CITADINO 1942 - 1º TURNO - INTERNACIONAL 5 X 2 SÃO JOSÉ-RS
Data: 12/04/1942
Local: Timbaúva - Porto Alegre (RS)
Juiz: Joaquim Rodrigues Almeida
Gols: Villalba ?’/1 (I); Nena ?’/1 (I); Pita, pênalti ?’/1 (S); Carlitos, pênalti ?’/1 (I); Villalba ?’/2 (I); Villalba ?’/2 (I); Elustondo ?’/2 (S).
INTERNACIONAL: Ivo Winck; Alfeu e Nena; Assis, Dárcio e Abigail; Sebinho, Ruy Motorzinho, Villalba, Moacyr e Carlitos.Técnico: Ricardo Díez.
SÃO JOSÉ-RS: De Lorenzi; Pita e Rodolfo; Viana, Badanha e Kucirat; Chinês, Décio, Alemãozinho, Elustondo e Amado.
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"Ivo afasta a pelota com os punhos, quando Alemãozinho se dispunha a cabecear. Aparecem, ainda, na foto Assis e Alfeu, este último a melhor figura da defesa colorada". Fonte: Sport Illustrado (RJ) |
O GRÊMIO E O INTERNACIONAL FORAM OS VENCEDORES DOS PRIMEIROS JOGOS DO CAMPEONATO
[...] O segundo prélio do campeonato foi disputado entre os quadros do Internacional e do São José. Este embate levou ao estádio da Timbaúva, onde também fora disputada a primeira partida, uma assistência bastante numerosa. Os "zequinhas", considerados a "asa negra" do Internacional, viram-se no fim dos 90 minutos, abatidos pelos pupilos de Ricardo Díez, que evidenciaram maior preparo e melhor classe. O "onze" colorado, que vem sendo cuidadosamente treinado pelo "coach" oriental Ricardo Díez, apresentou-se muito bem, deixando bem impressionada a sua numerosa "torcida". Os colorados, embora com a falta de dois titulares da linha de ataque, Russinho e Tesourinha, demonstraram um bom entendimento. Bastante coesos e homogêneos, não tiveram dificuldades em balancear as redes do arco de De Lorenzi por cinco vezes. Como no primeiro prélio, a "torcida" colorada viu com bastante surpresa um novo elemento no centro da linha media. Dércio, uma descoberta de Ricardo Díez, ocupou a "chave" do "onze" colorado. Este novo elemento não decepcionou, até pelo contrário, demonstrou ter bastantes aptidões para a difícil posição de centro-médio. Como o Grêmio, o Internacional andava trabalhando ativamente no sentido de solucionar o centro da linha média. Parece que os colorados foram mais felizes que os tricolores. Entretanto, como é a primeira partida de Dércio, não se pode fazer um juízo seguro de suas possibilidades, embora em seu primeiro compromisso tenha se saído bem. A "hinchada" colorada esta satisfeita com o homem. Devemos aguardar os próximos jogos para ver se Dércio se conduzirá da mesma maneira. O São José, embora em "classe" não superasse o seu forte antagonista, mostrou possuir um conjunto, que por certo virá a dar muito trabalho aos "maiorais" do nosso futebol. Possuidor de uma ótima retaguarda e com uma linha dianteira bastante regular, os "zequinhas" proporcionarão ao público no decorrer desta temporada, por certo, ótimas jogadas. Desta forma, os colorados e "zequinhas" brindaram o público desportivo que compareceu ao estádio da Timbaúva com um belo espetáculo futebolístico.
Os quadros combatentes apresentaram-se assim constituídos:
Internacional: — Ivo; Alfeu e Nena; Assis, Dércio e Abigail; Sebinho, Rui, Villalba, Moacir e Carlitos.
São José: — De Lorenzi; Pita e Rodolfo; Viana, Badanha e Kucerat; Chinês, Décio, Alemãozinho, Elustondo e Amado.
