Internacional e Bagé desentendem-se na escolha do juiz
INDICADO PELA F. R. G. D. OTTO PEDRO BUMBEL
O cotejo de hoje entre Internacional e Grêmio Esportivo Bagé, pela segunda partida da série "melhor de tres" do Campeonato Estadual de Futebol, quase provocou um sério impasse.
Por um triz que o jalde negro não toma uma resolução extrema, abandonando o certame máximo da FRGD, em face do que se passou para a indicação do árbitro.
48 horas antes da partida, os interessados se reuniram para a escolha do nome do juiz. O clube da "pedra moura" num dos cafés da rua dos Andradas, se fez representar pelos seus técnicos: Omar Saraiva e Henrique Acosta Torres, que se avistaram com Orlando Cavedini e Carlos Dilorenzi, preparadores do "rolo compressor".
Os locais indicaram, desde logo, o nome de Alfredo Cezaro, como o unico capaz de arcar com esta responsabilidade. Os visitantes recusaram Alfredo Cezaro, queixando-se mesmo de sua última atuação, classificada como fraca nos impedimentos e na repressão da violência, tanto recomendada pelos paredros do Bagé.
Contrapuseram, os técnicos bageenses o nome de Natal Maineri, por conhecerem a sua atuação quando jogaram com o Força e Luz, na última excursão realizada a esta capital. Natal não serviu. Surgiu, de parte de Arnoldo Silva, secretário da FRGD, que assistia as demarches, a sugestão de Antônio Penteado, técnico do Bancário, de Pelotas.
Os rubros concordaram. Infelizmente, Penteado não aceitou, por estar com viagem marcada para Jaguarão.
Não houve forma de acertarem um nome. Marcaram nova reunião para sexta-feira às 17 horas, na FRGD. Com grande surpresa dos bageenses, os colorados não se fizeram representar, cabendo, então á "máxima" apontar o árbitro para o jogo.
Nesta conformidade, ontem, a entidade da rua Siqueira de Campos comunicou à chefia da embaixada dos campeões da "Rainha da Fronteira", ter indicado o dsportista Otto Pedro Bumbel.
Este nome era esperado, pois circulavam rumores desde 6ª-feira, logo que foi conhecida a atitude dos colorados, não comparecendo a FRGD, que o árbitro a ser apontado, seria fatalmente o "referee" de Novo Hamburgo.
Não escondem os bageenses a sua desconformidade com o que se passou. Pretendiam até desistir do campeonato. Mas, a ponderação de alguns mentores prevaleceu e o Grêmio Esportivo Bagé, fiel ao seu passado desportivo e às suas tradições, irá ao "tapete verde" da Timbaúva, na certeza de que Bumbel, empunhando o apito, tudo envidará para que não paire sobre sua atuação de hoje a menor sombra de dúvida, desde que correm rumores insistentes de que s. s. tem pendores para o clube campeão da cidade.
Esperam os dirigentes do jalde negro que o juiz puna com severidade e energia a violência, principalmente em relação a certos jogadores que costumam se hostilizar na cancha, em virtude de velhas desinteligências.
Em face dos acontecimentos desenrolados nos bastidores da embaixada jalde negra, o árbitro Otto Pedro Bumbel terá hoje uma verdadeira prova de fogo.
Fonte: Diário de Notícias (RS), n. 253, 24 nov. 1940, p. 16. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/093726_02/3555. Acesso em: 18 jun. 2025.
SE O INTERNACIONAL VENCER HOJE O GRÊMIO BAGÉ, SERÁ O CAMPEÃO DO ESTADO, DE 1941
Esse grande e esperado embate futebolístico será iniciado às 16,30 horas, no estádio da Timbaúva — Otto Bumbel é o árbitro indicado pela F. R. G. D.
Aproxima-se de seu fim o campeonato estadual de futebol do corrente ano, dirigido pela Federacão Rio Grandense de Desportos, que diga-se de passagem, é a unica entidade no país que faz disputar um certame estadual de futebol. O campeonato estadual deste ano foi, indiscutivelmente, um dos mais brilhantes dos últimos anos, graças à organização que lhe imprimiu a atual direção da entidade maxima, bem orientada pelo destacado desportista Cícero Ahrends, que tem no dinâmico secretário Miguel Lardiez seu mais eficiente colaborador.
