...aí não parei mais. Podia ser Inter C num gauchão ou libertadores eu estaria lá igual. Aquela arquibancada, aquele cimento, aquelas pessoas te tiravam de casa naturalmente. Era uma maravilha!
Não era só de Beira-Rio que eu vivia o futebol, aqueles muitos Gre-Nais que fui no Olímpico me marcaram pra sempre. O primeiro em 2004, acompanhado pelo meu irmão Rafael Malaquias. Pela manhã um jogo entre professores e alunos no colégio onde estudávamos resultou num nariz quebrado do Malaquias, juntamos os cacos e fomos ao Olímpico naquela tarde chuvosa acompanhar nosso glorioso meter 3 a 1 nos azuis, gols de Diego, Rodrigo Paulista e FernanDeus. Não posso descrever, nem que resumidamente, jogos inesquecíveis que fui. Afinal foram muitos que nem eu mesmo sei a quantidade ou os mais intensos, felizes e loucos.
Hoje, estou com 26 anos, continuo indo a todos os jogos do colorado, faço parte e sou apaixonado pela Camisa 12 e em 2015 me tornei conselheiro pelo movimento "O Povo do Clube" que, como muitos já sabem, defende a volta da identidade popular do nosso S.C. Internacional.
Confesso que ir a jogos de futebol hoje não é mais tão excitante. O futebol como um todo virou um negócio, um jogo de intere$$es onde quem mais perde é justamente quem o faz, o torcedor. Ingressos caros, estádios recheados de cadeiras, criminalização das torcidas e da nossa maneira de torcer estão esvaziando cada vez mais todos os estádios de nosso país, principalmente aqui, onde até pouco tempo enchíamos o peito pra gritar Clube do Povo. Hoje quem controla nosso colorado parece que tem vergonha da palavra “povo”. O inimigo do futebol usa terno e gravata. Mas isso é papo pra outrora.
No mais, sigo ao lado do clube que meu pai me ensinou a amar, com a esperança de um dia ver de volta ao Beira-Rio os coreanos, o pessoal do radinho, o preto, o pobre. O Povo.
Saudações alvirrubras de um louco pelo S.C. Internacional e toda sua história.
SALVE TODA CHINELAGEM DO INTER!