05/08/1917 - Citadino 1917 - 1º turno - Internacional 11 x 0 Americano-RS

CITADINO 1917 - 1º TURNO - INTERNACIONAL 11 X 0 AMERCIANO-RS
Data: 05/08/1917
Local: Chácara dos Eucaliptos - Porto Alegre (RS)
Juiz: Cícero Soares
Gols: Ribas [2], Túlio [2], Oswaldo [2], Bello, Mário Cunha, Miller, Guimarães e Lúcio Assumpção.
INTERNACIONAL: Danton; Bello e Fidélis;  Mário Cunha, Ribas e Simão; Túlio, Lúcio Assumpção, Oswaldo, Miller e Guimarães.
AMERICANO-RS: Ouriques; Santa Lúcia e Pavani; Nenê, Benetti e Joaquim; Walter, Zanella, Guedes, Nello e Cadete.

AMERICANO "VERSUS" INTERNACIONAL
Realizou-se ontem, na Chácara dos Eucaliptos, o match extra-programa Americano - Internaciolal, 1ºs teams, ansiosamente esperado pelo nosso mundo esportivo.
Como devem estar lembrados os nossos leitores, a premiere desse match no mês passado, deu como resultado o score favorável aos alvi-rubros de 1 a 0, terminando o encontro antes da hora regulamentar, a isto devido a irregularidades várias.
Levado o caso para o Conselho da Federacão Sportiva Rio Grandense, o S. C. Americano legitimamente pleiteou a anulação do match e a conseguiu.
Voltaram, então, a campo as duas equives a medir novamente suas forças.
Não bastassem outros motivos para uma assistência forte, o [...] com que o Americano clamou ao campo da luta o campeão porto-ainerbnse garantiria, certamente, o interesse com que foi assistido o encontro.
Inteligente, as coisas não correram de molde a justíficar a geral expectativa e, antes, tiveram uma solução nunca esperada, bem original.
Com efeito, chamados pelo juiz, Sr. Cícero Soares à hora marcada, dispusemse os dois teams e iniciaram o jogo:
Desde logo o Internacional acusou, flagrante superioridade sobre o adversário. Não eram passados dez minutos quando Bello, um center prometedor, marca em magnífico shoot o primeiro gol dos alvi-rubros.
O ataque comeca então a acentuar-se permitindo apenas defesas desesperadas do Americano, que perde, desde logo, a iniciativa do dogo, se bem que, uma e outra os escapada  tentassem esboçar uma sombra de ofensiva.
E, assim, por sete vezes a seguir o campeão golpeia a fundo gol do Americano que, justo é dizer, se defendeu do melhor modo que pôde. Há a registrar neste tempo um ligeiro atrito do público junto à rede do Americano, sem maiores consequências.
O público, então, aplaudia fortemente a equipe do Internacional muito homogênea e forte.
Feito o descanso regulamentar e trocados os campos, o juiz faz recomeçar o jogo.
Em poucos minutos apenas, a equipe alvi-rubra marca o seu 8º gol por intermédio de Oswaldo.
Com surpresa geral então notou o público que Honório Ouriques, a quem estava entregue a rede do Americano, mal tentou defender a arremetida do quinteto alvi-rubro: julgou-se, naturalmente, que no keepér se acentuasse a indisposição de que já derá mostras no final do priemiro tempo, em que jogou sem estímulo bastante desatento.
Reposta a bola no couros, uma nova e rápida carga dos rapazes do Internacional encontra apenas resistência nos halves e backs do Americano, pois o seu goalkeeper assiste de braços cruzados e imóvel à entrada da bola, rede adentro...
O público começa então, justamente, descontente, a reclamar e pedir a substituicão deste jogador em altos brados. Estabelece-se novamente, nas guarnições do ground nova confusão, sem maiores resultados.
Serenada a vozeria, um dos rapazes do Americano atendento, entretanto, os reclamos do povo coloca-se, cheio de decisão e coragem no lugar de Honorio Ourique, que merece bem o título de recebedor de gols, e não goal-keeper.
Aplausos prolongados acolhem o gesto firme e decidido deste moço empenhado em salvar da debacle ameaçadora e eminente, a sua equipe.
Mas assim não o compreendeu e permitiu o seu capitão, ou quem as suas funções fez, pois o destemido foot-baller foi arredado do posto difícil que escolhera espontaneamente com enorme surpresa e descontentamento do povo que enchia a Chácara dos Eucaliptos.
Recomeçado, entretanto, o jogo novamente, a bola toca a rede desta vez já sem a míninia defesa dos onze: de fato os rapazes do Americano não disputavam a pelota.
Em realidade, os onze a quem o Americano confiou a guarda do seu estandarte não levantaram as mãos no gesto muito conhecido, mas, lia-se-lhes nas faces desanimadas uma palavra mal contida:
- Kamerade! -
Afinal, a capitulação prenunciada efetuou-se os onze abandonaram o campo da luta sem atender às três chamadas  regulamentares.
Estava findo o match, o mais original dos que nos foi dado assistir nesta temporada infeliz.
O público justamente prorrompeu então em aplausos a valente equipe alvi-rubra.
O que nos falta saber agora é a solução que a F. S. Rio Grandense vai dar a este novo caso que o Americano provoca no seu seio e para o qual não achamos, de pronto, classificação.
Com efeito, nada faltou para caracterizar a sua incorreção: desrespeito ao leal adversário que lhe levantou a luva abandonando o campo da luta antes de terminada a pugna, desrespeito à Federação que patrocinou o encontro, cujo produto seria em seu benefício, desrespeito ao numeroso público que participou da festa e mais que afagou e, finalmente, desrespeito aos próprios ideais que defendem que é fazer do sportman um cavalheiro, um homem de energia, virilizando-lhe a vontade na vitória e na adversidade.
Certamente, e isto espera-o o mundo esportivo porto-alegrense., a F. S. Rio Grandense saberá punir com mão forte o infrator de ontem com a mesma energia com que acautelou os interesses do nosso foot-ball, quando elementos estrangeiros e profanos tentaram nelé imiscuir-se e assim sustentará, com apuro e coerência a alta linha de moralidade e correção que vem mantendo sobre o aplauso de todos.
Fonte: A Federação (RS), 06/08/1917, ano 1917, n. 181, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/388653/36998

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