Para hoje está marcada a segunda da "Melhor de Três" entre os fortes quadros do Internacional, campeão local e do nordeste e do Grêmio Bagé, campeão da cidade de Bagé e da zona fronteira. O primeiro jogo disputado terça-feira última terminou com a merecida vitória do campeão local, que abateu o seu perigoso adversário pela contagem de 4 a 1.
Os bageenses não se conformaram com o revés sofrido e afirmam que hoje terão uma reabilitação integral frente ao seu mesmo adversário, que reputam possuidor de um conjunto respeitável. A luta que hoje se vai travar no estádio da Timbauva está fadada a constituir o maior acontecimento desportivo do ano e por isso mesmo foi incluída no programa oficial dos festejos desportivos do Bicentenário.
Para o Internacional, é de capital importância, pois uma vitória representará a conquista do honroso e ambicionado titulo de campeão de futebol do Estado. Os rubros na rodada de hoje não terão o concurso eficiente do técnico e experimentado zagueiro Risada, que contundiu-se no decorrer do jogo de terça-feira contra esses mesmos adversários contudo, porém, com o exímio ponta-esquerda Carlitos, que já se encontra reabilitado da contusão recebida no jogo com o Rio Grandense. O quadro visitante será o mesmo que enfrentou terça-feira Internacional, com Santana no comando do ataque. Essa rodada para os bageenses, de grande responsabilidade, pois uma derrota significa a perda do cetro de campeão, que os bageenses tanto almejam. Se o clube de José Soares Sobrinho vencer ou empatar o prélio de hoje, teremos a terceira da "Melhor de Três". Por todo o embate de hoje é deveras interessante e levará, por certo, uma grande assistência ao estádio da Timbaúva.
HORÁRIO
A preliminar entre os quadros da Rádio Difusora e da Rádio Farroupilha será iniciada às 14,30 horas e o jogo principal entre o Bagé e o Internacional começará às 16,30 horas.
PREÇO DAS ENTRADAS
Para o grande jogo de hoje vigorará a seguinte tabela de preços:
Cadeiras: 10$ — Pavilhão, 5$ — Gerais: 4$ — Meio, Pavilhão: 3$ — Meia Geral: 2$.
OS QUADROS
Os quadros contendores apresentar-se-ão, hoje, assim constituídos:
INTERNACIONAL — Júlio — Álvaro — Alfeu — Assis — Magno — Pedrinho — Tesourinha — Russo — Marques — Rui — Carlitos.
BAGÉ — Veliz — Jorge e Ganchinho — Laerte — Macedo e Ripalda — Rodrigues — Fierro — Santana — Rubilar e Tupan.
NOTA DO INTERNACIONAL
Para o match de hoje com o nosso coirmão G. E. Bagé, em disputa do campeonato estadual do corrente ano, a direção de campo do Internacional convoca os jogadores abaixo, que deverão estar às 15,30 horas, em nosso campo, a fim de se fardarem e seguirem para o campo do G. S. Força e Luz, aonde se ferirá a luta, às 16,30 horas:
Júlio — Marcelo — Alfeu — Álvaro — Pedrinho — Magno — Nenê — Levi — Carlitos — Rui — Russinho — Toreli - Marques — Castillo — Tesourinha e Moacir.
NOTA DA F. R. G. D.
Para o segundo jogo da série de "Melhor de três" entre os finalistas do Campeonato Estadual S. C. Internacional e Gremio E. Bagé, a realizar-se domingo 24 do corrente, a Federacão Rio Grandense de Desportos tomou as seguintes deliberações:
Direção Geral: sr. Cícero Ahrends, presidente da F. R. G. D.
Fiscal do jogo, dr. Remi Gorga;
Cronometrista, Miguel Genta;
Representante junto aos clubes, Arnoldo Silva;
Representante junto à imprensa, Alencar Bueno;
Comissão de recepção, Oscar Denovaro e Mario Pereira;
Comissão de Portões, Carlos Ruschel, Miguel Lardies, Vitor Mora e Léo Birnfeld.
PRELIMINAR ÀS 14,30 HORAS
DIFUSORA versus FARROUPILHA.
