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Os Anônimos - Helena Marcon Terres (Canoas)

Helena Marcon Terres, de Canoas (RS)

Pelo facebook, a colorada Helena conta a sua trajetória como torcedora, da infância ao péssimo momento que vivemos atualmente. Sua história é concomitante à toda uma geração que viu o Inter ressurgir do ostracismo às grandes glórias do século XXI.
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Me deixem falar sobre o Inter.
Se vocês não sabem, amigos, sou colorada. Eu tinha 5 anos quando assisti ao primeiro jogo de futebol da minha vida. Meu pai, colorado fanático, torcia enlouquecido, um pouco embriagado diga-se de passagem, pelo que chamava orgulhosamente de clube do povo do Rio Grande do Sul. Com 5 anos, me importei pela primeira vez com aquilo tudo – e vi o Inter perder. Me lembro como se fosse hoje: naquele dia decidi, desconsiderando a camiseta do Grêmio que havia ganhado, que eu usaria todos os meus poderes mágicos de criança para fazer o Inter vencer. Claro, se o Inter não ganhava era porque meu pai, adulto coitado, não poderia mudar aquilo. Eu sim. Então passamos a assistir a todos os jogos juntos, ele e eu. Eu rezava baixinho, suava naquele uniforme largo que ele me comprou, e o Inter... bem, ele não ganhava, mas o que importava? Eu, meu pai e o gigante da Beira Rio éramos um só, e eu amava esse sentimento. Os longos anos 1990 não tirariam a alegria que os jogos traziam pra mim. Fosse no estádio, num bar qualquer (pois é, meu pai não era muito responsável), ou em casa mesmo, torcer pelo nosso Colorado era um evento mágico. Ao meu redor, todos eram gremistas, mas e daí?

Aí vieram os anos 2000. Eu chorei, ri, pulamos numa piscina de plástico cheia de água suja – aí sim meu pai e eu embriagados, ele de cerveja, eu de emoção. Vimos nosso time ganhar tudo o que era possível. Nossos corações não cabiam no peito. Apenas dois anos depois, meu pai faleceu. Foi duro. Minha vida mudou completamente e assistir aos jogos parecia não ser mais a mesma coisa. Me parecia também que o Inter se perdia em meio a tantos slogans estranhos.
Hoje meu time está rebaixado. A gestão do nosso Inter nos envergonhou, não só pelo desempenho do time, mas por declarações e atitudes desprezíveis. Imagino rindo as palavras pouco amigáveis (pra dizer o mínimo) que meu pai usaria se estivesse vivo. Mas sabe? Ninguém pode nos tirar o que o Inter nos deu. Amigos, isso não é só sobre futebol. Ter perdido e ganhado com o Inter fez parte da minha construção enquanto pessoa. Tenho uma coleção de caixinhas de memórias emocionais sobre isso – e não tem série B que consiga apagar.
Bem, ontem me associei ao Inter. Acho que está mais que na hora de usarmos nossos poderes mágicos de novo.

Os Anônimos - Diego Londero (Canoas)

Salve, coloradagem! Esse é o primeiro post da série "Os Anônimos".
Nesse espaço, você conta sua história de colorado, suas maiores emoções com o clube, decepções, expectativas, perspectivas... Enfim, é a sua voz ganhando uma amplitude bem maior.

O primeiro dos nossos anônimos é o canoense Diego Londero. Conselheiro do clube desde 2015, Diego faz parte do movimento "O Povo do Clube" e deixa aqui a sua história. Boa leitura!
Krig-ha, Bandolo!

Nascer numa família humilde no final da década de 80 tendo um pai louco por futebol e não ser colorado é quase que descabível, absurdo, inimaginável. E comigo não foi diferente. E tinha como ser?  Num bairro cheio de piá de joelho ralado jogando bola em campo de urtiga e rua de pedras, e com um pai dentro de casa corneteiro, xingão, bobo e apaixonado pelo Inter tornar-se colorado fica fácil por demais.

E assim foi, e assim é. Aprendi a amar o Inter numa época desgraçada, muquirana  e sofrível, onde qualquer adjetivo que expresse descontentamento com o  futebol  alvi-rubro é justo e entendível.  Apenas nós, colorados dessa  “estação” sabíamos o que era ir para o colégio e ter mais um, dois, às vezes três colorados pra dividir as cornetas azuis contigo. Na rua era a mesma coisa, tu contava nos dedos os vermelhos. E eram os mais cascudos, os mais chatos, os mais orgulhosos. Aquele bando de gremistas jamais nos entenderiam.

