26/08/1928 - Citadino 1928 - 2º turno - Grêmio 2 x 2 Internacional

O GRANDE MATCH DE DOMINGO
Domingo, entre os matches do campeonato da cidade, figura o grande jogo entre o Grêmio e o Internacional, os dois tradicionais rivais do foot-ball local.
É grande o entusiasmo nos meios desportivos, o que faz prever uma partida sensacional disputadíssima, como sempre são as entre esses dois valorosos clubes.
Fonte: A Federação (RS), 20/08/1928, ano 1928, n. 192, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/64592. Acesso em: 12 set. 2024.

CITADINO 1928 - 2º TURNO - GRÊMIO 2 X 2 INTERNACIONAL
Data: 26/08/1928
Local: Baixada - Porto Alegre (RS)
Juiz: Alfredo Melecchi
Gols: Telêmaco 2’/1 (G); Esperança ?’/1 (G); Ribeiro ?’/2 (I); Ramão ?’/2 (I).
GRÊMIO: Moeller; Eurides Sardinha e Maisonave; Adão, Telêmaco e Carillo; Domingos, Luiz Carvalho, Odorico, Coró e Esperança.
INTERNACIONAL: Bard; Pontes e Grant; Ribeiro, Lampinha e Moreno; Nenê, Dirceu Alves, Donaldo Ross, Miro Vasques e Ramão.