Em disputa de um Taça oferecida pela F. R. G. D.
JUIZ: Natal Maineri.
Jogo principal às 16,30 horas — S. C. INTERNACIONAL versus GREMIO E. BAGÉ.
Preços: — Cadeira, 10$; Pavilhão, 5$; Geral, 4$; Meia Pavilhão, 3$; Meia Geral, 2$. Somente terão direito a meia entrada senhoras colegiais fardados e militares sem graduação.
Fonte: Diário de Notícias (RS), n. 253, 24 nov. 1940, p. 16. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/093726_02/3555. Acesso em: 18 jun. 2025.
CAMPEONATO GAÚCHO 1940 - FASE FINAL - FINAL - 2º JOGO - INTERNACIONAL 2 X 1 BAGÉ
Data: 24/11/1940
Local: Timbaúva - Porto Alegre (RS)
Renda: 15:000$000
Juiz: Otto Pedro Bumbel
Gols: Ruy Motorzinho 1’/1 (I); Tupan 33’/1 (B); Russinho 43/1 (I).
INTERNACIONAL: Júlio Petersen; Álvaro e Alfeu; Assis (Levi), Felix Magno e Pedrinho; Tesourinha, Russinho, Marques, Ruy Motorzinho e Castillo (Carlitos). Técnico: Orlando Cavedini.
BAGÉ: Veliz; Jorge e Gauchinho; Laerte Cunha, Macedo e Ripalda; Ballejo (Rosa), Fierro, Tupan (Santana), Rubilar e Rodrigues. Técnico: Omar Saraiva.
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"Uma fase do jogo: Tupan, o “bailarino”, numa atitude que confirma seu apelido. Na expectativa, Álvaro à esquerda e Magno à direita". Fonte: Sport Illustrado (RJ) |
SEM SENTIDO NOS ARREMATES, O BAGÉ CEDEU, OUTRA VEZ, PARA OS RUBROS: DOIS A UM!
Os bageenses reacionaram bem na etapa complementar, sem concretizar gols
Está definido o campeonato estadual de futebol de 1940. O valoroso Sport Club Internacional é o detentor do título maximo pela terceira vez em sua vida. Bem merecida a conquista, pois os "diabos rubros" se apresentaram com apreciável regularidade e souberam construir magnífica vitória, que encheu de jubilo a grande família colorada. Prevaleceu o esforço, o denodo e a dedicação dos jogadores e dos treinadores.
O êxito de domingo último, frente ao forte conjunto do Grêmio Esportivo Bagé, merece alguns reparos. Os 90 minutos foram disputadíssimos.
Agindo com mais intuição e visão das redes, o "rolo compressor" encontrou o caminho da vitória. A reação dos jalde negros, dispostos a vender caríssimo a derrota, como de fato aconteceu, encontrou boa resistência na defesa dos locais. Sem contar com o bafejo da sorte, em certos momentos, o time bageense não teve a felicidade desejada. Em compensação, os fronteiristas fizeram a torcida vibrar.
Perseguidos pelos maus fados em três ou quatro lances, tiveram também a falta de sentido nos arremates. A chance é parte integrante dos embates, logo devem prevalecer as qualidades táticas e técnicas. Apesar de exercer pressão no período complementar, o Gremio Bagé não foi hábil nas conclusões, além disso os pontas voltaram a decepcionar. O balanço geral das forças e das possibilidades traduzia-se na contagem, daí a vitória do campeão da cidade por 2x1.
Embora abatido, o XI de Henrique Torres, João Gonçalves e Omar Saraiva, impressionou favoravelmente. Reabilitou-se daquela atuação inicial, bastante acanhada, por aparentarem seus jogadores uma falta de fibra evidente. Anteontem, eles combateram ativamente, atacando de rijo e rechaçando com energia. Bem mereciam, pela reação e brio demonstrados, o empate. Mas o futebol, apesar de caprichoso, não admite pieguices. Vence-se fazendo gols, o que não fez a vanguarda comandada por Tupã. Dois momentos foram frustrados por Alfeu e duas outras oportunidades Rubilar "cochilou", atirando desviado. Os colorados também não aproveitaram dois ensejos formidáveis. Castillo terminou de modo defeituoso e Tesourinha fez funcionar o travessão espetacularmente.