Tenho uma certa convicção que quanto mais sofrida é a fase de um time de futebol mais fanática, espontânea e verdadeira será sua torcida. Talvez porque seja na doença que surgem os grandes amores. E nisso tenho que agradecer ao meu pai, mesmo hoje ele estando afastado.

Meu pai nunca foi de ir ao Beira-Rio, talvez nunca tenha ido. Ele era o “torcedor de radinho” mesmo, e meu Senhor, como aquele véio se grudava com o radinho.  Até quando éramos premiados com o jogo na TV lá estava ele com a orelha colada no alto-falante do radio só pra ouvir o Haroldo de Souza gritar "adivinheee"... Tá, ok, a narração do Haroldo era inigualável mesmo. Eu vendo e ouvindo tudo aquilo somado às camisas que ele me dava do Inter (tudo camelô) ia ficando mais louco, mais vermelho, mais apaixonado ainda.  E era uma época maravilhosa, mesmo o Inter não ganhando quase nada, eu me sentia feliz acompanhando o Inter com meu pai no rádio, e entre um jogo e outro, sempre tocava o disco Krig-ha, Bandolo! do Raulzito, outra paixão que meu coroa deixou.

Como o velho Orion não ia a jogos eu demorei pra ir ao gigante da Beira-Rio. Só fui conhecer ele em 2003 num Inter x "curinthia" no qual ganhamos de virada de 2 a 1, público 18.665 e eu é claro fui de coreia. Lembro que fui com 17 pilas pro jogo. Comi, bebi e ainda cheguei com troco em casa. Que tarde, *uta que pariu! Lembro como se fosse ontem, desde a entrada por aquele túnel baixo do antigo Beira-Rio até a festa que presenciei no setor mais punk e democrático que esse gigante de concreto já teve.

Conforme os anos iam passando e eu conseguia catar um pouco de dinheiro com a mãe eu sempre dava um jeito de ir aos jogos, até o dia que comecei a trabalhar e ter meu próprio dinheiro, aí meu velho...aí não parei mais. Podia ser Inter C num gauchão ou libertadores eu estaria lá igual. Aquela arquibancada, aquele cimento, aquelas pessoas te tiravam de casa naturalmente. Era uma maravilha!

Não era só de Beira-Rio que eu vivia o futebol, aqueles muitos Gre-Nais que fui no Olímpico me marcaram pra sempre. O primeiro em 2004, acompanhado pelo meu irmão Rafael Malaquias. Pela manhã um jogo entre professores e alunos no colégio onde estudávamos resultou num nariz quebrado do Malaquias, juntamos os cacos e fomos ao Olímpico naquela tarde chuvosa acompanhar nosso glorioso meter 3 a 1 nos azuis, gols de Diego, Rodrigo Paulista e FernanDeus. Não posso descrever, nem que resumidamente, jogos inesquecíveis que fui. Afinal foram muitos que nem eu mesmo sei a quantidade ou os mais intensos, felizes e loucos.

Hoje, estou com 26 anos, continuo indo a todos os jogos do colorado, faço parte e sou apaixonado pela Camisa 12 e em 2015 me tornei conselheiro pelo movimento "O Povo do Clube" que, como muitos já sabem, defende a volta da identidade popular do nosso S.C. Internacional.

Confesso que ir a jogos de futebol  hoje não é mais tão excitante. O futebol como um todo virou um negócio, um jogo de intere$$es onde quem mais perde é justamente quem o faz, o torcedor. Ingressos caros, estádios recheados de cadeiras, criminalização das torcidas e da nossa maneira de torcer estão esvaziando cada vez mais todos os estádios de nosso país, principalmente aqui, onde até pouco tempo enchíamos o peito pra gritar Clube do Povo. Hoje quem controla nosso colorado parece que tem vergonha da palavra “povo”. O inimigo do futebol usa terno e gravata. Mas isso é papo pra outrora.

No mais, sigo ao lado do clube que meu pai me ensinou a amar, com a esperança de um dia ver de volta ao Beira-Rio os coreanos, o pessoal do radinho, o preto, o pobre. O Povo.
Saudações alvirrubras de um louco pelo S.C. Internacional e toda sua história. 

SALVE TODA CHINELAGEM DO INTER!