21/09/1916 - Amistoso - Internacional 0 x 4 Uruguai

MISSÃO ESPORTIVA URUGUAIA
É finalmente hoje que, daqui a pouco vai se realizar o sensacional 2º match internacional, em que vão combater o scratch da Federación Deportiva del Uruguay e o quadro do campeão local Sport Club Internacional.
Certamonte, nessa pugna de hoje, os uruguaios tirarão revanche da sua inesperada derrota de há quatro dias atrás, e então os defensores do pavilhão alvi-rubro firmarão, mais uma vez, contra fortes adversários, seus créditos esportivos conservados gloriosamente.
A atuação do team uruguaio será provavelmente bem diferente da de domingo passado; estão os seus players completamente refeitos da viagem, conhecem o nosso público e ainda mais, o termômetro não marca hoje o calor sufocante que acusava no dia da pugna Uruguaios versus Gremio:
O quadro do Internaciónial, se não lhe fosse suficiente a sensível falta de seu estimado capitão Carlos Kluwe e a ausencia, não menos deplorável, do esforçado back Fidélis, vai entrar em campo com a grande e enorme responsabilidade que a vitória do Grêmio lhe atirou nos ombros.
E as lacunas abertas na destemida eleven da Chácara dos Eulcaliptos foram preenchidas com elementos que, é de esperar, se esforçarão para não deixar cair por terra os louros conquistados, em lutas passadas, pelo leão do association riograndense.
Contra os representantes do campeão de football sul-americano, vai pelejar o quadro gaúcho assim costituído:
Silva
Simão - Travassos
Cunha (cap) - Ribas - Bitú
Túlio - Oswaldo - Bedionda - Miller - Vares
A equipe uruguaia entra com os mesmos elementos vencido pelo Grêmio, mas havendo, sofrido modificações.
Obedecerá à seguinte organização:
Magariños
Artigas - Pereira II
Allen - Bértola - Lavalleja
Castilla - Beheregaray - Pereira I - Maisonave - Altamirano
Allen, que jogara de extrema direita passou para a linha de halves, cedendo seu lugar a Castilla, que ocupava a meia esquerda.
Esta foi preenchida por Maisonave, o qual defendia o centro e que foi entregue aos cuidados de Pereira I, que passou da linha média para a de ataque.
O esperado encontro de hoje vai ser arbitrado pelo conceituado sportman H. Foernges, do Fuss-Ball.
O Sr. Bolivar Bonini, da missão, atuará de lineman, por parte dos uruguaios.
Fonte: A Federação (RS), 21/09/1916, ano 1916, n. 219, p. 10. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/388653/35033. Acesso em: 23 ago. 2023.

AMISTOSO - INTERNACIONAL 0 X 4 URUGUAI
Data: 21/09/1916
Local: Chácara dos Eucaliptos - Porto Alegre (RS)
Juiz: Theobaldo Foernges
Gols: Behregaray ?'/1 (U); Beheregaray ?'/1 (U); Pereira I ?'/2 (U); Maisonave ?'/2 (U).
INTERNACIONAL: Silva; Acácio e Simão; Mário Cunha, Ribas e Bitú; Francisco Vares, Miller, Bendionda, Oswaldo e Túlio.
URUGUAI: Magariños; Artigas e Pereira II; Allen, Bértola e Lavalleja; Castilla, Behregaray, Maisonave, Pereira I e Altamirano.
Obs: o jogo fez parte de uma Missão Esportiva Uruguaia ao Rio Grande do Sul, de vários esportes, entre eles natação, esgrima, atletismo, vôlei.