Estes detalhes e outras fases trouxeram o numeroso público em constante interesse. Não houve deserção da torcida. Os tres tentos do primeiro tempo traduziam uma diferença mínima. O empate estava permanentemente na iminência de ocorrer. Nesta expectativa, a qualquer instante, podia verificar-se o equilíbrio quando menos se esperasse.
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A tática não foi perfeita, aliás, é uma coisa raríssima nas equipes gaúchas. Entretanto, a pugna satisfez aos torcedores pela sua intensidade e toada emocionante.
A ação coletiva nos primeiros 45 minutos esteve equilibrada, revezando-se as cargas. Mais penetrante e oportunista, o time da "Chácara dos Eucaliptos" converteu os dois "momentos supremos", garantindo o êxito. A etapa complementar caracterizou-se pela forte reação dos visitantes, que nada colheram de prático. Ora o azar os perseguia e a falta de "bombardeadores" conspirava contra o objetivo tão ansiado.
Um "tento relâmpago" foi proporcionado por Rui e Veliz, no segundo minuto da peleja, ao escorar umn centro de Tesourinha, que venceu a Ganchinho. Tanto cuidado dispensavam os fronteiristas à ala direita dos rubros e justamente esta decreta a abertura do escore!
Cheios de ânimo, os rapazes da "pedra moura" contra-atacaram e Júlio entra em ação. Logo após o arqueiro colorado evita a entrada de Tupã, desarmando o comandante "colored", que teve um bom desempenho na jornada de anteontem.
Veliz evita um chute de Rui e Júlio brilha num tiro de Tupã. Álvaro se destaca na zaga, neutralizando Rodriguez, muito moroso. Um momento crítico para Júlio é salvo por Alfeu, aos 19 minutos. Rodriguez endereçara às redes, surgindo o companheiro de Álvaro. Acentua-se a pressão dos bageenses, por diversos minutos. Uma jogada perigosa (sola) de Magno dentro da área não é aproveitada por Ballejo, aos 24'. Marques obriga Veliz a pegar com firmeza. Tupã atira e Júlio comete ótima intervenção, evitando que Fierro se apossasse do couro e fizesse estrago... Durante 5 minutos (dos 20 a 25) o Bagé controla melhor e trabalha com superioridade. Só aos 33 minutos é que surge o empate, depois de Tesourinha ter proporcionado tremendo susto aos bageenses, ao fazer o balão "beijar" o travessão.
O tento do empate nasceu de um centro de Ballejo, que Tupã cabeceou com maestria. Teve duração efêmera o empate. Uma investida fulminante colocou o campeão da cidade, novamente, em vantagem. Laerte tocou o couro, próximo da linha média. Castillo executou o tiro livre, para Marques cabecear. Russinho secundou o lance e burlou a vigilância de Veliz, em alto estilo: 2x1, aos 34 minutos de luta. Estava construído o placar da vitória.
Falha Ganchinho e Veliz corrige. O arqueiro faz boas pegadas. Magno se contunde num encontro com Rubilar, abandonando o campo. O juiz tira, momentaneamente, o meia uruguaio de campo. Os técnicos colorados fazem entrar Levi, que ocupa a posição de médio direito. Assis vai para o "eixo". Poucos minutos teve Levi para atuar, fazendo-o com correção. No segundo tempo, Magno reaparece, saindo Levi. Nos últimos minutos, Castillo perde magnífico ensejo. Tesoura centrou atrasado. Marques emenda e Veliz defende parcialmente. Castillo avança, mas finaliza defeituosamente, nas nuvens... Júlio apara um tiro de Ballejo. Álvaro impede outra investida jalde negra. Ataca a ala direita local. Tesoura centra, Russinho cabeceia e Veliz se exibe, terminando a primeira fase. Veliz discute com o árbitro, que se mostra enérgico e ameaça o goleiro de expulsão.
O periodo complementar não registrou nenhum contraste. Os 2x1 permanececam até soar o apito do cronometrista. É de justica ressaltar, mais uma vez, a perseverança das investidas do Grêmio Bagé, que demonstrou melhor controle que os colorados. Nada lograram pelo excesso de tramas dos dois meias e pela ineficiência dos "wingers".