O quadro vencedor, apresentando o arqueiro da nossa última seleção, Ivo, em sua meta, teve-a bem guarnecida. O ex-arqueiro "zequinha", jogando contra o seu antigo clube, teve oportunidade de aparecer bem. A zaga Alfeu-Nena teve em Alfeu o melhor jogador em campo. O dinâmico "back" do Internacional teve uma atuação destacadíssima. Aliás, Alfeu é um dos jogadores mais regulares do "onze" colorado, pois sempre joga com muito ardor e com muita segurança. Nena também esteve bastante firme. É um companheiro à altura de Alfeu. Este é o melhor elogio que se lhe pode fazer. Nena foi o autor de um dos cinco tentos de seu bando. Este tento, inédito na história do nosso futebol, merece, portanto, que seja registrado nesta crônica com nota especial.
Os colorados carregavam insistentemente. Dentro da área, Pita rechaça forte, indo o couro parar na linha que divide o campo, aos pés de Nena, que ajeita a pelota e despeja um violento tiro. A bola desce traiçoeira e perigosamente sobre o arco adversário, tendo De Lorenzi avançado para defendê-la, sem contudo conseguir, pois a pelota cobrindo-o, vai alojar-se no fundo das redes. Este gol foi 100% sensacional. A linha média composta por Assis, Dércio e Abigail, esteve muito boa. Defendeu bastante e auxiliou eficientemente o ataque. Na vanguarda, o "center" argentino Villalba foi o melhor, tendo, também, sido o "scorer" com três tentos magnníficos. Rui, atuando na meia-direita, como sempre, foi incansável. Moacir, abusando muito nos "dribblings", prejudicou em algumas ocasiões as cargas da linha. Mesmo assim, foi bom. Sebinho, fraco. Carlitos não tem repetido as jogadas que lhe autentificaram "crack". Estará decaindo? Nesta partida mostrou-se em plano bem inferior.
No "onze" derrotado, Di Lorenzi esteve numa tarde bastante infeliz. Porém, pode-se assegurar que é um otimo goleiro. Pita, muito bom, teve um companheiro. Rodolfo, que embora não tenha atuado mal, abusou do jogo violento, onde apareceu em destaque. A linha média do Sao José jogou muito bem. Viana, ex-dianteiro do Porto Alegre, improvisado em médio, "deu ponto". Bastante ativo, o novo "half", apareceu em destaque. Viana, que nunca passou de medíocre atacante, poderá aparecer como um exímio médio no decorrer desta temporada. Badanha repetiu as jogadas que lhe credenciaram como centro-médio reserva da nossa última seleção. Badanha desempenhou-se muito bem. Kucerat, outro elemento valioso do São José. Jogou muito, mas também como Rodolfo, abusou do jogo violento. Na dianteira "zequinha", Décio foi o melhor, o mais trabalhador. Elustondo, em segundo plano. Chinês, discreto. Alemão, o tipo da "mosca tonta", nada fez. Amado somente na fase final justificou a sua presença em campo, alvejando seguidamente a meta adversária.
A primeira fase desta partida terminou com 3 tentos a um favorável ao Internacional. Tentos de Villalba, Nena, Pita (pênalti) e Carlitos (pênalti). Na segunda fase, enquanto Villalba fez mais dois pontos, Elustondo conseguiu o segundo ponto do São José.
O JUIZ
Tanto na primeira, como na segunda partida, o juiz foi o Sr. Joaquim Rodrigues Almeida, o popular "Juca", que atualmente parece ser o "juiz único" de Porto Alegre. Em ambas partidas "Juca" apitou com correção e imparcialidade.
Atualmente, em Porto Alegre, parece não haver mais ninguém que possa pegar num apito para arbitrar uma partida de futebol. Parece até que só existe o "Juca", que se vê desta forma coagido a monopolizar o mercado.
Em Porto Alegre, esta questão de juízes é coisa bastante original. De tempos em tempos tiram a "assinatura" para cima de um. Como já disse, atualmente é o popular "Juca". Anteriormente foram Henrique Faillace, Álvaro Silveira, Alfredo Cesaro e agora é a vez do "Juca".
Fonte: RODRIGUES, Roberval. Sport Illustrado (RJ), n. 212, 30 abr. 1942, p. 22. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/182664/7829. Acesso em: 29 jun. 2025.