O "SCRATCH" URUGUAIO VENCE POR 4 GOLS A 0 O TEAM DO INTERNACIONAL
Para nós e os conhecedores do foot-ball que avaliaram a enorme responsabilidade imposta pelo quadro do Grêmio ao scratch uruguaio, no encontro de domingo passado, não foi surpresa a derrota, anteontem, sofrida pela equipe do Internacional.
Os representantes da Federación Deportiva del Uruguay não viam, certamente, de excursionar a Porto Alegre com a anuência do governo da República do Prata, para repetir, quatro dias após, o fracasso com que se estrearam nesta capital.
E, foi mesmo esperado uma atuação condigna com os honrosos títulos de campeões nacionais, conferidos pelo executivo uruguaio a quase todos os componentes da missão esportiva que, propositalmente; nos obstivemos de emitir juízo sobre o valor dos nossos visitantes.
Já no encontro Scratch-Grêmio ficamos, de sobejo, conhecendo que o team uruguaio, apesar de vencido pelo score de 2 a 1, tinha jogo superior ao dos Moinhos de Vento.
E, como é sabido, várias foram as causas que contribuíram para iniciar com explêndida vitória dos locais, a semana esportiva a que estamos assistindo.
Refeitos da viagem, conhecedores do nosso público e favorecidos por uma temperatura mais agradável que a de domingo passado, os foot-ballers uruguaios conseguiram vencendo o Internacional, atenuar a desfavorável impressão que entre nóss produziu a sua premiére.
E para apreciar o encontro sensacional disputado pelos representantes da Federación Deportiva del Uruguay e os pioneiros da Federação Sportiva Rio Grandense, uma multidão ansiosa afluiu à Chácara dos Eucaliptos.
Ocupando os pavilhões e bancadas, ou ainda de encosto à amuradla que contorna o ground, as nossas gentis patrícias com singelas e elegantes toilettes de verão, davam a impressão de lindos bouquets de flores ali disseminados para dar ao recinto aquele aspecto agradável e atraente que elas gentilmente lhe emprestaram.
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O encontro estava marcado par ter início às 15 horas, mas  somente às 16 e 30 os sportsmen uruguaios chefiados pelo illustre Sr. Gigliani chegaram à Chácara dos Eucaliptos.
No portão de entrada foram eles recebidos pelos representantes da F. S. R. G. e do S. C. Internacional, que os acompanhara até o pavilhão central, sendo então, saudados pela numerosa assistência com cerradas palmas.
Na escolha do gol coube aos locais o do lado do poente, estando os dois quadros assim organizados:
Scrateh Uruguaio
Magariños
Artigas - Pereira II
Allen - Bértola - Lavalleja
Castilla - Beheregaray - Pereira I - Maisonave - Altamirano