De início, Júlio sensacionalizou neutralizando um estouro de Rodriguez. Depois de um foul de Marques em Veliz, descem os jalde negros e Rubilar desperdiça uma grande oportunidade aos 49 minutos.
Um toque de Pedrinho sobre o risco é mal batido por Ballejo, muito infeliz neste período. O tempo vai se escoando. Aos 69 minutos do segundo tempo Santana entra para o centro, indo Tupã para a ponta em lugar de Rosa, que nada fazia. O Internacional faz entrar Castillo, aos 85 minutos. No último minuto, um escanteio contra os locais, mas não há tempo para ser batido.
O Internacienal se sagrou, justamente, campeão absoluto do Estado.
Internacional: 2 — Gremio Bagé: 1.
Renda: 17:100$000.
Árbitro: Otto Pedro Bumbel — bom.
Os quadros:
INTERNACIONAL — Júlio — Álvaro e Alfeu — Assis (Levi) — Magno (Assis) — Pedrinho — Tesourinha — Russinho — Marques — Rui — Castilhos (Carlitos).
GRÊMIO BAGÉ — Veliz — Jorge e Ganchinho — Larreti — Macedo — Ripalda — Ballejo (Rosa e Tupã) — Fierro — Tupã (Santana) — Rubilar e Rodriguez.
Os melhores: Laerte — Tesourinha — Rui — Álvaro — Pedrinho — Veliz e Júlio.
Índices: técnico 1 para cada um; disciplinar 4 para o Bagé devido à atitude de Veliz e 5 para o Internacional.
— Na preliminar a Rádio Farroupilha abateu a Rádio Difusora por 3x2.
Ao finalizar o jogo, a torcida colorada festejou o brilhante feito dos seus craques campeões, atirando serpentinas e confetes nos jogadores.
Fonte: Diário de Notícias (RS), n. 255, 26 nov. 1940, p. 9. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/093726_02/3576. Acesso em: 18 jun. 2025.
O MELHOR JOGO DE PORTO ALEGRE
DECISÃO DO CAMPEONATO ESTADUAL NA 2ª “MELHOR DE TRÊS”
Decidindo o campeonato do Estado, encontraram-se na segunda partida da "melhor de três" o Grêmio Bagé e o Internacional, no estádio da Timbaúva. Numa partida como há muito não assistíamos, os dois valorosos rivais lutaram equilibradamente.
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A partida foi favorável aos locais, como o poderia ter sido para os visitantes, principalmente na segunda fase, quando estes procuraram reagir, para empatar o prélio, o que não conseguiram dada a falta de chance e devido à má pontaria de seus artilheiros; em outras ocasiões encontraram obstáculo firme na defesa rubra, num grande dia.
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O Bagé apresentou-se, por vezes, superior ao seu antagonista, mas falhando nos arremessos decisivos. Suas investidas eram preferencialmente feitas entre os dois meias, Rubilar e Fierro, que se entendem e têm dominio sobre a bola. Seu ponto fraco foi justamente os extremas, onde se fez sentir a falta de Sapiran, veloz e goleador, que atualmente está num dos clubes de Buenos Aires. Os que serviram de substituto não agradaram. No centro do ataque, somente no segundo tempo, apareceu Tupan, que antes estava na ponta esquerda sem grande destaque. Este nosso conhecido apresentou-se em perfeita forma, como centrovante. Já em outros jogos os técnicos da missão visitante incidiram na mesma falta: deslocação do "bailarino" para as alas, quando no centro sua produção é muito maior e mais rendosa.
Na defesa, com excepção de Ripalda, num plano secundário, todos estiveram bons, principalmente Cabeça D'Água, que demonstrou suas verdadeiras qualidades de centro-médio. Atuou a contento, defendendo e auxiliando o ataque sempre que possível, como se fosse um sexto atacante. Laerte secundou-o brilhantemente, dando conta da tarefa de marcar a ala esquerda, que não apareceu muito... Os zagueiros, se bem que despejando em ocasiões que poderiam travar e passar a bola, suportaram o asédio local, conseguindo a paralisação do marcador somente nos dois pontos.