NO EMBATE PRINCIPAL , O INTERNACIONAL EM ASSOMBROSA "VIRADA" , EMPATOU COM O GRÊMIO PELO SCORE OFICIAL DE 2 A 2
Durante esta temporada, os amantes do football ainda não tinham tido oportunidade de assistir a uma partida tão movimentada, tão intensa e tão empolgante como a que se feriu ontem, no campo da "baixada" entre as valorosas primeiras esquadras do Grêmio e do Internacional.
Desde cedo, grande multidão transportou-se para ali, enchendo os pavilhões e as arquibancadas, ansiosa pelo embate que vinha preocupando a atenção do mundo desportista desta capital e do interior do Estado.
Quando os jogadores entraram no gramado, a assistência começou a vibrar, clamando a torcida a cada um dos seus preferidos.
E essa torcida desencadeou-se formidável e ensurcedora desde o kick inicial até o trilar final do apito.
Felizmente, não se registrou nenhum incidente que empenhasse o brilhantismo indiscutível da partida.
Coube a saída ao Internacional, às 15 horas e 55 minutos. Dois minutos após, Telêmaco, por um tiro livre em punição a uma falta ocasional de Lamipinha em Luiz, conseguiu o 1º gol (Grêmio) devido a uma colocação má do keeper Bard.
A torcida gremista vibrou intensamente.
Há uma forte reação dos alvi-rubros, que trazem em perigo o gol de Moeller, mordendo Fabrício e Nenê magníficas ocasiões de abrir o score para as suas cores.
Os gremistas reorganizam os seus ataques e obrigam a linha de halves internacionalista e a parelha de backs a um trabalho intenso e meticuloso.
Recrudesce o ataque dos rapazes da Chácara dos Eucaliptos, que exercem ligeiro domínio no campo adversário. Nenê desfere formidável tiro de meia altura que Moeller defende, quando todos julgavam iminente a queda da sua vala.
Tornam ao ataque os tricoleres e, de um passe da direita, Esperança que se encontrava um tanto adiantado, tendo pela frente apenas o keeper, marca o 2º gol (Grêmio) que é atroadoramente, saudado pela torcida tricolor.
Animados com esse feito, os gremistas, conduzidos por Luiz, redobram os ataques, mas a linha média colorada, que está vigilante, e a parelha de backs interceptam-os e mandam na pelota para a frente. Ross entra a distribuir magistralmente o jogo para os dianteiros, cujos tiros finais são mal arrematados.
Alves, Fabrício e Miro perdem, por isso, ótimas oportunidades de marcar gol.
Registram-se escapadas gremistas pela ala direita e pela esquerda, perdendo Esperança boa oportunidades de marcar gol.
A linha média internacionalista acentua o seu trabalho de interceptar e de passar, relembrando os seus áureos tempos.
Pontes afirma-se na defesa e Grant se realça nas tiradas.
Os tricolores conseguem escapar pela ala direita, aproveitando um tiro alto de Sardinha, que joga com segurança; Moreno defende um tiro de Luiz, indo a bola ao alcance de Odorico, que desfere forte pelotaço aparado por Bard.
O jogo volta ao terreno tricolor e Alves perde duas belas ocasiões de abrir a contagem.
Revezam-se os ataques, sendo os dos alvi-rubros mais frequentes e mais intensos. Os tricolores veem as suas investidas desfeitas pela linha média, onde Lampinha, apesar de afastado dos campos havia muitos jogos, aínda manifesta as suas brilhantes qualidades de excelente centro.
Com um tiro de Alves, que Maisonave, desvia, termina o 1º tempo.
No intervalo do descanso regulamentar, tecem-se os mais desencontrados comentários sobre o desfecho da luta. Ao passo que a torcida gremista está confiante na vitória pelo resultado já obtido, a torcida internacionalista não; esmorece e confia no ardor dos seus prediletos, que tudo irão envidar em defesa das suas cores.
Recordam-se as "viradas" de outrora e a que a esquadra colorada fez, ainda há pouco, na partida do turno com o Cruzeiro.
Com essa dupla expectativa, inicia-se o 2º tempo.
Às 16 horas e 50 saem os gremistas. Esperança atira fora.  A linha colorada começa a atacar com intensidade, dando insano trabalho à defesa tricolor que cede terreno, ficando o último reduto a cargo de Moeller, que fez ontem o melhor match da sua carreira.
Ross domina o centro de ataque e, com sua magnífica e bem calculada distribuição, intensifica a ofensiva, onde os seus quatro companheiros se desdobram; mas sem o necessário arremate.
Os dianteiros tricolores, apenas de escapada, conseguem chegar a tiro em gol.
A defesa colorada está firme, homogênea, principalmente a linha média, que joga magistralmente.
A torcida internacionalista anima e aclama os seus jogadores, que levam pela esquerda um ataque fulminante, cometendo Carrillo hand na área perigosa. O juiz marca pênalti e Ribeiro é destacado para batê-lo, tendo-o feito por duas vezes, pois que da primeira, o juiz não sabemos qual o motivo da sua decisão, annulou o kick eficaz do "crack", que, ao segundo toque, derrubou a cidadela de Moeller, marcando, às 17 horas e 13 minutos, o 3º gol (Internacional) que é saudado com uma estrepitosa e demorada ovação da torcida alvi-rubra, cujo entusiasmo aumenta.
A luta recrudecse, e, 4 minutos depois, Fabrício, recebendo um passe da direita, marca o 4º gol (Internacional) fazendo a torcida internacionalista vibrar, empolgada por um entusiasmo indescriptivel. Estava empatada a partida.
A esquadra tricolor tentas reagir, mas os seus esforços são inteiramente dominados.
A linha média do Internacional domina o centro do campo e apoia os dianteiros que atacam vigorosamente, mantendo-se na área tricolor, obrigando Moeller a intervir em defesas seguidas e difíceis.
Miro, aproveitando ótima ocasião faz o 5º gol (Internacional), que o juiz anulou por julgar que aquele jogador houvesse tocado a bola com a mão. Entretanto, ele só apitou depois da bola haver se aninhado na rede de Moeller.
Renovam-se as cargas coloradas, que a defesa tricolor não pôde interceptar, indo desfazer-se, ou por mau arremate e precipitação dos vangunadeiros, ou às mãos de Moeller.
Adão, em uma entrada feliz, consegue tirar a bola já no canto esquerdo da sua vala, quando parecia ter transposto a linha de gol mandando-a a corner.
Manifesta-se a superioridade do jogo e do ímpeto dos "onze" colorados, que trazem em constante apuro a defesa tricolor até o final da partida, não tendo conseguido aumentar a numeração ora por se haverem afobado quando tinham chances magnifícas, ora pelas pegadas seguras de Moeller.
Haviam-se, porém, realizado os vaticínios da "virada", que  proporcionou à assistência um embate empolgante e serviu para apagar, no espírito público, a má impressão deixada pelo clube da "chácara" em partidas anteriores, devido à desorganização do seu team.
Terminado o match, a assistencia colorada invadiu o campo donde tirou aos ombros os seus jogadores, sob aclamações  estrondosas.
— A linha de forwards do Grêmio jogou muito bem, não tendo podido produzir mais diante da técnica e da resistência que lhe ofereceu a defesa colorada, principalmente a linha média.
Entre os halves tricolores, é justo salientar, Adão que foi um denodado, jogando com muito ardor e inteligência. Telêmaco e Carrillo.
Sardinha esteve em um dos seus dias.
Maisonave, bom, conquanto usando um jogo um tanto pesado.
Moeller, ótimo e a ele, sem dúvida, deve o Grêmio ter conseguido empatar.
— A linha dianteira colorada atuou com ímpeto, combinando muito bem, atrapalhando-se, entretanto, por vezes, nos arremates finais. Ross esteve magnífico. O estreante Fabrício mostrou qualidades de um extrema rápido, entrador e perigoso.  Miro, ainda convalescente, bom. Nenê e Alves formaram uma ala cavadora e muito perigosa nas suas investidas, tendo trazido os halves e o back esquerdos em dobadoura.
A linha média, impecável.
A parelha de backs excelente, salientando-se Grant. Pontes firmou jogo no segundo tempo.
Bard, bom, não obstante ter falhado, talvez por nervosismo, no
primeiro gol.
— Ambos os teams apresentaram excelente jogo de conjunto, devendo-se salientar, porém, sem favor, o jogo da esquadra alvi-rubra, principalmente no segundo tempo, durante o qual a sua técnica e o seu ardor sobrepujaram a homogeneidade e o training da sua valorosa adversária.
O score do match não traduz, sequer palidamente, o seu empolgante desdobramento que enclheu de satisfação os amantes do Association.
Sob todos os aspectos foi uma partída merorável, na qual a vitória colorada teria sido justa.
MOVIMENTO TÉCNICO
1º TEMPO
Corners:
Internacional 3
Grêmio 2
Goals:
Internacional 0
Grêmio 2
Faltas:
Internacional 5
Grêmio 8
Hands:
Internacional 2
Grêmio 4
Defesas:
Internacional 5
Grêmio 8
2º TEMPO
Corners:
Internacional 1
Grêmio 8
Goals:
Internacional 2
Grêmio 0
Pênalti:
Internacional 0
Grêmio 1
Faltas:
Internacional 7
Grêmio 8
Hands:
Internacional 1
Grêmio 1
Defesas:
Internacional 3
Grêmio 16

Defesas totais dos guardiões:
Internacional 24
Grêmio 8
— Serviu de juiz o Sr. Alfredo Melecchi, do Sport Club Ypiranga, cuja atuação foi falha, tendo prejudicado mais os colorados do que os tricolores.
— Preliminarmente, jogaram os segundos quadros, vencendo o Grêmio por 5 a 1.
Fonte: A Federação (RS), 27/08/1928, ano 1928, n. 193, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/388653/64645. Acesso em: 12 set. 2024.

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