Vares - Müller - Bendionda - Oswaldo - Túlio
Bitú - Ribas - M. Cunha
Travassos - Simão
Silva
Internacional
Batido o kick-off por Pereira I, a linha uruguaia vai ao domínio dos Iocais, onde nada consegue, após algumas escaramuças.
Respondem os alvi-rubros essa ofensiva, mas os ataques são frustados, o que dá margem a uma avançada ao gol de Silva.
Proseguindo o jogo, concedem os visitantes a primeira corner chutada, sem proveito para o Internacional.
Vai a bola até o triângulo da defesa local; atuam porfiadamente os uruguaios até que, dum passe, Beheregaray se apodera da bola, mandando-a em shoot fraco no canto esquerdo do goal defendido por Silva.
Muitas palmas e vivas saudaram o scorer do dia, seguindo-se, incontinente uma carga do quinteto alvi-rubro.
Bendionda, na área de pênalti manda a bolsa com tiro forte e de efeito ao gol do scratch, obrigando Magariños a intervir rapidamente, anulando a investida dos adversários.
Pouco depois, ao gol de Silva são enviados, espaçadamente, três fortes shoots por Castilla, Pereira e Maisonave, em cujas defesas esteve admirável o goal-keeper do Internacional.
Mas, passados vários minutos, Castilla bate uma corner passando a pelota a Beheregaray.
Este, muito bem colocado na ala esquerda, arremata a combinação burlando a vigilância de Silva, e obtendo, assim, o seguinte resultado, com que logo após terminou o half-time:
Uruguaios - 2 gols
Internacional - 0 gol
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Ao começar o segundo peróodo da pugna queriam os uruguaios que o referee fosse substituído.
A isso se opuseram os locais e, decorridos quase 20 minutos de intervalo, recomeçou a Iuta.
Os primeiros ataques da linha internacionalista deixavam prever que os locais igualariam a vantagem conseguida pelos contrários.
Tal não aconteceu e os uruguaios distanciaram-se ainda mais.
O jogo continuou, não obstante, igualmente distribuído dando que fazer ora às defesans dum team, ora as d'outro, originadas pelas atuações das linhas de forwards.
Mas, numa carga dos uruguaios, Castilla envia uma exceltente centrada à Pereira I.
Este emenda o passe, de que resulta mais um gol para os visitantes.
O jogo continuava com seus lances interessantes, dando ensejo a que se apreciassem os perigosos ataques de Castilla e Maisonave, magistralmente rebatidos por Silva.
Já se fazia noite e faltavam somente 15 minutos para terminar o match quando, enviada por Castilla, Maisonave fica senhor da bola.
Aproveita a ocasião, marcando o último gol do dia.
Momentos depois é batido um free-kick junto à area de pênalti do scratch, obrigando Magariños a uma brilhante defesa.
É atirada pelos locais uma corner infrutífera, foi a bola no centro do campo, ouvindo-se, então, o apito do referee dando por terminado o sensacional encontro com o score abaixo:
Uruguaios - 4 gols
Internacional - 0
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Muito bem andou o capitão uruguaio nas várias modificações por que fez passar o quadro sob seu comando.
Os visitantes atuaram anteontem, admiravelmente, mostrando que estavam eles no firme propósito e tirar a revanche, conseguida com brilhantismo.
Magariños, Artigas e Pereira de nada deixaram a desejar na defesa da fortaleza uruguaia.
Allen, que foi escalado para marcar o forward da extrema contrária, desempenhou-se cabalmente da missão de que o incumbiram atuando, também do mesmo modo, seu companheiro Lavalleja.
Bértola foi um excelente pivot da linha média, onde trabalhou com energia excessiva, pois, mais duma vez, foi punido com free-kicks por prender, ilegalmente, os contrários.
A ala esquerda formada por Altamirano e Maisonave contribuiu eficazmente para a vitória do scratch visitante, com suas preciosas combinações e centradas.
Castilla, a quem nos referimos, especialmente, por ocasião do encontro de domingo, é incontestavelmante a primeira figura do quadro da Federación Deportiva de Uruguay.
É perito na prática do dribling, burlando com maestria os adversários e pretendem obstar suas avançadas rápidas e perigosas.
Pereira I e Beheregaray secundaram-no criteriosamente; e foram os três que, com belas combinações, provocaram os prodígios de Silva.
Os uruguaios jogaram muito bem, mas, ainda assim, não os vimos agir com a necessária coesão que seria de esperar dum Scrateh representativo da Federación Deportiva del Uruguay.
As linhas de defesa e ataque operaram combinadamente, com muita coesão, empregando passes curtos e rasteiros, bem como aproveitando os inúmeros recursos de que seus players são conhecedores do jogo do association.
O team do Internacional andou, anteontem, de mão dada com a infelicidade.
Antes de qualquer apreciação, é justo salientar a impecável atuação de Silva, cujas extraordinárias defesas arrancaram, da multidão, longas e entusiásticas ovações.
O conhecido back Simão não atuou como o hemos apreciado noutras pugnas.
Esteve algumas vezes indeciso, devido talvez à sua responsabilidade de capitão e receoso de seu companheiro da esquerda, o qual, apesar de ser um elemento de 2º team, esforçou-se valorosamente.
Da linha média destacou-se Ribas, que apresantou seu jogo de sempre, firme e enérgico, interceptando, continuamente, os ataques dos adversarios.
O quinteto da vanguarda, marcados Vares e Túllio, não fez quase nada, exceptuando Ostwaldo, que por vezes pôs Magariños em apuros.
Mas não vimos a linha de forwards do Internacional fazer as belas combinações de que usa com tanto acerto, parecendo-nos que muito influiu para isso o visível abatimento em que se encontrava Bendionda.
E foi assim que os uruguaios, agindo quinta-feira com rara felicidade, conseguiram derrotar a equipe do Internacional, que pareceu haver esquecido os seus conhecimentos do association para enfrentar o scrateh representante da  Federación Deporetiva del Uruguay.
Fonte: A Federação (RS), 23/09/1916, ano 1916, n. 221, p. 5. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/388653/35048. Acesso em: 23 ago. 2023

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