Veliz, o arqueiro, apagou a impressão do "frango" que engoliu na última partida, mas deixou outra; ele mostrou-se muito irritado contra as observações que o árbitro lhe fazia. Sua atuação foi perfeita, defendendo bolas difíceis. Os dois gols que entraram eram indefensáveis.
Em conjunto, os visitantes apresentaram melhor jogo, mas falharam no arremate, o que lhes ocasionou a derrota e consequente perda do título de campeão do Estado, obtido no ano de 1938 (em 1939 ficou com o Rio Grandense).
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O team campeão não esteve muito à altura do título, em conjunto. Seus componentes atiraram-se individualmente com disposição impossível de ser contida facilmente e obtiveram o triunfo porque aproveitaram todo o esforço dispendido. Esse aproveitamento resumiu-se em tiros à meta, transformados em gols duas vezes.
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Destacou-se do bando rubro, como a primeira figura dos 22 homens em campo, o jovem Tesourinha, que fez uma de suas melhores partidas nos gramados da cidade. Sempre perigoso, invadindo a área constantemente, esse jogador foi um espectáculo.
Castillo, no outro lado, não esteve num dia muito feliz, enquanto Carlitos, que o substituiu, surgiu um pouco fora de forma, mas ameaçador. Marques no centro, com especialidade no segundo período, ficou isolado, não podendo aparecer, uma vez que os meias baixaram para auxiliar a defesa assoberbada pelo assédio visitante, que no tempo final se mostrou mais constante.
Ruy e Russinho fizeram uma ligação não muita perfeita, mas agradaram, preferindo o jogo aberto, para a direita.
O trio médio não desmereceu, marcando com precisão, principalmente Magno, que fez boa partida. Assis e Pedrinho colaboraram nisso.
O triângulo final, constituído por Júlio, Álvaro e Alfeu, agiu bem, primando este por um destaque dos seus companheiros, pela forma excelente de atuar, com raros senões. Álvaro continua se firmando, de jogo para jogo, justificando sempre sua escalação para o posto no primeiro quadro. Júlio, no arco, praticou defesas de vulto, nos parecendo mais seguro e menos nervoso do que outras vezes.
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A contagem foi aberta pelos vencedores, por intermádio de Ruy, ao receber lindo centro de Tesourinha, logo no primeiro minuto de luta. A seguir, aos 35', os visitantes, que assediavam o arco confiado à pericia de Júlio, empatam o prélio, numa técnica cabeçada de Tupan, o "bailarino", que encaixou no cantinho, indefensavelmente, uma centrada de Ballejo. A alegria, porém, não dura muito, pois 60 segundos depois, numa investida pela esquerda, Pedrinho avança e cede a Marques, pelo ar. Este de cabeça dá a Russinho, que desvia para as redes, tambem de "coco". 2x1! Delírio da torcida internacionalista!
No segundo tempo a contagem não foi medificada, ficando favorável assim aos representantes da capital, que obtiveram com esta vitória a decisão do Campeonato Estadual.
Findo o tempo regulamentar, a torcida invadiu o gramado, enquanto lenços, flâmulas e serpentinas davam um aspecto festivo ao ambiente. Os jogadores foram levados em triunfo, numa justa demonstração dos "fans".
Atuou perfeitamente o sr. Otto Pedro Bumbel, de Novo Hamburgo, que mereceu elogios de todos. A renda atingiu a casa dos 25 contos de réis.
OS QUADROS
BAGÉ — Veliz; Jorge e Ganchinho; Laerte, Cabeça D'água e Ripalda; Ballejo (Tupan, posteriormente Rosa), Fierro, Tupan (Sant'Anna), Rubilar e Rodrigues.
INTERNACIONAL — Júlio; Álvaro e Alfeu; Assis, Magno e Pedrinho; Tesourinha, Russinho, Marques, Ruy e Castillo. Levy entrou no lugar de Assis, passando este para o centro da linha média, por ter Magno se lesionado, em seguida o "chave" retornou, tendo o quadro a mesma constituição inicial.
Fonte: RABELLO, Pythagoras. Sport Illustrado (RJ), n. 146, 23 jan. 1941, p. 29. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/182664/5827. Acesso em: 18 jun. 2025.